Crítica
Leitores
Sinopse
Nova York, 1981. Num inverno rigoroso, o imigrante Abel Morales e sua esposa, Anna, tentam prosperar nos negócios, mas não conseguem escapar à corrupção, decadência e brutalidade que dominam a região.
Crítica
Ao lado de nomes como James Gray e Jeff Nichols, J. C. Chandor pode muito bem dividir o título de um dos diretores mais promissores da produção cinematográfica norte-americana atual. Em sua mais recente empreitada, O Ano Mais Violento, injustamente esnobado pelo Oscar, o realizador homenageia com competência os thrillers do final dos anos 1970 e o cinema noir em um conto moralista travestido de filme de gângster.
O filme é ambientado durante um inverno rigoroso e macabro na Nova York de 1981, quando os Estados Unidos, após cortes na segurança baseado em um plano econômico aprovado por Ronald Reagan, se vê à mercê da criminalidade e da violência. Abel (Oscar Isaac), um imigrante latino, e sua esposa Anna (Jessica Chastain) buscam formas de prosperar na grande cidade com uma companhia de distribuição de óleo para aquecedores. Obviamente, nessa trajetória penosa, terão que encarar assaltos, decadência e corrupção dos negócios. Ao passo que os caminhões da empresa são roubados, um promotor (David Oyelowo) investiga a empresa deles por sonegação de impostos. Chandor, com estas duas frentes, constrói uma história longe do previsível, dando ao espectador um anseio de acompanhar a dupla de protagonistas para ver até onde o – até por demais – correto protagonista, em excepcional interpretação de Isaac, pode chegar com seu objetivo de prosperar.
Distante e contrapondo-se dessa lisura está a esposa do personagem, em performance inesquecível de Chastain como Anna, que possui momentos-chave que impulsionam a trama. Sem ela, o marido não tomaria partido e decisões mais arriscadas. A presença marcante da atriz é intensificada por um belíssimo figurino de Kasia Walicka-Maimone, maquiagem e cabelos que incorporam uma forma de homenagem até mesmo à Michelle Pfeiffer em Scarface (1983), de Brian DePalma. O visual de Anna externa muito bem a sua posição e seus objetivos quase predatórios. Sem falsos moralismos, ela faria de tudo para chegar ao topo, mas é, por várias vezes, contida por Abel, que busca constantemente proteger sua família desse universo de barbárie que pode invadir a qualquer momento seu ambiente privado.
Ainda que tenha concorrido ao Globo de Ouro somente como melhor atriz coadjuvante, para Chastain, O Ano Mais Violento traz na direção de Chandor um equilíbrio poderoso após seus dois filmes anteriores: Margin Call (2011) e Até o Fim (2013). O primeiro, que prezava pelo diálogo entre os personagens, e o segundo, muito mais pelo não-dito, contrastam agora com esse novo trabalho, muito bem dosado entre palavras e ações nesse conto de mais um sonho americano. Como James Gray já explorou muitíssimo bem em Era Uma Vez em Nova York (2013), nesse ambiente não há lugar para os corações fracos, atitudes corretas e uma busca pollyanesca. As ações que funcionam dificilmente reverberam sem efeitos colaterais. Logo, não há como ser incorruptível no mundo lá fora. Principalmente nesta Nova York.
Últimos artigos deRenato Cabral (Ver Tudo)
- Porto: Uma História de Amor - 20 de janeiro de 2019
- Antes o Tempo Não Acabava - 25 de novembro de 2017
- Docinho da América - 3 de janeiro de 2017
Deixe um comentário