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Crítica

É curiosa a percepção que certos títulos podem provocar no espectador. Vejamos o caso de O Emissário de MacKintosh (batismo nacional), ou, ainda, O Homem de MacKintosh (nome original). Emissário é aquele que é enviado para fazer alguma coisa ou representar alguém – no caso, MacKintosh. Mas esta é a denominação que se destaca: afinal, quem é e o que quer MacKintosh? Apesar do personagem pouco aparecer durante todo o longa dirigido por um hábil John Huston, são seus interesses que colocam a roda em movimento, fazendo com que os demais passem a se mover e, assim, dar início aos conflitos que surgem cada vez que se cruzam. E à frente desta trajetória estará ninguém menos de Joseph Rearden, o tal homem sob o comando do misterioso MacKintosh.

MacKintosh chama Rearden logo no começo do filme, lhe confiando uma missão importantíssima: furar um sistema de envio de diamantes pelos Correios e roubar uma preciosa fortuna. O golpe dá certo – mas não por muito tempo. Ou será que sim? Em O Emissário de MacKintosh nada é o que parece ser num primeiro olhar. Lançado no início dos anos 1970, este é um longa construído a partir de uma estrutura clássica de espionagem, e muito disso se deve à condução segura de Huston, um realizador que sempre trafegou com tranquilidade entre os mais diversos gêneros, e o bom trio principal: Paul Newman, oferecendo seu charme e seriedade para um espião sempre com uma solução de última hora; Dominique Sanda, que compõe com eficiência uma gélida e penetrante femme fatale cheia de segredos; e James Mason, o tipo que se vê sempre no domínio da situação, mesmo quando ela, inevitavelmente, acaba se virando contra ele próprio.

A ação continua quando Rearden é pego pela polícia e enviado para uma prisão de segurança máxima. Lá, descobre um esquema de fuga quase infalível, o qual aceita participar ao lado de um preso político de grande renome. Se as reais intenções do protagonista são reveladas lentamente, como camadas que vão sendo desbravadas uma a uma, mais complexo ainda são os motivos que envolvem aqueles ao seu redor. O próprio MacKintosh (Harry Andrews) sugere um deslize quase imperdoável ao indicar não saber em quem confiar – mas, como dito antes, tudo pode fazer parte de um quadro maior e de difícil visualização. São tantas as peças desse quebra-cabeça que até o instante final é difícil apontar com precisão para qual lado a situação está pendendo, e é mais interessante esse jogo a respeito do que pensamos sobre cada um dos personagens do que as consequências imediatas dos eventos em si. Afinal, entre mocinhos e bandidos, muito mais ricos e merecedores de atenção são aqueles que se colocam num ponto intermediário, igualmente afastados dos extremos redundantes.

Paul Newman possui os requisitos necessários para dar vida ao Emissário de MacKintosh, e muito disso vem tanto de sua boa forma física quanto da competência e energia habitual com as quais acostumou-se associá-lo. Por maiores que sejam os perigos que o cerquem, seu olhar certeiro e atitudes objetivas sempre serviram como catalizadores da audiência. Huston, no entanto, apoia-se demais em seu elenco e deixa um pouco de lado detalhes essenciais, como a trilha sonora – indecisa entre o thriller e a comédia – e a edição – que se estende por reviravoltas excessivas que mais distraem do que colaboram. Estes, no entanto, são pormenores de um filme assumidamente de gênero, que entrega exatamente o que promete e que segue atraente mais de quarenta anos após o seu lançamento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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