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Sinopse

Missy e Alejandro vão se casar. Para agradar à religiosa mãe do rapaz, os pais adotivos dele, divorciados há anos devem fingir que estão juntos durante o casamento.

Crítica

A grande pergunta a respeito de O Casamento do Ano é: como foi possível convencer esse elenco de peso a embarcar numa canoa tão furada quanto esse filme? Pois, além de não ter a menor graça – os únicos a rirem em toda a produção são os protagonistas na foto do pôster – esta é uma história construída única e exclusivamente em cima de estereótipos e clichês preconceituosos – alguns, inclusive, até ofensivos à nós, cidadãos sul-americanos. É o tipo de longa feito às pressas no esquema industrial hollywoodiano, que aposta nos nomes envolvidos para estabelecer alguma empatia com o público. Porém, diante do fiasco que teve nas bilheterias dos Estados Unidos – que, felizmente, deverá se repetir ao redor do mundo – o embaraço ficou ainda maior.

A trama, de tão rocambolesca, não possui o menor sentido em pleno século XXI. Para não decepcionar sua mãe católica, rapaz criado por família adotiva pede que os pais, há muito separados, finjam estarem ainda casados. Os problemas começam logo em seguida. Primeiro, o rapaz foi adotado por ser colombiano, e só conseguiu ter uma vida decente e acesso a uma educação superior por ter caído nas graças de um casal americano sem ter muito o que fazer (como explicam num determinado diálogo, os filhos naturais já haviam crescido, então precisavam de “ocupar” com alguma outra coisa). Depois, temos o fato desse rapaz “colombiano” ser interpretado pelo inglês Ben Barnes, que para contribuir na “verossimilhança” do seu personagem tem o rosto inteiramente maquiado “para criar a impressão de uma pele mais morena”.

Os absurdos não param por aí. Quando a família natural do rapaz chega, nos deparamos com uma carola fervorosa mais rígida que o próprio Papa e uma garota – irmã dele – sexy e assanhada, que na primeira oportunidade vai tirando toda a roupa e agarrando o primeiro rapaz desavisado que surgir no seu caminho. Esse, por sinal, é o irmão adotivo no noivo, um médico de quase 30 anos que – acredite se quiser – é ainda virgem! Além da irmã mais velha rancorosa que precisará acertar as contas – após muitas lágrimas – com o pai (por ter trocado a mãe pela melhor amiga dela) e com o ex-marido (afinal, lá pelas tantas irá se descobrir grávida dele), há a família da noiva, composta por um pai que está sendo investigado pela polícia federal e uma mãe com uma forte tendência ao lesbianismo (se é que isso existe).

Mas chegamos ao quarteto de astros, donos em conjunto de 5 Oscars. Robert De Niro mais uma vez se envolve em um projeto muito aquém do seu talento. Ao aparecer como o pai fanfarrão, tudo o que consegue é levar três socos na cara, ser vítima de um vômito inesperado e cair dentro de uma piscina ainda vestido. Diane Keaton é, mais uma vez, a mesma persona que criou para si própria na maioria dos seus filmes. Susan Sarandon segue em forma para a ser uma “destruidora de lares”, mas as motivações de sua personagem são tão abstratas e gratuitas – o noivo solicita à família a farsa, e ela se enfurece com o marido, além de dar corda para a mentira inventando algo ainda pior – que é muito difícil ficar ao seu lado. E por fim temos Robin Williams, que saiu de um descanso de quase 5 anos – seu último filme havia sido o problemático Surpresa em Dobro (2009) – apenas para reprisar o mesmo papel do padre meio fora da casinha que interpretou em Licença para Casar (2007). Antes, ao menos, ele era o protagonista, enquanto que agora é menos do que um coadjuvante especial.

Todos os arcos dramáticos criados pelo diretor e roteirista Justin Zackham (cujo crédito anterior de maior destaque foi a história de Antes de Partir, 2007, filme que praticamente encerrou a carreira de Jack Nicholson) em O Casamento do Ano são tão falsos, frágeis e previsíveis que não chegam a despertar o mínimo interesse no espectador mais atento. Há o rapaz que não transou? Arrume logo uma latina fogosa para ele! A moça mal amada passa mal cada vez que vê bebês? Está grávida, é claro! O velho garanhão está indeciso entre a ex-mulher e a atual amante? Coloque as duas para brigar por ele! No final, além da dúvida inicial, é de se perguntar também o que o original francês – afinal, trata-se de um remake de Mon frère se marie (2006) – deveria ter de tão bom para justificar essa refilmagem. Afinal, se havia algo interessante na versão anterior, tais méritos foram completamente eliminados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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