Crítica
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Sinopse
Na década de 1970, os habitantes da cidade de Hamburgo sofreram quando os jornais começam a noticiar o desaparecimento sucessivo de vários cidadãos seguindo um padrão específico. Começa então uma das mais complexas investigações de assassinatos em série que o local já havia presenciado até o momento.
Crítica
No início dos anos 1970, um serial killer assustou a sociedade de Hamburgo, no norte da Alemanha, ao assassinar prostitutas e escondê-las aos pedaços em sua própria casa. Na verdade, há alguns exageros nessa declaração. Afinal, ele operou dessa forma por anos, e ninguém parecia se dar conta do que estava fazendo, quem dirá se importar com as vítimas em si. A trajetória de Fritz Honka foi resgatada pelo escritor alemão Heinz Strunk, e adaptada para as telas pelo cineasta de ascendência turca Fatih Akin. O Bar Luva Dourada, no entanto, preocupa-se mais em expor os fatos, deixando a reflexão e uma suposta análise crítica a respeito destes para um segundo momento, a ser empreendido pelo espectador. Caberá a esse, portanto, se dedicar a essa tarefa, um esforço nem sempre recompensado pelos elementos alinhados em cena.
Após Em Pedaços (2017), que narrava a trajetória de uma mulher determinada a vingar a morte do marido e filho em um atentado terrorista, Akin segue em sua investigação a respeito das motivações por trás da violência excessiva e desproporcional. Mas quem for atrás disso em O Bar Luva Dourada, esperando encontrar uma reedição do recente A Casa que Jack Construiu (2018), de Lars von Trier, ou clássicos de revirar o estômago, como os assinados por Pasolini ou John Waters, é melhor pensar duas vezes. Ao mesmo tempo em que a postura narrativa é mais comedida, está em outros pormenores, como na composição exagerada ou na direção de arte sobrecarregada, o viés de decadência e misoginia que aos poucos vai se revelando. Tudo está podre, do protagonista aos personagens que o rodeiam, passando, inclusive, pelos ambientes que estas figuras decadentes frequentam. Estamos numa Alemanha de quase cinco décadas atrás, ainda marcada pelo fim da Segunda Guerra e num esforço desmedido de reconstrução. Numa hora dessas, são sempre os frágeis que pagam os preços mais altos.
Honka, interpretado com entrega pelo jovem Jonas Dassler, vagueia pelas ruas em busca de atenção. As poucas mulheres que consegue levar para o sótão onde mora, no entanto, são prostitutas velhas e já sem ânimo, dispostas a qualquer coisa por um copo a mais de bebida ou uma cama quente, nem que seja por apenas uma noite. Ele mantém algumas delas por perto quando se dá conta que precisa do que lhe podem oferecer, ao mesmo tempo em que as descarta sem muita cerimônia diante de qualquer sinal de contrariedade. A câmera é distante, não se aproxima, apenas observa. Assim, a audiência é exposta à inconstância dos humores desta criatura grotesca, seja jogando suas convidadas porta afora ou enforcando-as com um pano de cozinha. As que são mandadas embora, pouca noção possuem do que se livraram. As demais, acabam cortadas aos pedaços e estocadas em um armário embaixo da pia.
Sem muito o que narrar além dessa rotina angustiante, Akin se ocupa de reiterar de modo insistente certos detalhes. Em mais de uma ocasião alguém reclama do fedor da casa de Honka, assim a mesma desculpa é dada em todas as vezes – seria culpa dos vizinhos do andar de baixo, gregos acostumados a cozinhar alimentos exóticos para o paladar alemão. No entanto, no lado de cá da tela está bastante claro – é do cheio dos corpos em decomposição que está se falando. Será preciso que os vermes caiam, literalmente, no colo de alguém para que se perceba o tamanho da ameaça. Mas nem isso parece alterar o rumo das coisas. É quando o acaso interfere, selando o destino do assassino. Suas motivações, por outro lado, são justificadas de modo quase pueril, como se houvesse uma correlação direta entre o seu inexistente desempenho sexual com as agressões cometidas contra suas parceiras. Ah, se fosse assim tão simples...
Jonas Dassler, de apenas 23 anos, tem perfil para ser modelo fotográfico. No entanto, em O Bar Luva Dourada, ele desaparece sobre forte e pesada maquiagem, num esforço para criar o tipo mais repugnante possível – é curioso perceber pelas fotos do verdadeiro Fritz Honka, exibidas ao final do filme, que ele não era tão feio assim. Com as mulheres que o cercam, há a mesma impressão. Há, porém, uma ilha de beleza. Uma garota, não mais do que uma adolescente, pela qual ele desenvolve certa obsessão. As existências dos dois chegam a se tangenciar, sem nunca gerar uma interseção real. Ela é apenas um lembrete, um alerta de que há algo bonito adiante, mesmo que não se dê o real valor. Aos demais, resta somente a destruição e a morte. O fim pode estar sob nossas cabeças, e esta não é uma figura de linguagem. Ser mais do que apenas carne para abate parece ser uma decisão pessoal, mas bem se sabe que é preciso mais do que isso. O homem anseia, também, por ser visto, notado, identificado. Para o bem, para quem tem sorte, ou para o mal, como neste caso.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Roberto Cunha | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Diego Benevides | 4 |
MÉDIA | 6.5 |
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