Crítica
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Sinopse
Crítica
Segundo dos quatro curtas dirigidos por Wes Anderson dentro da Coleção Roald Dahl, O Cisne segue apostando na radicalização do estilo do cineasta voltado a um público cada vez mais seleto e fiel – paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a obra resultante é oferecida de maneira ampla e de forma democrática aos assinantes de uma das maiores plataformas de streaming do momento, uma vez que foram encomendados pela Netflix. O formato aqui empregado poderá assustar os desavisados, ao mesmo tempo em que contém os elementos necessários para provocar deleite no mais exigente dos admiradores do diretor, ansiosos por novas demonstrações de milimétrica simetria, emoções contidas, um humor bastante particular e uma visão de mundo uniforme e controlada, por mais absurda que possa soar na maioria das vezes. Eis, no entanto, o cerne da questão: conhecido por dar tanta atenção à forma, ele faz dessa oportunidade a ocasião para um mergulho, ainda que rápido, num discurso urgente e perturbador, de consequências que podem ir além do mero respirar e seguir em frente. Fala-se de traumas com potencial de perdurar por uma vida. Um conteúdo gigante envolto em aparência discreta, que ao invés de alardear para si as atenções, as reserva com cuidado apenas aos mais curiosos e interessados.
O protagonista chama-se Peter Watson, e é apresentado cercado de louvores e elogios pelo narrador interpretado por Rupert Friend – que já havia colaborado com Anderson em Asteroid City (2023). Watson, aqui visto enquanto criança na pele de Asa Jennings (um dos dubladores originais de Sing: Quem Canta Seus Males Espanta, 2016), é também apresentado como o próprio Friend, como se esse estivesse se dirigindo a si mesmo, porém em dois estágios distintos de sua vida. No entanto, o adulto se faz presente, uma vez introduzido por ninguém mesmo do que Roald Dahl (Ralph Fiennes, repetindo o personagem visto antes em A Incrível História de Henry Sugar, 2023), não para um exercício filosófico de si consigo mesmo, mas para através dessa dinâmica conseguir colocar no centro do debate uma questão que não pode ser ignorada: o bullying juvenil. Algo tão urgente hoje quanto em 1977, quando publicado pela primeira vez. Quase cinco décadas se passaram, porém a reflexão segue mais válida do que nunca.
Quando dois garotos – um deles interpretado por Truman Hanks, filho de Tom – ganham um rifle, decidem passar o resto do tempo livre daquele dia fazendo o que acreditam ser o melhor: matando pequenos animais que possam lhes servir de alvo. Porém, quando o caminho dos dois se cruza com o de Peter Watson, este entrará na mira deles, que não se cansarão em importuná-lo. Mas não com provocações ou deboches, e, sim, com agressões e demonstrações de força física. Quando colocá-lo amarrado no meio dos trilhos do trem não parece surtir o efeito necessário – mantendo-se imóvel e o mais encolhido possível, o menino consegue sair dessa com vida, uma vez que o máquina passa por cima dele sem afetá-lo – outras provações, progressivamente grosseiras e audazes, lhes serão impostas. A mais grave, no entanto, se revelará após alvejarem o mais lindo dos cisnes que, no meio do lago, tratava de apenas garantir a segurança do ninho. Watson é obrigado a nadar até lá e se certificar da morte daquele ser de imensa magnitude. Assim que descobre os filhotes, no entanto, mente para preservá-los, e essa decisão lhe custará caro.
Wes Anderson faz desse pequeno oprimido uma versão de si mesmo, por vezes indefeso diante de um mundo agressivo e selvagem, e por isso mesmo, obrigado a se defender da forma que melhor lhe couber. Peter Watson, criança ou adulto, se mostra em cena como garantia de ter sobrevivido aos abusos dos demais, mas seria isso uma verdade, ou apenas uma aspiração perdida no tempo? O Cisne usa do exemplo alvo alçado a uma condição de enaltecimento através do título escolhido para testar a efemeridade da beleza frente à violência dos ignorantes, mesclando suas vítimas através de uma liberdade poética que apenas os sonhos parecem permitir. Assim que as asas de um se mostram aptas a fazer que o outro voe para longe dos seus problemas, é de se perguntar o quão distante essa fuga ousará avançar, e se de fato tal recurso irá garantir sua salvação ou apenas adiar o inevitável, forçando, desse modo, uma nova forma – alternativa, mas ainda assim possível – de sobrevivência. Em apenas 17 minutos, o realizador oferece um dos seus contos mais incisivos. E essa reflexão, uma vez posta, é apenas o primeiro passo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Carlos Helí de Almeida | 5 |
Daniel Oliveira | 5 |
Arthur Gadelha | 4 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 5.6 |
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