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Sinopse

Stan Hurley, um agente de treinamento da CIA, recebe a tarefa de treinar Mitch Rapp, um ex-soldado das forças especiais, que está devastado após a morte de sua noiva durante um atentado terrorista. Tomado por um sentimento de revanche, o garoto fará de tudo para ser o melhor.

Crítica

Criada pelo autor Vince Flynn, a série de romances de espionagem protagonizada pelo agente da CIA especialista em contraterrorismo, Mitch Rapp, se tornou um dos maiores sucessos do mercado literário norte-americano nas últimas décadas. Em O Assassino: O Primeiro Alvo, o diretor Michael Cuesta transporta o personagem para as telas tomando como base o décimo primeiro dos dezesseis livros escritos pelo autor, cuja história se situa cronologicamente no início da linha temporal da série, abordando as origens do agente. Assim, somos apresentados ao jovem Rapp (Dylan O'Brien), ainda um estudante universitário, passando férias em Ibiza ao lado da namorada, Katrina (Charlotte Vega). Poucos minutos após pedi-la em casamento, porém, a praia espanhola é atacada por um grupo terrorista que metralha a multidão, ferindo o rapaz e matando a garota.

Passados dezoito meses, encontramos Rapp consumido pela ira, buscando se infiltrar na célula terrorista responsável pelo atentado. Transformado em um perito em artes marciais e exímio atirador, além de se mostrar fluente em árabe, participando de chats criptografados com jihadistas líbios, ele consegue marcar um encontro com o líder do grupo. Suas ações, contudo, são monitoradas pela diretora da CIA, Irene Kennedy (Sanaa Lathan) que, ao invés de prendê-lo, decide canalizar sua ânsia por vingança e sua obstinação para os propósitos da agência. Recrutado, o novato é colocado sob o comando do veterano Stan Hurley (Michael Keaton), pouco afeito à ideia, para completar seu treinamento, sendo imediatamente destacado para uma missão envolvendo o roubo de uma carga de plutônio, o governo iraniano e um ex-pupilo de Hurley, o mercenário conhecido como Ghost (Taylor Kitsch).

Desde a sequência inicial do ataque à praia, fica evidente a intenção de Cuesta em imprimir um tom sóbrio, apostando na brutalidade e na crueza da ação, sem qualquer espaço para algo mais aventuresco. Tal sisudez – que faz as raras tentativas de abertura para o humor, geralmente vindas de Keaton, soarem deslocadas – não significa, porém, que a trama se atenha ao realismo. Pelo contrário, no que tange às questões diplomáticas e do panorama sociopolítico, a narrativa apresenta um desprendimento quase total, tratando-as do modo mais superficial possível. Ainda que a possibilidade de dilemas interessantes se apresente, como o fato do grande vilão não ser estrangeiro, mas sim um americano, fruto da própria CIA, o cunho pessoal das motivações dos personagens se sobrepõe a qualquer debate referente a questões políticas mais sérias.

Essa assumida falta de preocupação em favor do entretenimento escapista poderia ser aceitável caso o longa realmente oferecesse algum diferencial em termos de ação, o que não ocorre. Exceção feita a alguns episódios de Homeland (2011-), a transição do diretor Cuesta dos dramas indies do início de carreira para o flerte com as fitas de gênero, os thrillers – Instinto de Vingança (2009), O Mensageiro (2014) – segue se mostrando pouco natural. Sua condução não carrega grandes traços de personalidade, resultando quase sempre derivativa e opaca. Apostando nos violentos embates corpo a corpo, o trabalho de coreografia de lutas é correto, no entanto, a não ser pelo confronto final dentro da lancha – utilizando os choques da embarcação contra as ondas para moldar os movimentos – que exibe alguma inventividade, os set pieces de ação nunca chegam a ser, de fato, memoráveis.

Cuesta também não é capaz de explorar as particularidades das locações internacionais onde a trama se desenrola – Istambul, Varsóvia, Roma – transmitindo a sensação de que as cenas poderiam ter sido rodadas em qualquer lugar. Além dessa aura genérica, o filme ainda tem problemas com a construção de seu protagonista, cujo desejo de vingança surge, basicamente, como a única característica de sua personalidade. Fora a informação sobre ter perdido os pais em um acidente automobilístico, quase nada é fornecido sobre Rapp para que se crie um vínculo emocional genuíno. E, por mais que o impacto psicológico causado pela tragédia seja compreensível, a transformação do jovem traumatizado em uma máquina de matar obsessiva, por não ser desenvolvida – ocorrendo como num passe de mágica – soa pouco crível, algo agravado pela escalação de O'Brien, que não consegue fugir totalmente da persona de herói adolescente da franquia Maze Runner (Correr ou Morrer, 2014, e Prova de Fogo, 2015) e do seriado Teen Wolf (2011-2017).

O resto do elenco – Keaton sempre uma figura simpática, Lathan com a segurança costumeira – termina preso a clichês que, mesmo assim, poderiam ser melhor trabalhados, como a relação mentor/aluno entre Hurley e Rapp. Já Scott Adkins, que vive um agente com quem o protagonista rivaliza, segue tendo suas habilidades marciais – exibidas nos veículos B por ele estrelados – subaproveitadas nas grandes produções. Com essa falta de engajamento em relação aos personagens e à ação, que faz com que certas fragilidades de roteiro, passíveis de serem relevadas em outras circunstâncias, incomodem – como um celular, repleto de informações imprescindíveis, negligenciado pela equipe da CIA – O Assassino: O Primeiro Alvo se encaminha para um desfecho grandioso, mais adequado a uma aventura de James Bond da era pré-Daniel Craig do que ao teor austero apresentado até então. Há ainda a inevitável ponte criada para novos capítulos, uma possibilidade que parece remota ao fim da projeção. Já que, quaisquer que sejam as qualidades da obra de Flynn responsáveis pelo sucesso entre os leitores, estas, definitivamente, não transparecem na adaptação de Cuesta.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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