Crítica
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Sinopse
Crítica
O diretor Luiz Villaça é um cara ‘família’. Costuma trabalhar com a mulher, a atriz Denise Fraga, e suas obras normalmente abordam o universo dos relacionamentos humanos. E seu novo filme não foge dessa vertente, apesar de acrescentar um novo elemento à mistura: O Contador de Histórias carrega consigo o explicativo ‘baseado numa história real’! Depois do genial e pouco visto Por Trás do Pano (grande vencedor do 5º Prêmio Guarani, em 2000) e da comédia romântica Cristina Quer Casar, Villaça teve esta nova inspiração ao pegar para ler antes dos seus filhos dormirem o livro O Contador de Histórias, de Roberto Carlos Ramos. Ali estava narrada a incrível trajetória do autor, um menino que foi deixado na Febem pela própria mãe, virou garoto de rua e teve a sorte de ser adotado por uma pedagoga francesa, que estava no Brasil para uma pesquisa. Com a ajuda dela, conseguiu encontrar um rumo, e hoje é um dos maiores nomes na área de educação infantil em todo o país. Uma história tão fantástica que precisava ser contada, seja de forma documental ou através da ficção.
O Contador de Histórias, o filme, se equilibra entre momentos de pura genialidade com outros completamente medíocres. Um dos maiores defeitos está justamente na direção de Villaça, que aparenta estar intimidado com a importância do que está narrando. Ou seja, faz tudo direitinho, bem como manda a cartilha – e, justamente por isso, sem inovar ou apresentar um olhar mais original e diferenciado. E isso que o roteiro abre estes espaços: a imaginação criativa do protagonista deveria ser explorada com muito mais entusiasmo, e não se restringir a um ou dois exemplos espalhados pela projeção. O garoto via o mundo com outros olhos, curiosos e irrequietos, e esta compreensão é fundamental para o entendimento do personagem. Só que este esforço deve ser feito pelo espectador, uma vez que o cineasta responsável se acanha diante esta tarefa.
Mas nem tudo está perdido, e o maior ganho da produção é o elenco coeso e muito bem preparado. A franco-portuguesa Maria de Medeiros tem reputação internacional (Pulp Fiction, Henry & June, Capitães de Abril), mas já havia se aventurado pelo cinema brasileiro antes (O Xangô de Baker Street), e se sai muito bem como a mulher que fez a diferença na vida desta criança. Já os meninos que se revezam no papel principal – principalmente os dois menores, Marco Antônio e Paulo Henrique – são revelações surpreendentes. Eles são vívidos, ágeis, com olhos vibrantes e tão verdadeiramente entusiasmados que a impressão que temos é de estarmos diante de um documentário, e não diante de intérpretes. Outros nomes de apoio, como Chico Díaz, Malu Galli e Jú Colombo acrescentam ainda mais interesse ao projeto como um todo.
Com produção carinhosa da Denise Fraga, O Contador de Histórias é um projeto que nasceu dentro de uma família, e revela ao nosso país que ele ainda pode ter solução. Se um caso tão irremediável como este – e o próprio Roberto Carlos Ramos aparece no final, testemunhando a veracidade de tudo que foi explicitado até aquele instante – teve um final feliz, o que impediria que tantos outros similares, que se espalham por nossas ruas de norte a sul, não alcancem o mesmo destino? Seguindo por este caminho, temos um longa que, mesmo sem ser artisticamente relevante, se torna imprescindível ao levarmos em conta o contexto sociocultural em que se encontra inserido. Afinal, esta é uma trama tão incrível que só poderia ser verdadeira. Inspirador e bastante humano, é um filme que merece existir, não tanto por quem o realizou, mas sim devido ao modo como deverá tocar cada um que o assisti-lo. Aí sim ele poderá fazer alguma diferença.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Alex Gonçalves | 7 |
MÉDIA | 3.5 |
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