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Sinopse

Em uma realidade que o asteróide responsável pela destruição dos dinossauros não aconteceu, Arlo, um desengonçado apatossauro, acaba fazendo amizade com um pequeno humano. Juntos, vão aprender o poder de enfrentarem seus medos.

Crítica

A Pixar já mostrou em mais de uma ocasião sua incrível habilidade de fazer um raio cair duas – ou três, ou quatro, ou dez (!) – vezes no mesmo lugar. Desde a estreia do estúdio, com Toy Story (1995), praticamente todos os seus longas foram recebidos com entusiasmo tanto pelo público quanto pela crítica. Vários deles conquistaram milhões e levaram algumas estatuetas do Oscar para casa – Up: Altas Aventuras (2009) e Toy Story 3 (2010) chegaram, inclusive, a concorrer a Melhor Filme do ano. Mas se alguns buscam por qualidade, e outros por quantidade, poucos são os que conseguem as duas coisas ao mesmo tempo. E lançando praticamente um novo filme por ano, uma hora haveria de acontecer um tropeço. E este chega agora, sob o nome de O Bom Dinossauro. Não que seja ruim – afinal, os padrões da companhia são tão altos que até o razoável está bem acima da média dos outros. Só está aquém daquilo com o qual estamos acostumados. E a culpa, como não poderia deixar de ser, é da própria... Pixar!

Quando a novata foi adquirida pela Disney, torcia-se que houvesse uma “pixarização” da empresa-mãe, ou seja, que essa aproveitasse o que a pequena revolucionária tinha de melhor para modernizar suas futuras produções. O que se viu a seguir, no entanto, foi mais ou menos o contrário. A Pixar investiu em um conto-de-fadas (o irregular Valente, 2012) – temática que se tornou clássica sob a visão de Walt Disney – enquanto que aquela mais velha fez o que lhe era tradicional, porém sem cobranças externas e com muito mais segurança – e o resultado foi Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), a animação de maior sucesso de bilheteria de todos os tempos. Com O Bom Dinossauro, percebemos mais uma vez o inverso se concretizando. Afinal, a trama aqui apresentada nada mais é do que a releitura de elementos visitados diversas vezes antes por vários longas assinados pelo estúdio do ratinho Mickey Mouse.

Arlo é o caçula de uma família de cinco alossauros – aqueles dinossauros enormes, de pescoços compridos e, acredita-se, muito pacíficos. Ele é também o menor deles, e o mais inseguro (pra não dizer medroso). Vegetarianos, levam a vida cuidando da fazenda onde cultivam milho e armazenam alimentos para o inverno. Quando uma praga ataca o silo onde armazenam suas provisões, ele é escalado para descobrir o que está acontecendo – e dar fim à ameaça que tem colocado em risco o fruto de seus esforços. Estamos em uma realidade, é preciso esclarecer, em que o meteoro que atingiu a Terra dando fim a estes gigantescos lagartos passou raspando pelo nosso planeta, e a extinção dos animais nunca aconteceu. Assim, foram eles que evoluíram, e aos seres humanos restou uma posição mais primitiva. Pois vem justamente dessa convivência simultânea a situação que o protagonista está enfrentando: ele descobre um menino alimentando-se da comida que produzem. Só que ao invés de eliminá-lo da mesma maneira que hoje nos livramos de uma mosca, ele fica com pena e acaba deixando-o fugir. E é exatamente neste ponto que seus verdadeiros problemas começam.

Em resumo, Arlo e Spot (o garoto) acabam se perdendo, após uma tempestade pegá-los de surpresa, e sem saber como voltar para casa, precisam aprender a conviver um com o outro. No caminho, encontram tanto amigos (o triceratops que se esconde nas árvores e a família de tiranossauros rex são os melhores) e também uma certa dose de perigos (os pterodátilos são tão assustadores quanto aqueles vistos em Jurassic Park 3, 2001), mas nada que ameace a sintonia entre os dois protagonistas – pelo contrário, os sustos que enfrentam servem mais para aproximá-los do que separá-los.

Belamente desenhado – a verossimilhança dos cenários impressiona pelo alto grau de detalhismo – O Bom Dinossauro peca, no entanto, justamente naquilo que a Pixar sempre teve de melhor: o roteiro. A trama do filme mais parece uma colcha de retalhos de vários sucessos da Disney. Temos o protagonista desajeitado (Dumbo, 1941) que precisa amadurecer à força após uma cena chocante (Bambi, 1942), o respeito às diferenças (Lilo & Stitch, 2002) e os sábios conselhos que surgem do além no momento mais apropriado (O Rei Leão, 1994), a importância da convivência familiar (101 Dálmatas, 1961) e o garoto selvagem que descobre uma família onde menos espera (Mogli: O Menino Lobo, 1967). Sem falar, é claro, na inspiração (ou seria cópia) mais evidente: Dinossauro (2000), que tinha o mesmo protagonista e falava de temas muito similares, como a volta para casa e aprender a lidar com seres diferentes em busca de um bem comum. Ou seja, o déjà vu é constante. E ao se contentar em apresentar mais do mesmo, tudo que se alcança agora é exatamente isso: algo bom, mas não mais do que uma mera sombra de obras muito superiores.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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