float(17) float(5) float(3.4)

Crítica


5

Leitores


5 votos 6.8

Onde Assistir

Sinopse

Sara Castro desaparece sem deixar rastros. Os dias passam sem que tenham nenhuma notícia sobre a garota. Porém, em uma manhã, seus pais, Oliver e Julia, recebem uma carta de alguém que afirma tê-la capturado.

Crítica

Após uma discussão matutina com a mãe, Julia (Elisabet Gelabert), por conta de uma nota baixa no boletim, a jovem Sara Castro (Patricia Olmedo), de 10 anos, não retorna da escola para casa. Desconcertados pelo misterioso desaparecimento, Julia, o marido, Oliver (Pedro Casablanc), e o filho mais velho do casal, Alex (Zack Gómez), são aconselhados pelo inspetor de polícia a simplesmente aguardar o contato da garota, algo que só faz aumentar a angústia do trio. Certo dia, porém, uma carta anônima é deixada sob a porta da família. Seu autor afirma ser o sequestrador de Sara e, ao invés de exigir o esperado resgate, propõe uma visita para que possam, sem que a polícia seja informada, tratar do assunto pessoalmente. Um ponto de partida inusitado e instigante, que abre um variado leque de possibilidades de abordagem para O Enigma da Rosa.

Entre todas elas, o diretor espanhol Josué Ramos, em seu segundo longa, opta por criar basicamente um suspense de câmara, já que, exceção feita à sequência de abertura e outras pontuais, quase toda a ação se desenvolve dentro da casa da família de Sara, abrigando o confronto com o sequestrador. Aos poucos se revelando em uma jornada particular de acerto de contas, o misterioso homem inicia um jogo sádico, dizendo estar à procura de um segredo guardado por um dos membros da família, causador de danos a outras pessoas, e que, caso esse segredo não seja revelado, Sara morrerá na manhã seguinte. O que Ramos almeja a princípio, e consegue alcançar, é a subversão de expectativas e aparências. Ao longo da projeção, os lados do homem cruel e monstruoso e da família exemplar vitimizada começam a se inverter, proporcionando ao cineasta adentrar a sordidez da classe média (pequeno-burguesa) e a exposição de sua face oculta, que surge como reserva dos piores traços da humanidade: a ganância, o falso moralismo, o preconceito, a violência, etc.

Ramos arquiteta bem essa subversão, dando de cara algumas pistas sutis sobre as rupturas e as máscaras vestidas pela família Castro – como o distanciamento na relação com Alex, que procura as mãos da mãe na mesa para consolá-la sem ser correspondido ou a falta de sintonia dos pais sobre a questão das notas baixa de Sara. A escalação do elenco, coletivamente consistente, contribui para as intenções do diretor, em especial o argentino Ramiro Blas, que vive o homem sem nome vestido de negro, com sua figura vilanesca, de feições soturnas e fala desenvolta, carregada de ironia e charme. Grande parte do potencial dessa arquitetação, contudo, é minada por alguns fatores, a começar pela habilidade limitada na ambientação e exploração dos espaços. A economia cênica – acompanhada pelo número reduzido de personagens – gera uma aura teatral a qual Ramos não consegue escapar, oferecendo um registro esquemático, tal qual a própria estrutura narrativa, com os momentos confessionais e principais embates ocorrendo no cenário da sala – em frente à TV – e as ações punitivas em outros cômodos.

Sem conseguir imprimir uma atmosfera realmente claustrofóbica e urgente – no que diz respeito à corrida contra o tempo imposta pelo sequestrador – Ramos conduz a espiral de pesadelo, a descida ao inferno, da família de Sara à saída do choque e perversidade superficiais, esbarrando no fetichismo das fitas de terror torture porn (mesmo que o registro nunca seja completamente explícito, especialmente conforme a gravidade das situações aumenta). Assim, O Enigma da Rosa termina distante da possibilidade que se abrira a partir da dinâmica de sua premissa para a reflexão social mais incisiva ou alegórica, como a de um Teorema (1968), de Pier Paolo Pasolini, ou para o exercício de incômodo verdadeiramente visceral e angustiante, jogando com a cumplicidade do espectador, como o de Violência Gratuita (1997), do austríaco Michael Haneke.

De execução repetitiva em boa parte do tempo, o trabalho de Ramos visa se ancorar nas reviravoltas de seu ato final, que podem até se mostrar engenhosas num primeiro momento, mas que, passado esse impacto inicial, pouco ressoam, não adentrando o terreno da investigação social e moral aprofundada e se contentando com a entrega de um conto de vingança justificada que busca a catarse no deleite ofertado pelas vias da punição.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
avatar

Últimos artigos deLeonardo Ribeiro (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *