Crítica
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Sinopse
Quan é dono de um típico restaurantes chinês em Londres, capital da Inglaterra. Após um misterioso ataque de um grupo de terroristas irlandeses ao seu estabelecimento, ele tem sua vida e família devastadas. Sem muito apoio da polícia local, decide buscar vingança com suas próprias mãos.
Crítica
Homem perde sua filha em um atentado terrorista. Ele tenta, a todo custo, que as autoridades apontem um culpado. Como falham nesta tarefa, o pai parte, então, decidido a fazer justiça com as próprias mãos – primeiro com aqueles que deveriam garantir a segurança, e depois com os verdadeiros responsáveis pelo assassinato. Essa trama, absurdamente genérica e já vista em diversas outras produções similares, é o cerne do argumento de O Estrangeiro, longa que funciona mais para defender o status quo de Jackie Chan como maior astro oriental do momento no Ocidente – por onde anda Jet Li, hein? – do que em oferecer algo de novo ao cinema de ação. Entretém razoavelmente enquanto dura, e apenas junto àqueles aficionados pelo gênero. Aos demais, há aqui muito pouco de novo a ser absorvido, e mesmo esse viés político pode ser melhor absorvido em uma rápida lida em qualquer um dos nossos jornais diários ou site de notícias a respeito.
A questão a ser discutida é a difícil relação entre os grandes governos e os grupos extremistas: no caso, estamos no Reino Unido e a pressão exercida pelo IRA – Exército Republicano Irlandês – e seus dissidentes. A autoria da explosão que vitimou a filha de Quan (Chan) é assumida por uma nova organização, o “IRA Real”. O problema é que o vice-ministro Liam Hennessy (Pierce Brosnan), encarregado de cuidar dos interesses irlandeses junto à liderança britânica, tem tantos rabos presos em antigas negociações e ultrapassadas parcerias que, mesmo desejando punir os criminosos, ele pouco tem o que fazer. E sem tomar nenhuma atitude de fato enérgica, ele acaba se posicionado na rota do senhor que mais nada tem a perder na vida – além de viúvo e sem outros filhos, ele entrega também o restaurante onde trabalhava, sua única propriedade. Basicamente, portanto, o que temos é um embate entre Chan versus Brosnan, sem que os dois, enfim, cheguem às vias de fato de forma física – por mais que um deles já tenha sido James Bond, é o outro que continua, mesmo com mais de 60 anos, em pleno domínio de suas habilidades.
Há, entretanto, duas linhas narrativas bem distintas sendo desenvolvidas durante o desenrolar da ação de O Estrangeiro. Uma, que parece ser a principal, é esta acima descrita. A outra, no entanto, termina por ocupar mais da metade do enredo, e fala dos meandros políticos por trás de um incidente desta proporção, tendo Hennessy como centro destas consequências. Ele é o primeiro a ser procurado, tanto pela imprensa quanto pelos governantes, assim que o episódio ocorre. A partir daquele momento, é o nome dele que está na vitrine: uns exigem dele rapidez, outros tantos esperam dele justamente o oposto, uma morosidade que sirva de lição ao descaso história ao qual a Irlanda tem sido submetida. Moedas de troca são exigidas, velhos acordos são lembrados, exigências surgem de todos os lados. Hennessy acredita ter ainda uma ou outra carta na manga, mas até quando elas seguirão tendo validade? É o momento dele decidir exatamente o que fazer, fazendo jus a um hábito que se tornou parte de si próprio: a habilidade em salvar o próprio pescoço, antes de qualquer coisa.
Mas onde fica o velho Quan no meio de tudo isso? Jogado de lado. Passam-se boas sequências do filme sem que ele seja sequer citado. E, quando finalmente dele relembram, é para surgir em cena distribuindo socos e pontapés. Jackie Chan, vencedor de um Oscar honorário em 2017, merecia ser tratado com mais respeito. Mas será que alcançaria o mesmo retorno do público caso aparecesse em um drama de época ou em alguma comédia romântica, por exemplo? Longe de ser o maior sucesso de sua carreira – faturou pouco mais de US$ 34 milhões nos EUA, valor ínfimo se comparado aos US$ 176,5 milhões de Karatê Kid (2010) ou aos US$ 507,4 milhões somados pelos três episódios da saga A Hora do Rush – O Estrangeiro também está longe de ser um fracasso de bilheteria (no mundo todo, o valor sobe para US$ 141 milhões, sendo mais da metade deste montante apenas na China). Ele pode estar falando inglês e tendo o Big Ben como cenário, mas ainda é em casa o seu maior público.
O Estrangeiro marca, também, o segundo encontro do diretor Martin Campbell com Pierce Brosnan. Os dois estiveram juntos antes em 007 contra GoldenEye (1995), longa que significou um renascimento para a série. No anos seguintes, porém, Campbell não teve melhor sorte. Seu último filme antes desse havia sido o malfadado Lanterna Verde (2011), que enterrou as chances do herói no universo DC. Depois de uma série de trabalhos na televisão, que lhe ocuparam neste ínterim, ele volta agora em uma produção genérica, que não faz jus nem ao talento específico do seu protagonista, e nem enquanto discussão política e social. Aliás, um bom exemplo da covardia dos realizadores está na mudança no título original, que seria The Chinaman (“O Chinês”, em tradução literal), o mesmo do livro no qual se baseia. Com medo de se direcionar a apenas um nicho – o que, de fato, acabou acontecendo – apostou-se nessa versão mais comum e com menos identidade, tal qual o resultado que agora se apresenta nas telas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 5 |
MÉDIA | 4.5 |
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