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Crítica

De volta ao preto e branco costumeiro que cromatiza seus dramas em tons existencialistas, Philippe Garrel apresenta em O Ciúme uma breve história de amor, desencanto e muito do que há entre tais sentimentos. Desta vez, o cineasta francês discorre sobre as emoções que o tocaram na infância, quando seu pai deixou sua mãe para viver um novo romance, e enfatiza as consequências de uma separação para todos aqueles que de alguma forma acabam envolvidos por ela.

A partir de um argumento semelhante àquele que deu origem a seu curta-metragem Direito de Visita (1965), Philippe Garrel apresenta em O Ciúme a pequena Charlotte, que experimenta as novas configurações de uma família dividida. Seu pai, Louis, saiu de casa há pouco para viver com Claudia, uma atriz de cinema. Sua mãe, Clothilde, ainda tenta capturar um pouco da ternura de seu relacionamento esfacelado a partir da filha. Com esta dinâmica como premissa, o tema central de tantos filmes de Garrel – a consternação pela ausência da pessoa amada – é mais uma vez revisitado.

Numa trama autobiográfica em que coloca seu filho, o ator Louis Garrel, para representar a figura de seu pai, o também ator Maurice Garrel, o cineasta desenvolve uma curta narrativa que por vezes se perde em si mesma e na superficialidade de seus personagens, que acabam sujeitos ao talento de seus atores para os desenvolverem. O projeto inicial do cineasta era dar sequência para seu trabalho precedente, Um Verão Escaldante (2011), porém a falta de financiamento e o falecimento de seu pai (que era protagonista da produção) fez com que se contentasse com esta pequena obra resumida em 77 longos e por vezes fadigosos minutos.

Quanto ao elenco de O Ciúme, Louis Garrel desenvolve uma performance regular e pouco surpreendente, que é contraposta e até mesmo sublimada pela deslumbrante Anna Mouglalis – que investe num tom contido e enigmático para compor Claudia e ganha para si sequências arrebatadoras. A pequena Olga Milshtein também encanta e, em seu primeiro trabalho de destaque, esbanja carisma e descontração. Mas é Rebecca Convenant, como Clothilde, que merece todo o mérito de uma breve aparição. A bonita atriz precisa de apenas alguns segundos de projeção – os primeiros – para comover e ganhar o espectador.

Como era de se esperar, o exercício de estilo de Garrel com o preto e branco envolvente de sua fotografia é mais uma vez excepcional, como o diretor já havia provado em A Fronteira da Alvorada (2008) e Amantes Constantes (2005). A passionalidade e melancolia do cineasta ao explorar um assunto que lhe é tão íntimo também está impressa em sua obra. Ainda assim, o que resulta é uma história sem muito rumo, que se arrasta em algumas sequências desconexas e se confunde com personagens que por ela transitam sem declarar a que vieram. Um filme essencialmente belo, ainda que tenha pouco a dizer.

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