Crítica
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Sinopse
Winston Churchill acaba de se tornar primeiro-ministro britânico no ano de 1940, no começo da Segunda Guerra Mundial. Com o avanço do nazismo pela Europa e Hitler vitorioso, Winston se vê diante do dilema: aceitar um vergonhoso acordo de paz ou se engajar no conflito.
Crítica
Eventos históricos geralmente costumam render bons filmes. Principalmente se o olhar do realizador não se ater especificamente ao que aconteceu, e sim quais foram as reações a respeito do ocorrido. É preciso humanizar os fatos, para, assim, aproximá-los do espectador. Joe Wright, diretor de O Destino de uma Nação, até tenta fazer isso neste seu mais recente trabalho, mas falha miseravelmente. É uma pena, pois tinha em mãos um material riquíssimo. No entanto, tudo que alcança é uma encenação enfadonha e sem muitas surpresas a respeito de situações notoriamente conhecidas. E sem novidades ou um entendimento mais apurado dos fatos, o registro modorrento desta realização termina por encerrar suas chances de voos mais altos, a despeito de alguns dos inegáveis méritos envolvidos.
E se é preciso falar das qualidades – afinal, O Destino de uma Nação não está isento delas – a mais evidente é, obviamente, a atuação de Gary Oldman. Um dos atores mais subestimados de Hollywood, conseguiu sua única indicação ao Oscar até o momento por uma composição sutil e minimalista em O Espião que Sabia Demais (2011) – o oposto do que vemos dessa vez. Trabalhos ricos, como Sid & Nancy (1986), O Amor não tem Sexo ((1987), Rosencratz & Guildenstern estão Mortos (1990), JFK: A Pergunta que não quer Calar (1991), Minha Amada Imortal (1994) e A Conspiração (2000), entre tantos outros, ficaram ignorados. Resignado, parece ter decidido seguir o caminho de outros talentosos intérpretes que precisaram se transformar fisicamente para obter alguma atenção dos críticos e/ou da Academia, como Charlize Theron, Nicole Kidman ou Matthew McConaughey. Para compor Winston Churchill, Oldman passou mais de 200 horas sob testes de maquiagem até ficar semelhante ao ex-Primeiro Ministro da Grã-Bretanha. Um processo que soa como um tiro pela culatra: ele aparece tão soterrado por próteses e enchimentos que mal se percebe o ator por debaixo de tudo aquilo. O que lhe resta é a voz, que passa a maior parte do filme aos berros. Haja paciência.
É importante observar, também, que o Winston Churchill de Gary Oldman que encontramos em O Destino de uma Nação está situado em 1940, quatro anos antes do visto em Brian Cox no igualmente recente Churchill (2017) e uma década prévia àquele interpretado por John Lithgow na série The Crown (2016-). Por quê, então, ele está tão envelhecido e combalido? Talvez, como Kristin Scott Thomas, no papel de sua esposa, insiste em repetir a cada uma das suas raras aparições, por ser ele “o homem mais importante do mundo”. Wright usa todos os recursos disponíveis – como uma fotografia claustrofóbica, em um interessante jogo de luzes e sombras, que parece enclausurar progressivamente o protagonista, ou uma trilha sonora exagerada, intermitente e inoportuna – para reafirmar o óbvio: cabe à Churchill, naqueles dias de maio, logo após assumir a cadeira de Primeiro Ministro à pedido do Rei George VI, elaborar como a ilha conseguirá se opor aos avanços nazistas de Adolf Hitler, já no controle de quase toda a Europa Ocidental.
Churchill precisa decidir entre partir para a guerra em busca pela vitória, como ele deseja, ou se assentar e dar início, através de negociações, a um frágil acordo de paz, como o Primeiro Ministro anterior, Neville Chamberlain (Ronald Pickup, de O Exótico Hotel Marigold, 2011), e aquele que poderá ser seu substituto, o Visconde Halifax (Stephen Dillane, de Game of Thrones, 2012-2015), preferem. Esses dois – amigos pessoais do rei, é preciso dizer – acreditam que a causa está perdida, e o momento é de tentar minimizar as perdas. Churchill, por sua vez, insiste no tudo ou nada. Não há mistério sobre o que terminará acontecendo – qualquer conhecimento mediano da História do Século XX antecipa a verdade – mas o diretor busca a todo instante pontes com o espectador. Assim, investe de forma desajeitada na presença da secretária vivida por Lily James – ele chega a simplesmente interromper a ordem dos acontecimentos em cena para explicar novamente tudo que está sendo planejado para ela, como se o público já não tivesse compreendido, em um evidente gesto de menosprezo com a audiência – ou em passagens constrangedoras, como a do metrô, que mais parece saída de um conto de fadas do que do meio de uma das maiores crises da sociedade moderna.
Mais do que isso, no entanto, Joe Wright parece ignorar as tantas investidas do cinema recente sobre os fatos por ele abordado. Basta ter assistido ao espetacular – e infinitamente superior – Dunkirk (2017), de Christopher Nolan, por exemplo, para se esvaziar mais da metade da tensão que O Destino de uma Nação tenta emular. E se Ben Mendelsohn oferece um crível Rei George VI – à altura do composto por Colin Firth em O Discurso do Rei (2010) – é com pesar que observamos o elenco restante envolto em uma estrutura teatral – praticamente não há cenas externas – e entediante. Volta-se aos mesmos debates, discussões aparentemente infindáveis cuja dissolução todo mundo já sabe qual será. E se Oldman surge como uma furação, vociferando para todos os lados, quem não faria o mesmo tendo tal personagem em mãos? Só não precisava de todos esses quilos de maquiagem, que surgem mais como uma distração do que como elementos vitais ao que se busca na trama. E assim, fraco enquanto entretenimento e repetitivo como aula de história, tem-se aqui um filme que muito provavelmente será lembrado mais pelo que poderia ter sido do que pelo que, de fato, é.
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