Crítica
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Sinopse
Os grandes "magos" da tecnologia ditam tendências, condicionam cotidianamente a forma como pensamos, agimos e vivemos. Esses novos senhores da informação estão reprogramando a sociedade.
Crítica
O tom apocalíptico de O Dilema das Redes, para falar da atualidade, não é exatamente uma novidade. Aliás, esse tem sido um timbre bastante comum quando o assunto é um (ou vários) agente socioeconômico importante da nossa contemporaneidade. Indício também disso é que especialmente os CEO das empresas de tecnologia são desenhados com frequência pela ficção como uma mistura de cientistas malucos (arquétipo do passado) e capitalistas selvagens dispostos a romper limites para colocar em prática planos de enriquecimento e dominação. O documentário dirigido por Jeff Orlowski mistura entrevistas e dramatizações para desenhar outro painel preocupante da utilização, sobretudo, das redes sociais (mas não só) como elementos coletivamente e intimamente desestabilizadores. Um ex-funcionário do Google alerta à desproporcionalidade entre os tempos gastos no desenvolvimento de um design capaz de fisgar o usuário e na reflexão acerca da necessidade de não alimentar uma lógica viciosa e nefasta. Já um ex-executivo do Facebook discorre a respeito das estratégias de monetização baseadas num brutal engajamento naturalmente pernicioso e manipulador.
Há um caráter abertamente didático em O Dilema das Redes e ele se impõe na aplicação da ficção. Ao realizador não basta organizar depoimentos ao ponto de compreendermos o panorama atual mediado irremediavelmente por curtidas, compartilhamentos e a fabricada noção de comunidade entre os que concordam irrestritamente conosco. Por isso, lança mão de duas dinâmicas ficcionais. Uma delas, a familiar, na qual apela ao dado íntimo do espectador, traduzindo o que os especialistas dizem como indícios domésticos. Depois de mencionado o efeito colateral da exposição a certas ferramentas para a autoestima dos adolescentes, por exemplo, a câmera se detém no breve percurso da personagem levada a refazer uma postagem por conta da quantidade de interações obtidas a partir de suas fotos. Outras questões surgem nessa interlocução um tanto óbvia, mas funcional para adensar o retrato de uma situação paradoxal, ao mesmo tempo utópica e distópica. Mais do que apontar soluções, o filme se dedica à apresentação de uma realidade angustiante.
A outra conjuntura ficcional, essa apelativa ao lúdico, tange à personificação dos algoritmos trabalhando para que o jovem se mantenha conectado, compartilhando e consumindo, do conteúdo patrocinado por anunciantes aos mecanismos de retroalimentação de uma dependência naturalizada. Uma das boas sacadas nesse sentido é a gradual moldagem de um duplo cibernético, incessantemente estofado de informações e padrões de comportamentos que tornam cada vez mais fácil o processo de influenciar atitudes e pensamentos de quem permanece diariamente nas redes sociais. A natureza inquietante adquire contornos curiosos quando os especialistas mencionam as próprias suscetibilidades virtuais. Eles confessam suas vulnerabilidades apesar da total consciência do funcionamento das chamadas inteligências artificiais que nos “vendem” a preços módicos para anunciantes dispostos a qualquer tipo de estratagema para tornar a circulação de capital pulsante. O traço crucial é como o filme consegue sinalizar a tecnologia enquanto agente vital desse presente tão conturbado.
Oferecendo um panorama generalista, mas acurado o suficiente por revelações e constatações que vão se complementando numa lógica narrativa comum, O Dilema das Redes trata de mostrar como é assustador esse cenário sustentado por ferramentas construindo verdadeiras bolhas artificiais, condicionando comportamentos a tal ponto que as subjetividades perdem relevância numa nova articulação global. A partir dessa complexidade, o filme aponta a vários campos, entre eles o político, observando os movimentos globais de ruptura democrática e as famigeradas fake news – inclusive sublinhando rapidamente o Brasil pós-Bolsonaro como um sintoma do manuseio orientado pela desinformação. Considerações sobre a redução do indivíduo meramente ao seu potencial consumidor permitem questionamentos não aprofundados nesse filme que pode ser entendido como um alerta, diagnóstico diante do qual podemos fazer algo ou, conforme o usuário, tachar de material conspiratório/alarmista, haja vista que a confusão entre verdades e mentiras beneficia o engajamento, logo é sobressalente na hiperconectividade que reduz sutilmente nossa autonomia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Francisco Carbone | 7 |
Lucas Salgado | 7 |
Daniel Oliveira | 7 |
MÉDIA | 6.8 |
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