Crítica
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Sinopse
Jay acorda num porão com outros três prisioneiros após uma incomum noite em família. Ele se envolve numa batalha para resolver o enigma que pode garantir a sua vida diante de um sequestrador vingativo.
Crítica
Em uma pacata noite em casa ao lado da esposa e das filhas, Jay (Bart Edwards) é surpreendido e atacado por um misterioso invasor. Ao acordar, ele se vê acorrentado num cativeiro, juntamente com outros dois prisioneiros, Kat (Alexandra Evans) e Adam (Richard Short), além de uma quarta figura, um homem com o corpo mutilado, praticamente à beira da morte, apelidado de Paul. Não demora muito para que Jay compreenda que está à mercê de um maníaco impiedoso em busca de vingança – ainda que desconheça a razão pela qual esteja sofrendo tal punição – cuja satisfação se encontra em colocar suas vítimas como protagonistas de jogos sádicos, obrigando-as a infligirem torturas umas às outras. A premissa de O Desafio, estreia em longas de ficção de Giles Alderson, de cara remete a diversas outras produções de suspense/terror nas quais os personagens se encontram, sem explicação aparente, lutando por sua sobrevivência, geralmente em ambientes reduzidos, ao lado de estranhos: de Cubo (1997), passando pela série iniciada por Jogos Mortais (2004) até o recente A Caçada (2020).
Tal qual seu ponto de partida, o desenrolar da trama se mostra bastante derivativo, trazendo uma narrativa que se alterna entre o presente no cativeiro, o porão de uma fazenda, e flashbacks do passado, que tratam basicamente das motivações do vilão. Ainda que esboce a tentativa de criar um estudo de personagem ao expor a infância traumática do facínora, sequestrado por um violento e perverso fazendeiro com quem desenvolve uma relação paternal deturpada – que envereda pela Síndrome de Estocolmo – no fim, Alderson injeta pouca densidade a essa construção que acaba dominada por sequências de crueldade gratuita, apenas estreitando a filiação do longa ao subgênero do torture porn, de títulos como O Albergue (2005). Assim, seu interesse é direcionado à sucessão de punições impostas aos encarcerados, que se acumulam de modo quase automático, sem que se crie uma atmosfera mais pungente de tensão e expectativa para a próxima intervenção do maníaco mascarado.
Esse apreço pelo choque, puro e simples, e pela aflição gerada pela violência gráfica, se impõe também sobre uma terceira linha temporal da história, que regressa um pouco mais, trazendo a revelação do mistério central que conecta todos os personagens e a razão da sangrenta jornada vingativa. Se todos os flashbacks servem para estabelecer uma contextualização mínima sobre a personalidade do vilão, o mesmo não ocorre com suas vítimas. Fora a rasa exposição da dinâmica familiar de Jay – um marido/pai ausente, mas amoroso – a construção dos outros personagens é quase nula, o que os torna descartáveis, com pouca identificação junto ao público para que se torça realmente por sua sobrevivência. Com isso, o elenco, ainda que correto diante de tais limitações, não tem muito espaço para se destacar – apenas Richard Brake, como o fazendeiro raptor tem alguma oportunidade de construção de tipo ligeiramente mais elaborada.
A direção de Alderson se mostra igualmente protocolar, e mesmo contando com uma boa parte técnica e valores de produção para um filme de baixo orçamento, apresenta parcos traços de originalidade. Uma aura genérica que começa pela ambientação não definida, sugerindo se passar em alguma localidade dos Estados Unidos – mesmo que quase toda a equipe, incluindo o cineasta, seja britânica e que as filmagens tenham ocorrido na Bulgária – e se estende a um apanhado de elementos encontrados em outras obras do gênero. Da máscara feita de pele humana à la Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica (1974), passando pela sequência de abertura com a câmera subjetiva emulando o olhar do maníaco que observa a casa de Jay, soando como uma referência ao prólogo do clássico Halloween (1978), de John Carpenter, até a obsessão do personagem por insetos, como o serial killer Buffalo Bill, de O Silêncio dos Inocentes (1991) ou o protagonista de O Colecionador (1965).
Sem se valer do exercício de gênero em suas possibilidades alegóricas, não inserindo comentários sociais ou morais mais notáveis – além da questão dos efeitos psicológicos nocivos do bullying, comum a boa parte deste tipo de história – O Desafio se contenta com o sadismo das torturas, não poupando litros de sangue falso e efeitos práticos convincentes. Tal acúmulo, porém, logo se torna repetitivo, com Alderson não demonstrando maior criatividade nas barbáries cometidas – exceção a uma sequência mais absurda envolvendo vermes e globos oculares. Tudo se encaminha sem reais surpresas a um desfecho que pretende ser mais esperto do que realmente é, abrindo espaço para continuações, e resultando em um produto de apelo limitado aos fãs mais ardorosos do gênero. Mas mesmo estes, por mais que possam se satisfazer com a entrega básica oferecida por Alderson, não devem encontrar muitos atributos que realmente diferenciem seu trabalho de tantas opções similares.
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