Crítica
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Sinopse
Depois de ter confessado todos os crimes, João foi condenado a 400 anos de cadeia, mas cumpriu apenas quatro. Apesar de não querer mais saber de política, ele é convencido a se candidatar mais uma vez à presidência da República. O povo o adora! Afinal, é um político que não mente. Um ano se passa, o Brasil está em meio a uma grande crise, o governo de João Ernesto é uma lástima e o país está quebrado. Sob influência do vice, João vai se meter em confusões que podem lhe custar um impeachment. Ou seria um golpe? Só o futuro dirá.
Crítica
Diferentemente de seu antecessor, apoiado na suposta graça extraída da sinceridade repentina de um candidato a presidente envolto em maracutaias e toda sorte de esquemas ilícitos, O Candidato Honesto 2 é centrado em sucessivas brincadeiras de outras naturezas com os bastidores do poder. João Ernesto (Leandro Hassum) é solto da cadeia após cumprir menos de 1% da pena, logo voltando a figurar na mídia como um possível salvador da pátria. O cineasta Roberto Santucci investe num humor absolutamente focado na relação que prontamente se estabelece entre os personagens e suas inspirações do verdadeiro cenário legislativo brasileiro. O protagonista, em si, continua sendo uma espécie de amálgama de diversos políticos, tendo diluída a identidade anteriormente moldada pelo “sincericídio” constante. Já seu benfeitor, Ivan Pires (Cassio Pandolfh), o cabeça do principal partido político do país, é um decalque óbvio do presidente Michel Temer, pois fisicamente muito semelhante. Ele é desenhado na tela como um vampiro, praticamente literal e figurativamente, com suas aparições repentinas e aspecto moribundo.
O realizador aposta num humor repetitivo, sem, contudo, atentar à falta de eficácia de tiradas que perdem graça rapidamente. Uma delas, exatamente os surgimentos de Ivan nos momentos mais inoportunos, situações marcadas quase invariavelmente pelo bordão “eita, porra”, que Hassum utiliza inadvertidamente. Aliás, o esgotamento imediato das piadas tem a ver, principalmente, com o fato do roteiro não comportar variações significativas. O articulador da campanha de João faz sempre a mesma coisa, ou seja, irrompe para dar um susto e afirmar o quanto ele “vendeu a alma ao diabo”, aceitando alianças com a vã esperança de poder realizar uma reforma no país. É louvável a maneira como se busca tirar sarro de todo mundo, do candidato autoritário e ensandecido que faz sinais de tiro como marca registrada – alô, alô Jair Bolsonaro –, às figuras cabotinas que gravitam em torno do carisma de outrem, esperando uma boquinha. Todavia, como os esforços estão totalmente direcionados a um humor imediato, às vezes grosseiro, esse substrato bom acaba se esvaindo.
Amanda (Rosanne Mulholland) é a jornalista idealista, cujo segredo é entregue de bandeja involuntariamente por um roteiro que não prima, definitivamente, pelas sutilezas. A personagem dela tampouco funciona como uma exceção nesse cenário amplo, sobretudo por sua inexpressividade, tendo em vista o conjunto. Em dada passagem, O Candidato Honesto 2 faz troça com o impeachment, demonstrando um processo feito de acordo com as normas legais, segundo os protocolos previstos na constituição, mas totalmente condicionado por uma articulação de bastidor empenhada em derrubar aquele que ousou afrontar o sistema. Mesmo tangenciando episódios recentes de nossa triste realidade, o filme não assume lados na polarização que tomou de assalto o Brasil, pois mais preocupado em deflagrar um ridículo generalizado. Esse caminho, porém, é pavimentado numa comédia simplória, com pitadas de incorreção que chegam a passar dos limites, vide a brincadeira com a anã, negra e lésbica, colocada na tela como soma de minorias a serem contempladas na montagem do governo.
Leandro Hassum exibe o talento de sempre, com boas sacadas, sendo a melhor delas a crítica que João faz ao próprio Hassum, lançando mão de uma série de lugares-comuns ditos sobre o ator. Não fosse o reforço de um estereótipo quanto à cinematografia brasileira, e essa cena poderia ser o bem-vindo ponto fora de uma curva tortuosa. Mas, também, há o exagero em caras e bocas, o que corrobora o tom histriônico dominante. Santucci pesa a mão frequentemente, apostando numa comicidade rasteira, de impacto (quando ele raramente acontece) imediato, mas não duradouro. Em determinados instantes, há uma ridicularização excessiva de Isabel (Flavia Garrafa), quando realmente o filme apela na tentativa de fazer rir. Também entram nesse pacote de recorrências improdutivas, as chacotas relacionadas a questões sexuais, com o João insistentemente falando de perda de “pregas rainhas” na cadeia e chegando a demonstrar “água na boca” por um “bem dotado”. O Candidato Honesto 2 esconde, sob o véu de crítica indiscriminada, os vícios de seu predecessor, com ainda menos virtudes e direito à tomada de postura política controversa no seu encerramento conformista.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Victor Hugo Furtado | 5 |
MÉDIA | 4.5 |
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