Crítica
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Sinopse
Romão é um caminhoneiro que está desempregado no momento. Sem conseguir emprego e tendo que sustentar sua mulher Rose e seus cinco filhos, ele decide partir em busca de um local onde possa conseguir o sonhado emprego que lhe pagará o salário de R$ 1000,00. Romão e sua família partem então numa jornada de 3200 km, saindo de Santa Rita, na Paraíba, até o Rio de Janeiro de bicicleta.
Crítica
A história é tão insólita que só poderia ser inspirada num fato real para ser crível: O Caminho das Nuvens relata a jornada verídica de uma família de retirantes (marido, esposa e cinco filhos) direto do sertão nordestino até o Rio de Janeiro, percorrendo esse percurso apenas com bicicletas! O fato curioso chamou a atenção dos produtores Lucy e Luiz Carlos Barreto – os mesmos por trás dos indicados ao Oscar O Quatrilho (1995) e O Que É Isso Companheiro? (1997) – mas foi o filho deles, Bruno Barreto, que encabeçou o projeto levados às telas por Vicente Amorim, em seu segundo trabalho atrás das câmeras (realizou antes o documentário 2000 Nordestes, 2001, em parceria com David França Mendes). Talvez tenha sido essa diversa profusão de interesses, a fraca base em que se apóia (uma notícia de jornal), ou mesmo o batido tema sob o qual se desenvolve, mas algo aconteceu durante o processo que transformou uma boa ideia num filme que fica pela metade, ainda que dono de bons momentos. No todo, entretanto, as peças terminam por se encaixar, e a soma do conjunto se sobressai às partes individuais.
Se há algo que chama atenção em O Caminho das Nuvens é a impressionante performance do elenco, desde a tarimbada Cláudia Abreu, que convence perfeitamente, mesmo sendo mais velha que o protagonista e bela demais para o papel, até o incansável Wagner Moura (este foi um dos quatro longas em que ele atuou naquele ano). O astro tem aqui um dos seus trabalhos mais introspectivos, deixando de lado o jeito descontraído que o revelou em Deus é Brasileiro (2003) ou mesmo o gingado baiano de Cidade Baixa (2005), assumindo uma postura sisuda e direta que seria melhor aproveitada no seu personagem mais popular, o Capitão Nascimento de Tropa de Elite (2007). O tipo que aqui compõe é muito duro, mas absurdamente real, a ponto de chegar doer por sua intolerância e verdade. Chamam atenção também o jovem Ravi Ramos Lacerda (o irmão de Rodrigo Santoro em Abril Despedaçado, 2001) e o carismático cantor Sidney Magal, aqui aparecendo numa pequena e marcante participação especial.
Claudinha mostra de vez porque é uma das mais talentosas atrizes de sua geração, como a mãe dessa família que precisa lidar com o sonho do seu marido por uma vida melhor (ele resolve ir para o Sul pois acredita que somente lá conseguirá um mítico emprego com salário de mil reais, o que pensa ser necessário para sustentar com dignidade seus filhos e esposa) e contornar as desilusões dos pequenos. A decisão da atriz em pontuar sua interpretação com canções de Roberto Carlos, algo que não estava no roteiro e que ela incorporou ao personagem, é mais do que bem vinda, pois confere uma humanidade apropriada ao seu desempenho. Não há como não se emocionar ao vê-la cantando “Como é grande o meu amor por você”, por exemplo. Amorim é sábio em deixar seus dois astros brilharem juntos e individualmente, oferecendo-lhes liberdade suficiente para fazerem o que sabem melhor, conduzindo-os apenas no necessário.
Mas O Caminho das Nuvens é mais do que detalhes técnicos, felizmente. Se o desenrolar de sua trama é curto e apressado demais (são poucos mais de 80 minutos de projeção) e com alguns problemas estruturais (o filho mais velho retorna ao convívio da família apenas para se separar novamente em seguida?), ao menos as intenções do que se pretendia contar ficam claras no seu final. A mensagem foi passada, e ela é bem óbvia – por mais dolorido que seja, o povo brasileiro seguirá sempre acreditando e seguindo em frente, numa constante indecisão entre sonhos de esperança e a crueldade do pé no chão. Parece ser somente mais um relato isolado, mas se olharmos bem é um pouco de cada uma das nossas histórias.
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