Crítica
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Sinopse
Os convidados de uma festividade burguesa simplesmente não conseguem sair do local de confratermização. Na medida em que o tempo passa, as máscaras da civilidade caem e a tensão entre os presentes se torna insuportável.
Crítica
A imobilidade do sujeito frente à constante antropológica que o leva a mover-se no mundo, possibilitando sua sobrevivência, vem à tona quando Luis Buñuel coloca em um mesmo ambiente, por dias seguidos e sem chance de escape, um grupo de aristocratas cuja nobreza e respeitabilidade se degradam enquanto condutas e vícios primários despertam incontroláveis. A fronteira invisível e intransponível que misteriosamente enclausura os personagens de O Anjo Exterminador dentro de uma residência, separando-os do corpo social, torna seu convívio um desafio considerável, capaz de aniquilar a humanidade que há em cada um. Nessa cápsula impensável, surreal, a única saída é trapacear o tempo para fugir do espaço.
Nesta fábula contemporânea, Buñuel desfila figuras da sociedade cuja autodeterminação é cerceada pelo inexplicável que os imobiliza no espaço, mas não no tempo – como aceita a Relatividade Geral da Física. Trancados em uma área limitada, na qual os dias passam em um cenário que se mantém, a fome, a sede, a claustrofobia e a paranóia crescem entre o grupo, apagando limites entre civilidade e selvageria. Ricaços perdem a compostura, amigos entram em litígio, convenções desabam e convicções são abaladas. A elegância entra em desalinho. Nesse microcosmo social em desconstrução, em processo de extermínio, acompanhamos personas pouco óbvias, bem construídas com nuances de meias verdades, incertezas e medos que os tornam críveis. Com histórias de vida que se complementam, ficamos sabendo muito de cada uma destas figuras tresloucadas a partir de suas relações com as outras.
O texto afinado de Buñuel, simples e direto, compõe o perfil dos agentes da ação fílmica criada pelo artista, estimulando um ritmo narrativo bem alinhado a planos, cenas e sequências belamente compostos. À fotografia do filme é dada extrema atenção, algo nítido em movimentações de câmera como travellings que ressaltam um clima de mistério distante de suspenses tradicionais. Aqui as potencialidades, dúvidas, dubiedades e debilidades de mentes traumatizadas pelo convívio forçado e misterioso apontam raízes nos conteúdos tanto do inconsciente pessoal quanto coletivo – tão importantes para surrealistas como Buñuel e Salvador Dalí quanto para a psicologia analítica de Carl Gustav Jung.
É justamente de um destes segredos pouco racionais e altamente pregnantes, oferecido pela mente de uma personagem, que surge uma possibilidade de escape deste paralelo opressivo, revelador do grotesco íntimo de cada indivíduo. Redefinindo ao fim do filme certas configurações espaciais exibidas em seu início, os personagens descobrem como deixar a casa. Com isso, Buñuel sugere um loop completo no tempo de sua narrativa, um tempo que se mostra cíclico, mítico, não mais explicado pelo formalismo da Física. Este tempo arcaico não apenas aponta a redução do homem contemporâneo a sua essência animalesca quanto também permite à narrativa audiovisual e aos personagens do filme o cumprimento de seu eterno retorno.
Ao retomar uma configuração inicial, fechando um ciclo temporal, as pessoas da sala de jantar d’O Anjo Exterminador encontram o ponto no tempo que os liberta do espaço aprisionador. Retomam sua mobilidade para seguir adiante no continuum espaço-tempo físico em que vivemos. Porém, fica a impressão que para o surrealista Buñuel o tempo é líquido, fluído e circular, capaz de derreter como um relógio de bolso daliniano, sendo então muito mais poético do que o espaço sólido, magnético, imobilizador e degradante.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Danilo Fantinel | 10 |
Maria Caú | 10 |
Alysson Oliveira | 10 |
Chico Fireman | 10 |
Bruno Ghetti | 10 |
Miguel Barbieri | 10 |
Celso Sabadin | 10 |
Daniel Oliveira | 8 |
Ailton Monteiro | 9 |
Carissa Vieira | 10 |
MÉDIA | 9.7 |
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