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Sinopse

Tentando reatar o relacionamento com seu ex-noivo, Mira manda inúmeras mensagens para o seu celular antigo. No entanto, ela não sabia que o número foi transferido para um homem, prontamente cativado por sua sinceridade.

Crítica

Chega a ser curioso o fato da cantora franco-canadense Céline Dion ainda não ter lançado uma compilação de sucessos de sua carreira composta apenas por canções presentes em trilhas sonoras de longas feitos em Hollywood. São diversas as suas colaborações com o audiovisual, uma relação tão próxima a ponto de torná-la figura frequente na festa do Oscar (Beauty and the Beast, tema de A Bela e a Fera, 1991; Because you Loved Me, de Íntimo e Pessoal, 1996; e a indefectível My Heart Will Go On, de Titanic, 1997, são apenas algumas das mais conhecidas). Talvez por isso mesmo, o que cause espanto de fato é ela ter demorado tanto para estrear como atriz, algo que muitas das suas colegas de canto tem feito com aparente tranquilidade ao longo dos anos (de Barbra Streisand à Madonna, de Diana Ross à Whitney Houston, de Beyonce à Mariah Carey, de Lady Gaga à Taylor Swift). É provável que essa demora, interrompida com esse O Amor Mandou Mensagem, fosse devida a alguma insegurança da artista quanto a essa nova função. Se for o caso, bem, ela estava certa: tivesse ficado centrada apenas na parte musical, com certeza o resultado – ao menos no que lhe diz respeito – teria sido mais positivo.

Não que a culpa pelo sentimento de frustração e previsibilidade gerado diante de uma sessão deste filme do diretor e roteirista Jim Strouse seja responsabilidade única de Dion – longe disso, aliás. Trata-se de um elo fraco, sim, mas ao menos está em uma zona segura – ciente de suas limitações, aceitou interpretar uma personagem que conhece bem: ou seja, ela mesma. E sua presença está restrita ao papel de cupido para o casal formado por duas figuras de origens bastante distintas que ainda precisam se provar válidos diante de um público maior: Sam Heughan, conhecido basicamente como herói da série Outlander (2014-2023), e Priyanka Chopra, um nome imensamente popular em Bollywood (na Índia, sua terra natal), mas que no Ocidente, além de participações em títulos que prometiam mais do que foram capazes de cumprir, como Baywatch: S.O.S. Malibu (2017) e Matrix Resurrections (2021), tem como maior feito ter agregado o sobrenome do marido ao seu – é esposa do também cantor e ator Nick Jonas, um dos Jonas Brothers (que faz uma participação especial por aqui que não é nem de longe tão engraçada quanto se poderia esperar).

Um dos primeiros trabalhos de Strouse a despertar alguma atenção foi o drama A Vida Sem Grace (2007), que tinha no luto o seu tema principal. Pois em O Amor Mandou Mensagem ele parte do mesmo ponto. Mira (Chopra) é uma desenhista que acabou de perder em um acidente de trânsito o noivo, e está há dois anos estagnada, sem ânimo para conhecer novas pessoas e nem disposição para qualquer tipo de relacionamento além daquele que tem com o cobertor e seu sofá. Nesses momentos de depressão, o único conforto que encontra é se comunicando com o namorado já falecido, e assim o faz mandando mensagens para o seu número de telefone. O que desconhece é que este não foi desabilitado por completo, e agora pertence ao jornalista e crítico musical Rob Burns (Heughan), que começa a receber essas estranhas mensagens sem saber quem as está enviando. O que poderia ser resolvido de modo bastante simples – bastaria ele bloquear o remetente misterioso, ou, caso a curiosidade fosse maior, ligar em retorno e desfazer a confusão – acaba por se desenrolar de modo muito além do que qualquer um poderia considerar razoável, até os dois se conhecerem e – veja só que surpresa! – se apaixonarem um pelo outro.

Uma vez transitando por um cenário repleto de implausibilidades e estranhas coincidências, não deveria ser motivo de questionamento a função de uma megaestrela pop como Céline Dion nessa equação. Sabendo-se disso, sua inserção entre o casal prestes a se consolidar se dará do modo mais gratuito e improvável possível. Rob é enviado para entrevistá-la, e ao invés de um encontro burocrático e protocolar – como acontece em 10 entre 10 casos como esse – os dois acabam esquecendo a pauta dele (e as intenções dela em divulgar um novo show) para discutir dúvidas mais filosóficas a respeito da vida amorosa dele e sobre o quanto ela acredita ou não no amor como elemento transformador na vida de uma pessoa. E se isso não fosse o bastante, ao tomar conhecimento do trabalho da garota pela qual o rapaz está apaixonado, Dion decide deixar de lado qualquer razão para convidá-la a criar os cenários de sua próxima apresentação, como se tal tarefa fosse tão simples quanto ilustrar a trajetória de uma lagarta em borboleta em um livro infantil. Como se vê, ninguém por aqui está muito preocupado com verossimilhança ou credibilidade.

Depois de anos bancando o galã descamisado em aventuras românticas, Heughan não consegue disfarçar o quão inadequado soa em um ambiente contemporâneo, se portando como se estivesse aprisionado debaixo de casacos pesados e impulsos banais, como marcar um café e desfazer um mal entendido. Sim, pois há isso ainda: ele hesita em revelar o motivo que o levou a se aproximar dela, uma mentira que, por não ser tratada de imediato, acabará por adquirir uma proporção fora do controle. E assim, em nome de um inevitável final feliz, mais uma vez será a mulher que terá que fazer concessões e aceitar as falhas masculinas – melhor seria perceber o quão tóxica uma relação que começa desse jeito pode se tornar e partir para outra. Sem falar que Pryianka Chopra – a única que parece ao menos estar à vontade em cena – tem talento de sobra para esse tipo de pretendente – e de filme. O Amor Mandou Mensagem resvala por caminhos há muito conhecidos e desgastados, e ainda por cima esquece de avisar o mais importante: são muitas as intenções reunidas – fazer da cantora uma atriz, da estrela indiana em uma opção comercialmente viável também na língua inglesa, do brutamontes em um astro versátil – mas falha em praticamente todas essas missões. Algo que nem uma composição inédita defendida por Céline Dion é capaz de reverter.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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