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Sinopse
Prestes a completar 30 anos de casada, a terapeuta Malka começa a questionar a própria vida. A aposentadoria de seu marido e a chegada de um jovem casal à terapia serão gatilhos para essa jornada de perguntas.
Crítica
Depois de Divã (2009) e Divã a 2 (2015), uma nova comédia romântica brasileira volta a apostar num suposto ambiente psicológico para resolver seus problemas amorosos. O Amor no Divã, no entanto, parece querer deixar de lado o humor imediato ou o foco em apenas um dos vértices de uma relação para desenvolver uma trama mais adulta e multifacetada. A tarefa, assumida com relativo sucesso pelo diretor de teatro Alexandre Reinecke em sua estreia no cinema, ganha pontos pelo discurso franco que assume e pelos quatro intérpretes escolhidos para defendê-lo, ao mesmo tempo em que, por outro lado, não consegue esconder as origens teatrais do realizador por suas escolhas cênicas. Tem-se, assim, um filme até certo ponto envolvente, mas que deixa no espectador um gosto de meio de caminho, como se pudesse ter aberto mais portas e ousado mais, tanto na narrativa quanto na estrutura.
Zezé Polessa, nesta que é sua melhor personagem na tela grande desde Achados e Perdidos (2007), vive a psicóloga Malka, uma mulher que vive de dar conselhos a casais em crise, ao mesmo tempo em que não consegue dar um jeito no seu próprio casamento. O marido (Daniel Dantas, num papel que lhe é confortável e que aqui soa adequado ao que a trama exige) está cansado do trabalho e decide se aposentar. Uma vez em casa, não sabe o que fazer. Entre os dois falta diálogo, ainda que, no íntimo de cada um, exista um vontade de comunicação. Ele a busca com questões idiotas no meio do horário de trabalho dela apenas por não ter desculpa melhor para procurá-la. Ela investe em indiretas e sugestões pouco óbvias, ao invés de conversar abertamente sobre o que lhe preocupa. A sintonia parece perdida, e nenhum dos dois tem certeza sobre como reavê-la.
Em contrapartida ao casal de veteranos, há uma dupla jovem. Paulo Vilhena (mostrando mais uma vez, como em Entre Nós, 2013, que tem lhe feito bem deixar de lado a postura de galã adolescente), e Fernanda Paes Leme (a mais fraca do quarteto principal, exagerando nas reações e caretas forçadas) estão juntos há algum tempo, e decidem procurar por ajuda profissional por não estarem mais se acertando. Ele é personal trainer e busca uma vida relaxada, aproveitando as pequenas coisas. Ela, por sua vez, é uma mulher de negócios, constantemente preocupada com números e reuniões, sempre atrasada para um novo compromisso, sem tempo para o marido e para as reclamações dele. São bonitos, atraentes e em forma, mas perderam aquela vontade de todo início de relacionamento. Cada vez que param para conversar, é sob insistência de um ou do outro, e não sob protestos que, invariavelmente, desandam para uma discussão. Ou seja, são clichês, estereótipos facilmente reconhecíveis, mas que funcionam de acordo com as expectativas levantadas pela trama.
Quando Miguel (Vilhena) e Roberta (Paes Leme) decidem se consultar com Malka, O Amor no Divã ganha as melhores cenas. Num primeiro encontro, a psicóloga determina que serão necessários cinco sessões para “consertá-los”, e assim também é dividido o filme. No entanto, algo parece faltar. Talvez uma maior maestria por parte dela para lidar com os problemas deles – ela é muito mais uma observadora do que uma terapeuta – e os métodos que emprega, como o uso de bonecos ou esqueletos, parece mais apelar a fetiches do que a uma prática de eficiência comprovada. O roteiro de Juliana Rosenthal K. carece, também, de uma ligação mais forte entre os dois casais que justifique as atenções demandadas. Ambos estão em crise, mas como um poderá colaborar com a experiência do outro? O final, quando enfim os quatro se encontram, é digno de uma comédia de erros, sem que os exemplos funcionem na prática.
Ainda assim, há pontos positivos que merecem destaque em O Amor no Divã. Pra começar, o linguajar empregado é maduro o suficiente para uma plateia adulta. Fala-se de sexo francamente, sem meias palavras, com uma honestidade que lhe faz muito bem. Polessa e Dantas, que foram casados na vida real, deixam transparecer essa intimidades de velhos conhecidos, o que contribui para seus personagens. E se Vilhena e seu visual relaxado funciona melhor do que a estressada vivida por Paes Leme, há também química entre os dois. Bastante teatral e repleto de diálogos, pode não ser o tipo de filme que o espectador médio esteja acostumado, e talvez seja justamente esse o maior dos seus méritos: obrigar a audiência atrás de um romance açucarado e passageiro a sair de sua zona de conforto. O caminho para atingir esse objetivo pode ser um pouco conturbado, mas o resultado, em sua média, revela-se positivo. O que, vamos combinar, já está acima da média do gênero.
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