Sinopse
O General Aladeen coloca a própria vida em risco para evitar que a democracia "corrompa" a sua nação do Oriente Médio.
Crítica
A verve humorística de O Ditador é a América. Não há como pensar na construção de Aladeen, comandante supremo da República de Wadiya, sem perceber que as risadas estão ancoradas na liberdade de expressão. Interpretado por Sacha Baron Cohen, o protagonista é a união acidamente humorada dos estereótipos dos inúmeros governos autoritários espalhados mundo afora. Do renomado Irã e seus vizinhos à reservada Coréia do Norte e passando pela vizinha Venezuela, todos estão presentes. Isso é possível porque enquanto as democracias se diferenciam nos anseios e pelas deliberações dos seus povos, as tiranias se igualam pelo caráter sórdido da opressão.
Preocupado com a possibilidade do processo democrático chegar ao seu país, Aladeen – que significa tanto “positivo” quanto “negativo”, em crítica clara à onipotência do sujeito – viaja até o “ninho da serpente”, Nova York, a fim de fazer um pronunciamento junto à ONU. Ao chegar aos Estados Unidos, Tamir, braço direito do regime, coloca em prática o plano para assumir o poder. Sem Aladeen pela frente, anunciará a instauração de uma constituição democrática. O óbvio blefe servirá para colocar por terra os embargos comerciais e reavivar a economia de Wadiya.
Dirigido por Larry Charles (dos sucessos Borat e Brüno), O Ditador se distancia dos trabalhos anteriores de Cohen ao apresentar um enredo mais trabalhado, com nuance dramático e dois personagens auxiliares, Tamir (Ben Kingsley) e Zoey (Anna Faris). Faris interpreta a típica garota inventada pelo sentimento de consciência social. Politicamente correta, Zoey coordenada um loja de produtos orgânicos, cujos funcionários são todos refugiados políticos. Em um dos bons momentos do filme, Aladeen assume o estabelecimento com o objetivo de torná-lo lucrativo. Com seus métodos heterodoxos de administração, consegue impor ordem e foco em tempo recorde. O resultado é de dar inveja a qualquer formado em Stanford. É acertada a tentativa de levar duas histórias paralelas, pois quebra a previsibilidade dos filmes antecessores. Entretanto, a força dos esquetes de Cohen trava o desenvolvimento de qualquer história que não esteja diretamente ligada a suas piadas ferozes.
O reconhecimento de Borat e Brüno está justamente na peculiaridade do humor: incisivo, corrosivo e sem meio termo. Assim, os personagens conseguem extrair gargalhadas livres dos preconceitos impostos pelos ditadores da expressão. Em O Ditador não é muito diferente, mas a fórmula está desgastada. A interpretação está recheada de gags, algumas visivelmente exageradas. Há boas piadas combinadas com sequências muito bem pensadas, como a do helicóptero, quando o casal de idosos pensa estar prestes a participar de um atentado. Fora isso – e isso inclusive – não há novidade. O que era frescor pelo tema ou abordagem chega, na maior parte das vezes, como matéria requentada. É uma pena, aliás, que a participação de Ben Kignsley, notoriamente reconhecido pelos papéis dramáticos, tenha sido enxuta. Basta lembrá-lo na comédia The Wackness (pessimamente traduzido por Doidão, 2008) para saber o quanto poderia agregar. Mesmo sem o vigor dos seus trabalhos anteriores, Cohen consegue com que O Ditador proporcione diversão. Coberto pelo humor, o senso crítico apurado para a situação política denuncia o discurso hipócrita do multiculturalismo, talvez da única forma permitida: pelo deboche.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Willian Silveira | 5 |
Ailton Monteiro | 4 |
Marcio Sallem | 6 |
MÉDIA | 5 |
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