Crítica

Olya, como qualquer garota adolescente de sua idade, está de olho nos meninos mais velhos. É por isso que outras atividades de sua vida, como a prática da flauta, se preocupar com a separação dos pais ou cuidar do irmão menor durante o tempo em que ambos ficam sozinhos em casa parecem não lhe despertar maior interesse. Porém, esse comportamento tão semelhante à de milhares de outras meninas por todo o mundo justifica a intensidade da pena que lhe será imposta? Ela, obviamente, não acredita nessa relação de causa e consequência, e a partir do momento em que decidir tomar em suas próprias mãos os rumos dos acontecimentos, os resultados poderão ser imprevistos. Mas, ao menos algo será feito – para o bem e para o mal. E será no estudo destes efeitos em que se estabelecerá a trama de O Casaco Verde (ou The Green Jacket, título internacional).

Olya está estudando música, em casa, quando avista pela janela o garoto mais bonito do bairro jogando bola sozinho na rua. Tudo fica em segundo plano, e ela decide ir correndo em sua direção e, quem sabe, conseguir estabelecer uma aproximação. Só que não está sozinha e, portanto, precisa levar consigo o caçula. No entanto, enquanto se aproxima movida pelo desejo, se afasta daquele ao qual está unida pelo sangue, uma desatenção que lhe custará caro – vemos somente no fundo da tela o menino sendo chamado por alguém que não aparece, escondido detrás de umas garagens. Em questão de segundos a criança some de vista, e não mais é encontrada. O interesse passageiro que a levou até o jardim logo desaparece, e o que importa é saber onde o irmão está. Uma missão que não terá uma solução fácil.

A polícia começa a investigar o caso, a mãe se afoga em remédios e antidepressivos, o pai tenta cumprir seu papel mostrando uma presença desajeitada. Ninguém, no entanto, parece verdadeiramente dedicado a apagar o que a protagonista acredita ter sido um erro seu. Solucionar o sequestro, portanto, é algo que ela precisará conseguir sozinha. E para tanto não medirá as consequências, tendo como certeza apenas uma vaga lembrança: havia um homem, de aparência séria – usava gravata – naquela praça no mesmo horário em que eles. Teria sido ele o responsável pelo sumiço do menino?

O Casaco Verde abre várias possibilidades, mas não parece preocupado em eliminá-las com o desenrolar de sua trama. Temos a explicação do título – a polícia descobre que há vários casos de crianças desaparecidas, e em comum todas usavam uma peça de roupa da cor verde (como o irmão dela) – que, no entanto, pouco contribui no avanço da história. O suspeito principal possui um bom álibi – que em nenhum momento é desmentido – mas seu comportamento é cada vez mais indicativo de uma possível culpa (principalmente suas atitudes quando em confronto com a garota). Os adultos pouco interferem – o avô chega a se justificar, em determinada passagem, de que ‘é preciso seguir vivendo, afinal há outros problemas a serem solucionados’, como se o desaparecimento do neto fosse somente mais um fato da vida a ser superado. É muita desesperança e desilusão, e num cenário como esse não é de se espantar que até aqueles que deveriam ser inocentes se julguem capazes de apelar para a barbárie.

Escrito e dirigido por Volodymyr Tykhyy – que até então só havia trabalhado na televisão e em curtas-metragens – O Casaco Verde é uma estreia auspiciosa de um realizador que consegue fazer do seu microcosmo um artigo de denúncia de um país que custa a se reerguer. A Ucrânia ainda sofre com o desligamento da União Soviética e busca seus meios para seguir independente. Assim como a personagem principal, que se vê desgarrada e desamparada. Até aqueles que deveriam estar ao seu lado – o pai, o candidato a namorado – no final acabam se voltando contra ela, isolando-a ainda mais. Abrir mão de suas convicções ou lutar até o fim pelo que acredita? Esse é um dilema comum tanto no âmbito da ficção quanto na vida real, com um impacto que nem a forte cena final consegue dissipar.

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