Crítica
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Sinopse
Um casal jovem do sertão alagoano se encanta com o circo de passagem por sua cidade nos anos 1930. Isso é decisivo para eles decidirem montar a própria trupe. Mais de 90 anos depois, seus descendentes mantêm a tradição.
Crítica
Para muitas pessoas, o circo remete ao passado, emana um quê de nostalgia. Filmes como Bye Bye Brasil (1979), de Cacá Diegues, tratam das enormes dificuldades das artes mambembes diante de espetáculos mais “modernos” ou convenientes ao público, tais como a televisão, por exemplo. Dentro dessa mesma perspectiva, são comuns os retratos de circos atuais como instituições que lutam bravamente contra essa ideia bastante difundida de sua obsolescência, no meio da batalha inglória pela manutenção de uma tradição milenar ameaçada por outras formas de entretenimento. O Circo Voltou, novo filme do aclamado cineasta paraibano Paulo Caldas, não utiliza esse prisma pessimista para abordar a trajetória do Circo Spadoni. Claro, são citados os contratempos constantes na rotina da trupe que passa grande parte de seu tempo em deslocamento. Porém, os empecilhos mencionados são mais de ordem prático-logística do que necessariamente atrelados a uma ideia do circo como algo ultrapassado. Aliás, a estrutura do Spadoni é aparentemente bem montada, haja vista as caminhonetes e caminhões que fazem o transporte de pessoas e equipamentos, bem como a felicidade compartilhada pelos membros dessa verdadeira família nos seus depoimentos. Em vez de se focar na contextualização do circo na nossa contemporaneidade (como segue se encaixando?), o diretor o utiliza como ferramenta.
Em O Circo Voltou, a arte circense é constantemente elogiada, seja pelas pessoas que vivem dela ou ainda em virtude da reverência de Paulo Caldas ao se aproximar desse universo. Não há a presença de um questionador, do cineasta como entidade à parte que interrompe o cotidiano da trupe para dela extrair alguma coisa conveniente ao cinematográfico. A isso, Caldas prefere manter-se relativamente incógnito, nunca revelando as perguntas e provocações feitas a fim de obter determinadas respostas e/ou seguir um fluxo narrativo mais ou menos pré-determinado. Na seara documental é praticamente impossível estabelecer previamente tudo o que vai acontecer. Geralmente, se parte de uma (ou de várias) intenção e o contato com os cenários e os personagens oferecem o conteúdo, o tom, as informações, etc. Essa necessidade de apurar a sensibilidade diante da realidade – atributo imprescindível ao documentarista – aumenta aqui por conta das demandas da estrada. Mesmo quando são ficcionais, os chamados road movies contêm esses desafios atrelados aos imprevistos do deslocamento, geralmente assimilando elementos antes não imaginados. Tendo isso em mente, podemos dizer que Paulo Caldas pressupõe o aproveitamento de eventualidades quando escolhe fazer um documentário de estrada. No entanto, o resultado parece um pouco calculado e assim perde traços de vivacidade.
Para manter-se incógnito, Paulo Caldas transfere à boca de alguns personagens específicos os questionamentos que lhe parecem fundamentais para remontar à história do Circo Spadoni. E isso fica evidente na cena em que a esposa de José Wilson (proprietário do circo) pergunta a ele sobre a motivação para a fundação nos anos 1980 da Escola de Circo Picadeiro, mas também nos instantes em que o filho indaga coisas essenciais ao pai. Imagina-se que tanto a esposa quanto o filho conhecem essas histórias de cabo a rabo, pressuposição que enrijece um pouco essas interações nas quais os questionadores representam o papel desempenhado na realidade pelo diretor. O Circo Voltou cresce quando a trupe chega a determinados lugares, especialmente numa comunidade quilombola e numa localidade indígena. Nessas ocasiões, José Wilson não apenas monta um espetáculo para entreter populações que raramente têm acesso a esse tipo de espetáculo, mas também conversa com as suas lideranças e demonstra uma vontade genuína de contribuir com elas a partir de sua arte. Esses episódios ajudam a refazer a própria origem sertaneja do Circo Spadoni, o que confere substância à jornada pessoal desse homem que pretende levar a família (de sangue e de arte) para apresentar-se pela primeira vez em sua terra natal. É na conexão entre aspectos distintos da História que o filme cresce para além do retrato.
Cineasta habilidoso, Paulo Caldas insere um componente lúdico para ilustrar as histórias que José Wilson conta ao filho pequeno – menino que perpetua a tradição familiar se apresentando no circo como o palhaço Perereca. Quando o protagonista fala de uma cidade aterrorizada pelo boato da presença do lobisomem ou mesmo ao rememorar o ataque sofrido por uma pantera (na época em que animais ainda faziam parte do espetáculo), surgem na tela rápidas animações que reforçam essa natureza poética da oralidade à contação de histórias. Portanto, é mais um dado cultural fundamental que o filme ao menos sinaliza em seu percurso. Os depoimentos da trupe têm menos importância do que os pequenos flagrantes de suas rotinas. As falas se restringem a oferecer vislumbres das trajetórias pessoas de alguns integrantes, mas isso não é desenvolvido ou substanciado ao longo do documentário. Já as imagens do cotidiano – paradas para comer, método de publicidade, afazeres gerais, esforço braçal para montar e desmontar a estrutura a cada viagem, etc. – formam um painel interessante sobre a existência de um circo plenamente funcional como instância de resistência em pleno século 21. Às vezes o foco do filme fica difuso, pois os assuntos subjacentes e as abordagens periféricas ameaçam tomar o protagonismo desse retorno com contornos de périplo (afinal, José volta ao seu ponto inicial). Porém, ainda assim o resultado é positivo pela sensibilidade como esse universo é observado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Celso Sabadin | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 6 |
Olá, boa tarde. me chamo João Paulo Soares e sou o roteirista do filme, conforme vocês podem verificar com o diretor e os produtores. Peço que incluam meu nome.