Crítica


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Sinopse

Bridget Jones é uma mulher de 32 anos que, em pleno Ano Novo, decide que já está mais do que na hora de tomar o controle de sua própria vida e começar a escrever um diário. Com isso, aproveita também para colocar suas opiniões sobre os mais diversos assuntos de sua nova vida.

Crítica

Um dos piores males da humanidade é a solidão. As pessoas estão cada vez mais sozinhas, e, ao menos para o cinema mainstream, o grupo que mais sofre com essa nova realidade é composto por mulheres por volta dos 30 anos. Justamente por isso, a impressão que se tem ao assistir filmes como Os Homens são de Marte... E É Pra Lá que Eu Vou (2014) ou esse O Diário de Bridget Jones é que basta arrumar um bom partido para que se resolvam todos os problemas femininos. Essa visão, no entanto, é superficial e bastante reducionista. Pois em histórias como as vistas nestes longas, o foco, na realidade, está na protagonista feminina, suas dificuldades e conquistas. E é aí em que encontramos o diferencial destes projetos.

O livro no qual se baseia o britânico O Diário de Bridget Jones, da autora Helen Fielding, não consistia em um trabalho memorável, mas ao menos tinha uma lógica interessante, nos possibilitando um visão geral dos sentimentos que povoam a mentalidade das mulheres dessa faixa etária. São personagens grandinhas demais para continuarem morando com os pais, mas que ainda não encontraram o par perfeito para viverem ‘felizes para sempre’. Temas como indecisão profissional, insegurança social, amizades coloridas, trocas afetivas, ouvir e ajudar, preconceitos diversos, vícios proibidos e como lidar com a pressão familiar são constantes e, felizmente, sempre tratados com bom humor. O problema é que a maior parte destes elementos, presentes no livro, foram minimizados na transição para a tela grande.

Bridget Jones, interpretada com gosto por Renée Zellweger, é uma jovem que tem um flerte com o chefe canalha e conquistador. Porém, ao descobrir que ele está lhe traindo com outra, pede demissão e decide mudar de vida: arruma outra profissão, inverte seus valores, passa um tempo reclusa e promete se autodescobrir! Tudo muito bonito e organizado. No entanto, parece também um pouco gratuito, afinal ela só quer terminar junto ao herdeiro bonitão e simpático. Em sua versão literária, por sua vez, a personagem é uma eterna indecisa, que fuma como uma chaminé, passa os fins de semana inteiros na cama com depressão, vive estabelecendo metas que não consegue cumprir, detesta seu trabalho – mas tem medo de perdê-lo – e é iludida pelo charme do patrão galanteador. Lá, quando descobre a traição, até fica possessa, mas como é muito insegura, segue trabalhando e agüentando a humilhação e só troca de emprego ao receber uma indicação da própria mãe, e até no final tem dúvidas a respeito do seu futuro ao lado do novo parceiro. Quanto aos coadjuvantes, a situação é ainda pior. Tanto os amigos da protagonista quanto os pais dela são apresentados numa distância entre o original e o resultado final ainda maior.

É difícil estabelecer comparações entre uma obra e outra quando de naturezas diferentes, ainda mais em casos como esse, em que servem de inspiração entre si. Mas neste caso específico é de se lamentar o resultado, pois o que poderia ser um grande passo na direção de compreender a mente feminina acabou gerando mais um amontoado de clichês engraçadinhos que geram uma ou duas piadas de pouca graça. Salva-se a força desta personagem, realmente curiosa e que se sobressai dentre a mesmice geral, muito graças também ao talento de Renée Zellweger, num caso típico de intérprete de nasceu para este papel. Quanto ao resto do elenco, também nota-se um bom trabalho, algo comum nas comédias inglesas. O problema mesmo é o roteiro, que preferiu o sucesso fácil ao invés de apostar na inteligência do espectador.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
5
Chico Fireman
6
MÉDIA
5.5

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