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Crítica
Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. O Coronel e o Lobisomem não chega a ser tão problemático quanto a recepção que o filme recebeu, ao chegar aos cinemas, deu a entender, mas também está longe de se mostrar a maravilha prometida durante sua realização. Num ano relativamente fraco para o cinema nacional – o único sucesso daquela temporada foi mesmo o impactante 2 Filhos de Francisco (2005), que somou mais de 5 milhões de espectadores; todos os demais títulos lançados na mesma época ficaram com público abaixo de 1 milhão – qualquer novo lançamento com perfil mais popular parecia ser uma aposta certa. Afinal, se esperava por um novo O Auto da Compadecida (2000), uma repetição de Lisbela e o Prisioneiro (2003), uma vez que Guel Arraes e Paula Lavigne, agora ambos como produtores, estavam mais uma vez presentes. Mas a direção ficou a cargo de Maurício Farias (realizador de vários projetos na televisão, como o seriado A Grande Família, 2011-2014), que imprimiu um toque pessoal à produção, deixando-a com uma cara diferenciada. Para o bom e para o ruim que isto possa significar.
O coronel Ponciano Furtado (Diogo Vilela, divertido e à vontade no papel) herdou a fazenda dos pais, e com isso as obrigações. A maior é a de que possa haver um lobisomem nas redondezas. Preocupado, já que cabe a ele eliminar a ameaça, seus problemas aumentam quando (1) suspeita-se que a fera seja o irmão de criação Pernambuco Nogueira (Selton Mello, num tom monocórdio irritante) e (2) a prima (Ana Paula Arósio, deslocada e sem a leveza exigida pelo tom da narrativa) o abandona, após incitá-lo planos casamenteiros. A paixão será renovada anos depois, quando ela volta – mas, desta vez, casada com Pernambuco. Este, agora, está formado e se apresenta para cuidar dos negócios da propriedade, que andam esquecidos. Sem a dúvida da maldição (que, mesmo não resolvida, é deixada de lado), o coronel acaba por cair em sua lábia, sem perceber o golpe. Anos depois, os dois precisam se defender num tribunal: o que foi enganado afirma ser vítima, no final das contas, de um maldito plano concebido por um ser que nem mesmo pode ser considerado humano!
Adaptado de uma série de histórias escritas por José Cândido de Carvalho, O Coronel e o Lobisomem foi encenado pela primeira vez como um especial de televisão, que tinha Marco Nanini e Patrícia Pillar como protagonistas. A mesma equipe, no entanto, cuidou da transposição para o cinema, e os maiores cuidados se refletem no investimento nos efeitos especiais – alguns notáveis, como a transformação final – e o elenco de estrelas. Se o trio central, no conjunto, termina por decepcionar, o mesmo não se pode dizer dos coadjuvantes, cada um roubando a cena ao seu modo. Pedro Paulo Rangel é, indiscutivelmente, o melhor deles. Andréa Beltrão e Tonico Pereira também respondem por bons momentos. Por outro lado, nada justifica o desperdício de nomes como Marco Ricca e Francisco Milani (em sua última atuação, a quem o filme é dedicado), que parecem ter sido chamados apenas pelo nome que carregam, pois muito pouco tem ambos a fazer em cena.
A questão maior de O Coronel e o Lobisomem, no entanto, é a indecisão do roteiro. Sem se definir como comédia de costumes ou como uma obra mais séria e folclórica com toques sobrenaturais, acaba ficando no meio do caminho. É divertido, engraçado, mas também longo e cansativo. Como não era um romance, e sim a junção de diversas pequenas histórias, algumas se revelam desnecessárias e soam estranhas no contexto geral. Farias, que não consegue lidar com seus atores de modo uniforme – enquanto alguns seguem uma linha mais naturalista, outros apostam no exagero – também peca em deixar os elementos técnicos da produção um tanto soltos, sem uma unidade que os identifique. O que se tem, então, é uma obra acima de média, mas que ao mesmo tempo se mostra incapaz de fazer uso de muitos dos méritos reunidos que, caso estivessem alinhados, poderiam ter elevado o todo a um resultado mais de acordo com as expectativas.
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