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Sinopse

Um assassinato ocorrido nas dependências do Museu do Louvre traz à tona uma série de pistas escondidas nas obras de Leonardo Da Vinci, revelando uma sociedade secreta que guarda segredos de 2 mil anos. São mistérios que agora podem abalar os fundamentos da Igreja Católica. O simbologista americano Robert Langdon, antes chamado para decifrar estes mistérios, passa a ser suspeito do crime. Mas será ajudado pela criptologista Sophie Neveu.

Crítica

O Código Da Vinci pode servir como um excelente passatempo literário, mas sua transposição para o cinema falha em muitos aspectos. Com quase 50 milhões de livros vendidos em todo o mundo, era natural que um fenômeno como este desembarcasse logo na tela grande. E se o livro tem lá seus problemas – o vocabulário simplista e a trama rocambolesca e inverossímil são recorrentemente lembrados – ao menos possui alguns méritos, como o início vertiginoso, que prende a atenção, e o fato de colocar questões intrigantes em discussão. Ou seja, é um fenômeno pop, e isso é impossível negar. Agora, estas mesmas qualidades do material literário estão ausentes em sua versão cinematográfica. Portanto, como não se decepcionar?

Dan Brown, o autor, entregou o livro para Akiva Goldsman, que se encarregou de escrever o roteiro. Este último foi oscarizado por Uma Mente Brilhante (2001), mas é importante lembrar também que foi ele o responsável pela história de Batman & Robin (1997), o fiasco que quase pôs fim à carreira do homem-morcego nos cinemas. E Goldsman seguiu à risca o que estava impresso, sem tirar nem pôr. Ou seja, com medo de decepcionar os fãs – que já conheciam o material – e nem incomodar a Igreja Católica, criou uma verdadeira salada, que atira para todos os lados, sem, no entanto, acertar em alvo algum. O que se tem é uma proliferação de referências, teorias polêmicas, questões pertinentes, mas tudo largado aleatoriamente, ao léu, sem desenvolvimento ou mesmo um enfoque mais aprofundado. Comportamento que esvazia a possibilidade de qualquer discussão, ou, principalmente, reflexão sobre o que se vê na tela.

O Código Da Vinci poderia convidar ao debate, mas prefere se vender como pipoca. Não há “código” algum ao ser desvendado, tudo é muito óbvio, explícito e direto. Cada novo mistério apresentado é solucionado em segundos, de forma prática e instintiva. No final, a conclusão parece patética, de tão absurda e “casual”. A mão pesada do diretor Ron Howard também não colabora, e as quase três horas de projeção parecem não acabar nunca. Cada obra deve ser independente. Para o filme ser compreendido, não pode ser necessário um conhecimento prévio do livro. Assim, com a imensa quantidade de informações que são despejadas sem um nexo forte que as conecte, um acaba funcionando como guia para o outro.

O livro deveria funcionar como base, apenas, e nunca ser levado às telas quase que na íntegra. Coisas precisam ser eliminadas, personagens alterados, situações remodeladas, tudo em nome de uma maior fluidez da ação. Esta coragem faltou aos realizadores, e o enredo ficou truncado, andando como uma montanha-russa que não chega a lugar nenhum. Tom Hanks, um ator conhecidamente talentoso, fica como uma barata tonta diante tanta correria, sem oportunidade para explorar suas capacidades dramáticas. A total falta de empatia entre ele e a francesa Audrey Tautou também compromete. Um personagem importante no livro, o bispo Aringarosa (Alfred Molina) é tão mal aproveitado no filme que melhor seria se tivesse sido eliminado. Já a personalidade do albino Silas (Paul Bettany, que conseguiu transformar uma figura emblemática num clichê ambulante) dissipou-se, colocando-se como um capanga comum, sem motivações relevantes. O único que demonstra se divertir do início ao fim é sir Ian McKellen. Mesmo assim, seu personagem é mal desenvolvido pelo roteiro, e o ator faz milagres diante as poucas condições que lhe são oferecidas.

Bem, e sobre a trama em si? O Código Da Vinci começa com o curador do Museu do Louvre, em Paris, sendo assassinado. Um escritor, especialista em simbologia, é considerado suspeito, e além de provar sua inocência terá que descobrir quem cometeu esta barbaridade, tendo ajuda apenas de uma criptógrafa da polícia, não por acaso neta do falecido. Juntos os dois irão percorrer uma série de lugares e revelações, que podem indicar a existência de uma sociedade secreta – o priorado do Sião – destinada a preservar a identidade secreta de uma possível linhagem de herdeiros de Jesus Cristo e Maria Madalena. Questões tão controversas quanto mirabolantes. Mesmo assim, o impressionante sucesso da produção nas bilheterias – mais de US$ 200 milhões em todo o mundo no primeiro final de semana em cartaz – garantiu uma continuação, Anjos e Demônios, que chegou às telas em 2009. Mais material para protestos, elucubrações fantasiosas e movimentação nas bilheterias? Certamente. Agora, em termos cinematográficos, a espera continuou, já que nesta primeira incursão os pesares são muito superiores aos méritos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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