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Sinopse

Thomas é um alemão dono de uma confeitaria que viaja para Jerusalém em busca da esposa e filho de Oren, seu amante morto. Ao chegar lá começa a trabalhar para a viúva, que não tem ideia de que eles compartilham uma tristeza sem nome sobre o mesmo homem.

Crítica

Há pouco menos de vinte anos, o diretor turco-italiano Ferzan Ozpetek dirigiu o longa Le Fate Ignoranti– que, no Brasil, recebeu o título genérico de Um Amor Quase Perfeito (2001) – um dos seus primeiros trabalhos de maior destaque. Nele, contava a história de uma mulher que, após a morte do marido, ao mexer nas coisas dele, acaba descobrindo a existência de um amante – exatamente, um, e não uma. Diante desta revelação um tanto inesperada, sem saber ainda como proceder, aos poucos vai se aproximando daquele desconhecido que, assim como ela, amava a mesma pessoa. E, em suas dores, um acaba encontrando conforto nos braços do outro. Pois bem, o tempo passou, e agora o diretor israelense Ofir Raul Graizer decidiu contar a mesma história, porém sob o ponto de vista inverso. O resultado é esse O Confeiteiro, um longa que até desperta alguma curiosidade em um ponto ou outro do seu desenvolvimento, mas nunca chega sequer a ficar aos pés do seu semelhante – ao qual, aliás, para piorar sua situação, não assume a coincidência, indo de meras similaridades a um terreno próximo do plágio.

Thomas (Tim Kalkhof, visto na série Homeland, 2015) é um confeiteiro em uma doceria em Berlim que seguido recebe a visita de Oren (Roy Miller), que vai até ele se declarando fã dos biscoitos e demais doces preparados pelo rapaz. A constância se transforma em proximidade, e quando percebem os dois estarão dividindo a mesma cama. Acontece que Oren não mora na mesma cidade – nem no mesmo país. Ele é de Israel, e vai seguido para a Alemanha – mais ou menos uma vez por mês – por motivos profissionais. Quer dizer, era assim no começo. Hoje, já leva uma vida dupla. Sim, pois na sua terra natal possui uma esposa e uma criança. Isso nunca foi segredo. E ainda que por mais de um ano Thomas tenha levado sem muita preocupação esse quadro adiante, aceitando ser o “outro” numa boa, tudo muda no dia em que Oren parte de volta para casa, e deixa de lhe atender.

Sentindo-se tão abandonado quanto perdido, bastará uma investigação superficial para que descubra o que realmente aconteceu: Oren está morto, vítima de um acidente. Sem saber o que fazer, quando se dá conta está em um avião e se vê pelas mesmas ruas onde o falecido amante frequentava. A partir das lembranças das conversas que tiveram, facilmente acaba encontrando a viúva, que é dona de uma cafeteria. Da mesma forma, sem muitas reviravoltas, logo estará trabalhando para ela, ajudando em serviços gerais, até que, num dia sozinho, decide voltar a cozinhar. E a excelência dos doces desperta tanto a curiosidade – e o apetite – da dona (e agora amiga) como também um sinal de alerta no cunhado dela. Afinal, o rapaz é alemão – e estamos em Israel. E segundo, o estabelecimento dela segue as diretrizes kosher – o que determina rigorosamente que ninguém de outra religião possa cozinhar seus alimentos.

Há uma interseção interessante nesse ponto da trama. A discussão entre as regras judaicas, as tradições familiares e o passado dos personagens vai, aos poucos, ganhando novos ares, a ponto de levantar questões pertinentes. Anat (Sarah Adler, a melhor em cena), mesmo um ano após a morte do marido, segue aprendendo como ser uma mulher independente em um país de cultura tão fortemente machista. A presença constante do cunhado (Zohar Shtrauss, de Maria Madalena, 2018) tanto lhe oferece amparo como uma preocupação a mais, pois ele serve como apoio, mas também como uma vigilância extra. Thomas, aos olhos dela, soa despreocupado e sem maiores interesses, e justamente por isso funciona como uma válvula de escape para os problemas mais urgentes que enfrenta. Tanto é que, não tardará, os dois encontrarão, um no outro, um amparo que talvez nem percebessem o quanto precisavam. No entanto, nenhum segredo dura para sempre.

A maneira como Graizer, que além de dirigir é também o roteirista da história, conduz cada acontecimento, tem tantos elementos curiosos como outros um tanto desnecessários. Se por um lado acerta nessa investigação a respeito do choque de culturas, por outro resvala na inclusão de personagens que nada acrescentam ao dilema dos protagonistas – como o filho ou a mãe do falecido. Mas nada é mais problemático do que a performance supostamente contida, porém não mais do que apática, de Tim Kalkhof, uma figura sem paixão nem desejo, que soa mais como se levada pelo vento do que dona de vontades próprias. Ele é tão desprovido de personalidade que torna a tarefa de se identificar com os eventos que lhe sucedem um exercício desgastante e infrutífero. Afinal, se é para rever a mesma história, que ao menos essa nova leitura soe minimamente original aqui ou ali, justificando esta segunda visita. Algo que poucas vezes se sucede em O Confeiteiro, filme que perde a oportunidade de encantar os olhos, não estimula o paladar e pouco aquece o coração.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
5
Chico Fireman
6
MÉDIA
5.5

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