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Crítica


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Sinopse

Ezequiel se torna um sujeito triste e resignado depois da morte de sua esposa. Isso até que um estranho fenômeno aconteça e mude tudo.

Crítica

Quem já viu mais de um filme assinado por Guto Parente, sabe que o diretor tem mão para criar atmosferas. Em A Misteriosa Morte de Pérola (2014), o clima de suspense era palpável nas duas partes daquela trama soturna. Agora, em O Estranho Caso de Ezequiel (2016), existe uma aura onírica que perpassa toda a trama. O que é real e o que é imaginário ali? Há uma barreira entre esses dois conceitos ou tudo é verdadeiro quando se acredita em algo? Novamente dividindo seu trabalho em duas partes (bastante distintas), Parente concebe uma viagem sensorial cinematográfica e convida os espectadores a partilharem da jornada. Embora exagerado em alguns trechos, temos bons momentos nesta trama fantástica, com os dois pés no surreal.

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A trama nos apresenta a Ezequiel (Euzébio Zloccowick) que, assim como o personagem bíblico, acabou de perder sua mulher e precisa enfrentar de peito aberto essa morte inesperada. Devastado pelo luto, sua existência se resume a regar suas plantas, fumar baseados e pensar no passado. Certo dia, ao ouvir um estranho barulho no seu terraço, Ezequiel se surpreende com a aparição de um ser humanoide (Caio Dias), sempre emanando uma forte luz verde, convulsionando ininterruptamente. Ele sente uma ligação forte com aquela figura, o abrigando em sua casa. É neste momento que surge sua esposa falecida (Nataly Rocha) de volta ao seu convívio. Sem se perguntar como é possível esse retorno, Ezequiel se põe novamente feliz, construindo uma família liberta de quaisquer amarras. Isso até o destino de todos mudar com o olhar inquisidor do mundo exterior.

Essa é a sinopse apenas da primeira metade do longa-metragem. Evitando maiores spoilers, a segunda parte é uma viagem transcendental com música, luz e surrealismo. Basta dizer que estamos mais de 200 anos no futuro e em outro planeta. Se você pensa que tem ideia do que isso significa, pense de novo. Esse trecho é o mais liberto do filme, abandonando conceitos narrativos e se deixando levar pelo sensorial das imagens. Tende a funcionar com quem embarca fácil em produções menos quadradas. Parente emprega um ritmo ágil e capricha em cenas com pegada lírica. A música eletrônica utilizada conversa totalmente com aquele novo momento da história e os atores parecem muito livres para criar naquele ambiente.

É importante frisar que, se a metade final do longa funciona, é por causa do alicerce criado na primeira metade. Euzébio Zloccowick se mostra um ator com presença corporal impressionante, traduzindo os sentimentos do personagem de forma muito natural ao longo da trama, sem dizer palavra. Nataly Rocha é uma aparição assombrosa e, assim como seu parceiro de tela, sem proferir uma sílaba, consegue conquistar a atenção do espectador como aquela irresistível cadáver. O ponto negativo é aparição extraterrestre de Caio Dias, que em uma atuação convulsiva acaba gerando humor involuntário em um personagem que se mostra um vértice importante naquele triângulo. Neste ponto, Guto Parente pesa a mão, concebendo ao lado de seu ator um ser que incomoda, mas pelos motivos errados.

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Com apenas 70 minutos de duração, O Estranho Caso de Ezequiel consegue englobar assuntos diversos, como a perseguição ao diferente, o extremismo religioso, o peso do luto e o poliamor, em uma roupagem pitoresca e longe do óbvio. Se escorrega no exagero em algumas sequências, ao menos tem a coragem de se expor a tal, o que é sempre interessante em um cineasta que busca o arrojo, escapando do lugar-comum. É mais uma viagem de Guto Parente e resta ao espectador querer embarcar ou não., Armando Praça

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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