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Crítica


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3 votos 7.4

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Sinopse

Preocupada com a possível obsolescência de sua carreira, uma atriz decide vender a própria imagem a um estúdio de cinema. Uma vez escaneada, ela passa a existir indeterminadamente no mundo virtual.

Crítica

Adaptado a partir de uma obra do legendário escritor de ficção Stanislaw Lem – autor, por exemplo, de Solaris (2002) – O Congresso Futurista pode ser rapidamente classificado como bizarro, alucinante, intrigante e surreal. A partir de seu imaginário incomum, Ari Folman compõe um hibrido entre live-action e animação que desafia qualquer espectador; aqueles familiarizados com seu trabalho anterior, Valsa Com Bashir (2008), talvez já saibam que a obra do cineasta se distancia muito do que concebemos como tradicional.

O filme apresenta Robin Wright como uma versão de si mesma: mãe solteira de dois filhos, um deles com delicados problemas de saúde, a atriz amarga o ostracismo de uma carreira que já foi brilhante e que se distancia cada vez mais de seu auge. Sem qualquer trabalho relevante em muitos anos, seu agente (um carismático Harvey Keitel) e o estúdio que a representa, curiosamente nomeado Miramount, sugerem uma nova tecnologia para capturar sua imagem e emoções digitalmente para futuros filmes. Assim, ela nunca mais precisaria atuar novamente, enquanto sua personalidade virtual se tornaria a protagonista de incontáveis filmes e teria exclusividade sobre sua identidade cinematográfica. Munido de artifícios pouco convencionais, Folman se vale de novos recursos para a técnica da rotoscopia, já brilhantemente apresentada por Richard Linklater nos filmes Waking Life (2001) e O Homem Duplo (2006) – e o diretor atinge níveis inéditos de profundidade, movimento e transições para sua animação em duas dimensões. Enquanto propõe previsões assustadoras para o futuro do cinema, o realizador israelense integra duas realidades em um ambicioso universo, impressionantemente estilizado e artístico.

A crítica ao cinema contemporâneo, a massificação de uma arte, a tecnologia suprimindo a inteligência e as consequências desta indústria cultural são alguns dos temas de O Congresso Futurista, potencializados com o episódio animado que cerca uma população que refuta suas duras realidades enquanto mergulham cada vez mais em sonhos e fantasias. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2013, o filme recebeu opiniões mistas e encontrou a mesma recepção quando lançado comercialmente, o que é compreensível dada as dimensões e intenções do realizador para com sua obra. O Congresso Futurista não se esforça em explicar as razões que transformam o real em desenho animado, porém esta transição ocorre numa sequência genial na qual Robin Wright dirige seu carro vintage numa longa estrada que aos poucos ganha contornos lisérgicos e oníricos. Uma vez neste universo ilustrado, caricaturas de Tom Cruise e Marilyn Monroe dividem espaço com obras de arte que fogem de suas telas, como uma voluptuosa Vênus de Milo. O espectador é convidado para esta imersão e, assim como a protagonista, procura desesperadamente por sentido e resoluções que constantemente lhe escapam.

Stanley Kubrick disse certa vez que se algo pode ser pensado ou escrito, pode ser filmado. Ari Folman expande esta máxima ao quebrar barreiras do que se entente como possível e conceptível para o cinema, provando que efetivamente não existem quaisquer limites. Numa assertiva conexão entre a realidade fílmica e o lirismo da animação, Folman entrega uma obra espetacular, um testamento particular pouco otimista para o que pode ser o futuro desta arte que tanto admiramos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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