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Crítica


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Sinopse

Texas, 1869. John Reid é um representante da lei que, após uma emboscada, fica ferido e é abandonado por seus inimigos. À beira da morte, é salvo pelo índio Tonto, que passa a ser seu fiel escudeiro. Agora, Reid busca vingança e para isso, passará a usar uma máscara tornando-se o famoso Cavaleiro Solitário.

Crítica

O Cavaleiro Solitário é baseado na famosa criação de George Washington Trendle, desenvolvida em idos tempos pelo escritor Frank Striker para rádio, cinema e televisão. As aventuras do Ranger John Reid (Armie Hammer) e de seu fiel escudeiro, o comanche Tonto (Johnny Depp), retornam agora sob a batuta da Disney, do produtor Jerry Bruckheimer e do diretor Gore Verbinski. Tais assinaturas juntas sinalizam o tipo de filme a esperar: sério candidato a blockbuster da temporada, com o carimbo “para toda a família” inerente à maioria das realizações da casa de Mickey. A ação se passa nos Estados Unidos, fim do século XIX, época em que muitos americanos andavam armados e lutavam contra os nativos por espaço. A civilização necessita de progresso e ele parece vir sobre os trilhos da malha ferroviária que começa a ser construída para interligar o país.

Na viagem que o traz de volta à pequena cidade natal, onde moram o irmão, a cunhada e o sobrinho, John Reid testemunha o escape do bandido Butch Cavendish (William Fichtner), a quem as autoridades traziam sob custódia para enforcamento. Também ali o filho-pródigo conhece Tonto, seu futuro parceiro no encalço do fugitivo. Apelidado Kemosabe (irmão errado), esse homem, crente no poder da lei para além da força bruta, pegará em armas buscando justiça e vingança. Já o cúmplice selvagem o ajudará por acreditar que ele ressurgiu dos mortos. Ainda há o cavalo espiritual, provavelmente o melhor coadjuvante do filme, centro das cenas mais engraçadas, ao menos.

Johnny Depp inclui outra figura à sua galeria de tipos insólitos, na prateleira bem ao lado de Jack Sparrow, com quem seu índio parece irmanar-se em matéria de esperteza. Aliás, como a história é contada por Tonto a um garoto nos tempos atuais, e levando em consideração a inclinação do personagem ao exagero, deve haver bom tanto de lorota na dramatização do passado de glórias onde ele supostamente ajudou a derrotar os gananciosos que queriam fazer da novidade um elemento de poder. Já Armie Hammer, o virtual protagonista, soa burocrático, seja por não conseguir transitar com sutileza entre iniciais convicções pacifistas e posteriores impulsos vingativos, ou por simplesmente acabar eclipsado pelo carisma e talento de Depp.

A duração do longa (149 min) não se deixa sentir pelo ritmo que mescla ação e humor de maneira eficiente. Aliás, “eficiência” parece mesmo a expressão definidora de O Cavaleiro Solitário, peça de estúdio milimetricamente construída para edificar uma nova franquia, sem tantas preocupações com estilo e profundidade. Contudo, justiça seja feita, esse é o propósito pelo qual o filme de Verbinski merece tanto ser visto quanto analisado. O Cavaleiro Solitário é divertido, ainda que trate subtextos (ganância, amor, culpa, senso de dever, entre outros) apenas como escada para grandiloquência e comédia. Obras como essa evitam o erro como o diabo foge da cruz, enquanto outras não hesitam arriscar-se. Mas não sejamos ranzinzas, que há mal em, de vez em quando, a aventura pela aventura?

O Cavaleiro Solitário de alguma maneira resgata o western como gênero para o grande público. Não convém colocá-lo no mesmo patamar dos faroestes de outrora, mas ao menos ele explora corretamente (repito, dentro do intento) esse território sacralizado pelo cinema. Sem solavancos, passamos de personagem em personagem, de situação em situação, satisfeitos se atentos à sessão e não às ressonâncias pós-audiência. O menino vestido de cowboy que ouve tudo do velho Tonto nos representa. Ele se empolga com mocinhos e bandidos, honradez e vilania, assim como reagimos no lado de cá da tela ao seguir o ritmo frenético dos acontecimentos, tal se voltássemos à infância, onde éramos menos exigentes e fisgados por histórias escapistas do bem contra o mal.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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