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Crítica


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Sinopse

O Ministro dos Transportes da França, Bertrand Saint-Jean, é acordado em plena noite pelo diretor do seu escritório. Um ônibus repleto de crianças acabou de cair num penhasco. Ele vai imediatamente ao local. Começa, assim, a odisséia na vida de um político, entre correria, luta de poderes, negociações, crise econômica... É preciso lidar com tudo, ao mesmo tempo. Quais sacrifícios ele está prestes a fazer para conservar seu cargo e sua integridade?

Crítica

Uma mulher seminua que se arrasta para as entranhas de um crocodilo. A cena inicial do francês O Exercício do Poder é apenas uma alegoria do que será tratado ao longo das quase duas horas do filme: como a vida política devora quem se envolve nela. Porém, o diretor Pierre Schöeller trabalha ao máximo as vertentes de seu protagonista e tenta amenizar lados, sem culpar qualquer um, ao mesmo tempo em que retrata o jogo político sem meias palavras, sendo direto e conciso.

A cena descrita acima é um sonho erótico do Ministro dos Transportes da França (Olivier Gourmet), quando este é acordado no meio da madrugada com a notícia de que um ônibus cheio de crianças caiu numa ribanceira. Começa então uma discussão sobre a privatização dos transportes, ao qual ele é contra, mas que o coloca em conflito com os interesses do governo. Ao mesmo tempo o ministro tem que resolver o problema factual, dar assistência aos familiares dos mortos e ainda responder à mídia e à população sua posição sobre o que acontece nas estradas.

Schöeller direciona o seu foco para a figura do ministro, que na pele de Gourmet ganha os ares de alguém que está na legítima situação de deixar seus ideais de lado e se render aos seus desejos e a uma ascensão na carreira política. Aliás, ideais e desejos tão medianos quanto o próprio personagem, visualmente tão comum, seja pelo olhar patético dado pelo ator ou por planos que o colocam em situações que beiram ao ridículo, como uma simples “ida ao trono” no banheiro. Aspectos que humanizam o personagem ao ponto de colocar o espectador em seu lugar e se questionar: afinal, o que eu faria se estivesse na mesma posição?

Esta humanização acaba sendo ainda maior quando o personagem principal acaba sendo vítima do que ele comanda ao sofrer um acidente de carro. Como permanecer impassível ao viver a situação de perto, e não apenas sob um distante olhar, como a tragédia das crianças? Por sinal, os talentos do diretor e do protagonista se revelam ainda mais nas cenas fora do gabinete e que acontecem dentro do carro, onde diálogos ácidos são postos, o que pode lembrar em certos momentos filmes como Cosmópolis (2012) e Holy Motors (2012), por exemplo.

Muito mais do que um simples filme sobre os bastidores do jogo político, O Exercício do Poder é um estudo de personagem e de pessoas. Um belo exercício não para conhecer mais sobre a política francesa (que toma ar universal), mas, sim, sobre a psicologia de quem trabalha neste ramo, tão pouco transparente para o público geral. Pode não ser um filme tão fácil de digerir como Tudo Pelo Poder (2011), que segue na mesma vertente. Mas ainda assim é dono de imensas qualidades que devem saltar aos olhos de quem tem a mente aberta.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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Grade crítica

CríticoNota
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