O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva
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Letícia Simões
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O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva
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2019
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Após uma viagem para o Pará, a diretora Letícia Simões entrou em contato com o livro de Dalcídio Jurandir. Aqui faz uma homenagem ao romancista que, enquanto escrevia os livros que compõem sua saga de 10 volumes, subia e descia o Rio Tapajós de barco para trabalhar como inspetor de escola.
Crítica
A literatura segue sendo o pilar central da produção documental da cineasta baiana Letícia Simões. Depois de mergulhar na poesia de Ana Cristina Cesar em Bruta Aventura em Versos (2011) e no trabalho do poeta, músico e artista plástico Rodrigo de Souza Leão com Tudo Vai Ficar da Cor que Você Quiser (2014), Simões se volta neste O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva à obra do escritor Dalcídio Jurandir. Nascido na Ilha do Marajó, onde se ambientam dez de seus onze romances, compondo a chamada Saga do Extremo-Norte, Jurandir, falecido em 1979, é geralmente enquadrado dentro do movimento neorrealista por seus textos marcados pelo regionalismo e o forte cunho de crítica social e política. Inspirando-se livremente na vida do romancista, Simões se concentra em um período específico, o ano de 1939, quando, após sair da prisão – por se opor ao governo de Getúlio Vargas – Jurandir aceita o trabalho de percorrer o arquipélago paraense inspecionando escolas públicas.
Refazendo o percurso flúvio-marítimo de seu objeto de estudo, visitando as instituições de ensino da região, Simões constrói um diário de viagem através de cartas que Jurandir teria enviado à esposa, tratando dos percalços do trabalho, de temas cotidianos e pessoais, como o lançamento de seu primeiro livro, Chove nos Campos de Cachoeira. A própria diretora serve como narradora, interpretando os textos imersos em observações poéticas sobre diversos aspectos da vida local, como a fauna, a flora, o vocabulário e, especialmente, o aspecto humano. Tal jornada permite que se trace um paralelo entre as realidades da década de 1930 e dos dias atuais, revelando que estas não são tão distantes quanto se imaginaria. A precariedade do ensino permanece, conflitando com a noção esperançosa da educação como única via para um futuro melhor, algo exposto pelas falas dos pais, essencialmente trabalhadores rurais, que desejam que os filhos tenham as oportunidades que não tiveram, e dos próprios estudantes, que reafirmam o desejo de abandonar as ilhas para fazer faculdade “na cidade grande”.
Desse contato direto com os habitantes locais, Simões extrai algumas reflexões genuinamente espontâneas, e por isso mesmo preciosas, sobre as estruturas sociais do país, particularmente na entrevista feita com um grupo de vaqueiros. “Pra que ele quer tanta terra se no final só se leva sete palmos cheios em cima do peito?”, questiona um dos entrevistados ao falar sobre uma invasão ocorrida nas terras de um grande fazendeiro. Contudo, ainda que esses depoimentos proporcionem alguns outros momentos de interesse, como o do agricultor que encontra a graça nas flores, as quais não sabe nomear, em meio à sua rotina árdua e bruta de trabalho, é mesmo na faceta ilustrativa da jornada de Jurandir que se encontra a verdadeira força do longa. É a tradução imagética do texto, seja ela literal ou alegórica, que transborda o lirismo pretendido pela cineasta, dando corpo, através das belas paisagens naturais e da captura sensível de extratos do cotidiano, aos sentimentos de Jurandir.
Da revolta contra o sistema patriarcal, e a vontade de expor ao mundo a desconhecida, ou ignorada, aflição de seus iguais marginalizados, aos sentimentos mais íntimos, como o amor pela esposa e filho, a desesperança, a dor da perda, a saudade e a solidão – esta bem representada nas imagens noturnas do barco se movendo pelas águas tendo apenas o relance das luzes de outras embarcações e de humildes moradias cortando a escuridão que engole as palavras do escritor – tudo é abordado com desenvoltura em O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva. E, ainda que por vezes a busca pela carga poética não se sinta tão natural – com algumas sequências se prolongando em demasia à espera de um instante de beleza que nem sempre ocorre – no geral, esse retrato de um ambiente a princípio tão particular, mas que no fim espelha a realidade de grande parcela do Brasil profundo, onde a possibilidade de mudança permanece à deriva, se mostra bastante sincero e pungente, servindo ainda para reavivar o interesse acerca da obra de Jurandir.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Leonardo Ribeiro | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
MÉDIA | 7.5 |
Quero assistir ao filme. Como faço? Há um link?
Minha Dissertação é sobre Dalcidio Jurandir ( a personagem D. Amélia). Gostaria muito de assistir a esse documentário. Como faço?