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Crítica


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Sinopse

Crítica

O ano de 2017 tem sido bastante prolífico para o cineasta sul-coreano Sang-soo Hong. Na Praia à Noite Sozinha, A Câmera de Claire e O Dia Depois são as três produções lançadas pelo diretor neste período. Além de terem sido concebidas pelo mesmo artista, com temáticas bastante humanas, a trinca tem outra figura de ligação: Min-hee Kim, a atriz que protagoniza todas as obras. Exibido em competição no Festival de Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro, O Dia Depois é o mais interessante filme dessa rica tríade.

A trama, embora seja contada do ponto de vista do homem, Kim Bongwan (Hae-hyo Kwon), pode ser resumida melhor quando a colocamos na ótica de Song Areu (Min-hee Kim). Imagine a situação dessa jovem mulher. Em seu primeiro dia trabalhando na editora de Bongwan, ela tem conversas profundas com o novo chefe, relembrando dores do passado. Tendo o sonho de ser escritora, Areu parece ter encontrado o trabalho ideal. Mais tarde, sozinha na editora, recebe a visita de uma mulher transtornada, que a agride. É a esposa de Bongwan, Song Haejoo (Yunhee Cho), certa de que aquela garota é a amante de seu marido. Não é. Bongwan se defende como pode, mesmo tendo culpa no cartório. Areu não é sua namorada, mas isso não significa que ele não estivesse traindo a esposa. A ajudante anterior dele, Lee Changsook (Sae-byeok Kim), era a amante, tendo o deixado há um mês.

Acompanhamos essa confusão com o tradicional olhar de Sang-soo Hong. O cineasta costuma manter o enquadramento aberto, câmera parada, deixando que seu elenco dê o timing da cena. Os cortes são mínimos. Eventualmente, Hong escolhe aproximar-se dos personagens – e essa aproximação se dá pelo zoom da lente, não deslocando a câmera. O máximo de movimento que temos é uma panorâmica. São cenas talhadas pelos diálogos, com o diretor deixando tudo em segundo plano perante seu elenco.

Temos ótimas performances. Min-hee Kim é habitué dos filmes de Sang-soo Hong e, neste título, vive uma personagem sob fogo cruzado. Ela não fez nada para ser agredida, demitida ou esquecida – e todas essas coisas acontecem com ela, num momento ou noutro da história.  No ICS Cannes Awards, ela merecidamente recebeu o prêmio de Melhor Atriz. Enquanto isso, Hae-hyo Kwon tem uma tarefa curiosa. Seu personagem está envolvido com três mulheres – amorosamente com duas delas – e é um verdadeiro pulha. Covarde, sem qualquer integridade, Bongwan é um homem que deixa se levar pelo momento e não consegue responder à altura quando a situação aperta. Em suas cenas com Auren, demonstra certo charme, mas que se perde tão logo a vida real bate à porta. Sang-soo Hong parece se divertir ao conceber um protagonista de caráter e moral tão fracos. Como aquelas mulheres se apaixonaram por ele segue um mistério.

O Dia Depois é uma história calcada nas relações humanas e em personagens falhos. Para quem já conhece o trabalho do diretor sul-coreano, não trará muitas novidades no que tange à narrativa. De qualquer forma, mesmo trabalhando em terreno conhecido, Sang-soo Hong consegue trazer uma história que captura a atenção e nos faz esperar pelo próximo filme. Com a agilidade com que o cineasta vem trabalhando, não se surpreenda se ele chegar bem rápido.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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