Crítica
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Sinopse
Crítica
Clichê não se torna clichê por acaso. Estes recursos, sejam eles narrativos ou visuais, se tornam batidos por dois motivos: primeiro, por serem usados à exaustão, e segundo, simplesmente pelo fato de funcionarem – afinal, caso contrário ninguém os empregaria uma segunda vez. No entanto, ainda que possam causar algum efeito no espectador mais desprevenido, na grande maioria sua utilidade se perde com o tempo, soando como piada velha – aquela que todo mundo conhece o final e que já não possui a menor graça. Pois é exatamente isso o que acontece com O Concurso, mais uma comédia nacional que chega aos cinemas brasileiros na disputa por uma grande audiência, mas que naufraga no principal: a falta de uma boa história a ser contada.
Logo de início, ficamos a par de estatísticas impressionantes: anualmente, no Brasil, cerca de 12 milhões de pessoas prestam concursos públicos, e apenas 0,001% dessas são aprovadas. Segundo a lógica do filme, portanto, “é mais fácil ser atropelado por uma manada de hipopótamos do que ser aprovado numa destas provas”. Mas ao contrário do que se poderia imaginar após este anúncio, O Concurso não se prende nas dificuldades em conseguir tão sonhada vaga. Não há quase nada em todo o enredo sobre as exigências de estudos, sobre o grande número de concorrentes ou sobre as recompensas que estes cargos oferecidos costumam proporcionar aos que os conquistam. A trama segue por outro lado, mostrando um episódio isolado que acontece no intervalo entre a seleção em si e o resultado final. Uma aposta confusa e arriscada. Se fosse numa redação, a avaliação indicaria “fuga do tema proposto”. O carioca Caio (Danton Mello) é um advogado porta-de-cadeia, malandro e cheio de problemas. O paulista Bernardo (Rodrigo Pandolfo) é um caipira do interior virgem que ainda mora com a mãe. O cearense Freitas (Anderson De Rizzi) é um carola ingênuo com alergia à gatos. E o gaúcho Rogerio Carlos (Fábio Porchat) é o filhinho do papai que precisa honrar o nome da família, ao mesmo tempo em que tudo que deseja é, literalmente, soltar a franga. Os quatro são finalistas num concurso para juiz federal, e como há apenas uma vaga disponível, são chamados no Rio de Janeiro para prestarem a prova final, que será feita numa segunda-feira, às oito horas da manhã. Até lá eles possuem um final de semana inteiro na cidade maravilhosa, e como se pode imaginar num filme desse naipe, neste período tudo pode acontecer.
A cena inicial de O Concurso mostra os quatro candidatos chegando para a prova, todos nas piores condições possíveis: Caio vem algemado e escoltado por policiais, Bernardo está descabelado, todo arranhado e com marcas de batom pelo corpo inteiro, Freitas chega de ambulância, acompanhado pela esposa e por uma roda de santo, e Rogerio Carlos aparece... vestido como uma drag queen. A partir deste ponto tem-se a versão tupiniquim dos filmes da série Se Beber Não Case: volta-se no tempo para mostrar o que aconteceu a cada um e como foi possível ficarem ao estado em que agora se encontram. O melhor de O Concurso é seu elenco, composto por verdadeiros talentos cômicos. Danton mostra, após Vai Que Dá Certo (2013), uma liderança natural para este tipo de história de grupo, agindo com bastante naturalidade e sem exageros. Porchat, famoso pelos quadros internéticos da Porta dos Fundos, compõe um gaúcho de Pelotas afeminado que provoca riso fácil, seja pelos trejeitos, pelo sotaque ou pelas tiradas inesperadas, e se tivesse mais espaço poderia até roubar o filme para si – o que acaba não acontecendo. Anderson estreia aqui no cinema, e tem também o desempenho mais tímido, não indo além do nordestino genérico que todos conhecem. O melhor, no entanto, é o quase onipresente Rodrigo Pandolfo (em seu terceiro filme apenas em 2013), que além de protagonizar o melhor conto (ajudado por sua parceria em cena, a sempre carismática Sabrina Sato), defende também os momentos mais engraçados e corajosos, abusando da própria nudez, sem medo do ridículo.
Mas um filme não é feito apenas dos seus atores principais, infelizmente. E é aí que O Concurso tropeça. A direção de Pedro Vasconcelos, mais conhecido pelo tempo em que era ator de novelas como Vamp (1991) e A Próxima Vítima (1995), é bastante simplista, sem nenhum rebuscamento ou originalidade, revelando sua pouca experiência cinematográfica. Não há ousadia no seu olhar, e nem sensibilidade em equilibrar os elementos mais fracos da sua produção com aqueles melhor estruturados. Como resultado tem-se um filme sem ritmo, que tenta se sustentar em alguns momentos mais iluminados, mas que no final deixa apenas a sensação de que poderia ter sido melhor. Legítimo bonitinho, mas ordinário, é tão descartável quanto um exame já vencido.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Ailton Monteiro | 4 |
Alysson Oliveira | 2 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 2.8 |
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