Crítica
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Sinopse
Morando em Nova York e longe de casa há três anos, o jovem Adrian retorna para passar o Natal com sua família, durante a primeira onda de crise da AIDS. Sobrecarregado com uma tragédia recente, o jovem procura se reconectar com uma amiga de infância, com o irmão mais novo e com os pais religiosos, enquanto luta para contar seus segredos.
Crítica
Retornando à sua cidade de origem, no Texas, a fim de passar o Natal na companhia dos seus, Adrian (Cory Michael Smith) se depara com um mundo bem familiar, mas que não mais lhe pertence. Já na chegada ao aeroporto fica evidente o contraste entre o rapaz que evadiu a Nova Iorque para trabalhar com publicidade e o pai, homem bronco, temente a Deus e orgulhoso dos feitos na Guerra do Vietnã. Em O Ano de 1985 essa atmosfera de sentimentos represados, objeções veladas e/ou subentendidas é adensada pela belíssima e granulada fotografia em preto e branco a cargo de Hutch. Ao "forasteiro", voltar para casa pode ser alentador, mas também bem opressor. O contato com a comida favorita, à mesa, antecedido por uma prece que denota a religiosidade vigente naquele lar, tem gosto ambíguo. Por um lado, o carinho materno materializado nos sabores. Por outro, a rememoração das ressalvas de antes, dos senões que o fizeram buscar a felicidade fora daquele espaço dúbio. Ele sente saudades, mas sabe, definitivamente, não mais se encaixa ali.
O Ano de 1985 trata com sobriedade os dilemas que inevitavelmente atravessam o protagonista no confronto com suas raízes. Olhar para trás, reconfigurando o outrora através do prisma de uma atualidade destituída de idealismos, se dá em meio à dúvida quanto ao futuro. Distante de um tempo em que poderia se esconder no quarto e ouvir músicas interditadas pela igreja, bem como faz o caçula Andrew (Aidan Langford), fã de Madonna, ele precisa encarar contratempos sérios, como aquele que motiva a viagem adiada por alguns anos. Há segredos não revelados, algo que reveste cada diálogo com vernizes ignorados pela maioria dos personagens. Isso ressalta violentamente a solidão de Adrian. O cineasta Yen Tan convida à cumplicidade, mas evita entregar as verdadeiras intenções que, então, permanecem num campo minuciosamente nebuloso. A sexualidade encoberta como uma vergonha é mais abertamente esclarecida, mas há mais camadas de enigma, algumas acessadas prontamente apenas próximo ao doloroso encerramento do filme.
Em O Ano de 1985 as tensões são intermitentes, estão sempre ali fazendo com que as paulatinas revelações de Adrian sejam árduas. Empurrado pela mãe ao reencontro com a melhor amiga da adolescência, Carly (Jamie Chung), ele troca os pés pelas mãos, respondendo desajeitadamente àquilo que sobrevém à exiguidade do tempo para colocar tudo de angustiante para fora. Impossibilitado por um misto de vergonha e desespero, o protagonista golpeia arbitrariamente quem o ama. Animal ferido, acaba mordendo a única mão estendida que lhe parece segura para suportar a verdade sem pesar-lhe demasiadamente os ombros. Yen Tan promove um singelo desvelamento dessas relações tumultuadas por questões de toda sorte. Em determinados momentos, a iluminação faz com que os olhos do primogênito sejam completamente turvados pela escuridão, oferecendo-lhe oportunidades valiosas para dissimular e falsear a sensação aflitiva de isolamento. Observando as pessoas com sensibilidade, o realizador se afasta de possíveis julgamentos, acalentando suscetibilidades e falhas.
A religião é um componente bastante presente em O Ano de 1985. Seja no culto, em que Adrian, sutilmente, é impelido a quebrar o silêncio e entoar um cântico de louvor, ou nas várias inserções sonoras de pregações conservadoras, os postulados cristãos se fazem presentes, rimando com o autoritarismo dos republicanos, exposto na menção a Ronald Reagan. A mãe, vivida com ternura por Virginia Madsen, é uma fortaleza discreta que sustenta a casa, enxergando além do que se imagina. Já o pai, interpretado por Michael Chiklis, faz o que pode para ultrapassar a couraça gerada por uma criação afetivamente fria. E Andrew, assim como o irmão mais velho, diante de tópicos intrínsecos à puberdade, como a própria imagem e a aceitação, sente um misto de alívio e melancolia ao ter em quem confiar seus anseios e interrogações. Todos, sem exceção, estão lutando contra algo em busca de harmonia. Porém, a batalha do protagonista é mais urgente e definitiva. Identidade, afeto, compreensão e pesar fazem desse filme uma fascinante e, na mesma medida, amarga jornada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 10 |
Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 5 |
MÉDIA | 7.7 |
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