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Sinopse

A praia de Moçambique, em Florianópolis, foi cenário de misteriosos assassinatos. Um dia, quatro amigos vão a uma festa na floresta. No dia seguinte, três deles são encontrados mortos, e Diana, a única sobrevivente, não se lembra do que aconteceu. Vídeos gravados nos celulares das vítimas ajudam a desvendar o caso.

Crítica

Após realizar uma série de curtas-metragens exibidos e premiados no Brasil e no exterior, o cineasta paulista Jeferson De se consagrou com seu primeiro longa-metragem, o aclamado Bróder (2010), escolhido como Melhor Filme nos festivais de Paulínia e de Gramado. Em comum entre todos estes trabalhos estava seu posicionamento social e político, com um forte discurso sobre a presença racial no cinema brasileiro. De, no entanto, preferiu no passo seguinte de sua carreira buscar uma diversificação, abordando temas aparentemente distantes do caminho que havia percorrido até então. E o resultado é O Amuleto, uma aposta em um gênero pouco explorado na cinematografia nacional – o terror – que assusta mais por suas deficiências do que pelos méritos vistos na tela.

Três nomes de pouca experiência no cinema foram escolhidos como protagonistas de O Amuleto: Bruna Linzmeyer (que anteriormente fez apenas uma rápida participação no coletivo Rio, Eu Te Amo, 2014), o namorado dela, o performático Michel Melamed (visto rapidamente em Brasília 18%, 2006) e a bela Maria Fernanda Cândido (premiada em Gramado por sua estreia em Dom, 2003, mas que desde então tem feito poucas aparições de destaque na tela grande). Bruna aparece como a filha de Maria Fernanda (ainda que tenham 18 anos de diferença, esse parentesco soa pouco verossímil), uma garota que foi embora para a capital estudar, deixando a mãe e os amigos para trás. Quando ela retorna para um período de férias, ao mesmo tempo em que uns ficam felizes com a notícia, outros se perguntam: o que mais teria voltado junto com ela?

A história aproveitada como subtexto é a seguinte: mãe e filha fazem parte de uma linhagem de bruxas, e a forte presença das duas pode evocar espíritos não muito amigáveis. Este histórico vem à tona quando, durante um passeio pela mata com seus três melhores amigos, todos acabam, inexplicavelmente, assassinados – com exceção da recém chegada, é claro. Uma investigação policial tem início – um dos policiais, o mais suspeito, é interpretado por Melamed – e cada nova pista parece apontar para algo ainda mais misterioso. O problema, no entanto, não é o clima de suspense que se tenta imprimir desde o princípio: é, sim, a total falta de habilidade, tanto do realizador quanto do seu elenco, de lidarem com um enredo como esse.

Como as filmagens ocorreram em Santa Catarina, Maria Fernanda Cândido e Michel Melamed – curiosamente, os únicos do elenco – tentam imprimir um forte sotaque local, mas tudo que conseguem é provocar risos – o dele é tão carregado que, ao invés de natural de Florianópolis, ele parece mais um português perdido no sul do Brasil. Bruna, por sua vez, compõe aquele tipo de interpretação ciente de tudo que acontece ao seu redor, até mesmo a respeito daquilo que só será revelado posteriormente – a intérprete se sobrepõe ao personagem, sem conseguir aprofundá-lo. Seu tom monocórdico contrasta com os esforços fúteis dos colegas de cena mais jovens, todos amadores escolhidos na região e responsáveis por diálogos tão fracos que mais constrangem do que assustam.

Mas ninguém parece mais despreparado do que o diretor Jeferson De, se mostrando literalmente um peixe fora d’água. O argumento sobrenatural até poderia remeter a um elemento ligado à escravatura e às religiões africanas, mas sua abordagem é aliviada ao máximo, a ponto de soar apenas como uma nota de rodapé, e não como o centro da trama esperada. O Amuleto, ainda que seja uma obra encomendada por um produtor, segue sendo assinada pelo cineasta, e chega a ser triste vê-lo envolvido em algo capaz de provocar tamanho embaraço. É importante para a sobrevivência do cinema nacional que se invista em estilos e narrativas diversas, buscando uma versatilidade importante tanto como arte quanto negócio. Mas isso não pode ser usado como desculpa para qualquer tipo de exercício, ainda mais os frustrantes como esse.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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