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Sinopse

Dani é uma mulher latina, trabalhadora de uma fábrica. Quando um exterminador vindo do futuro busca matá-la, ela tenta compreender porque se tornou alvo dos ataques. Enquanto isso, conta com a ajuda de uma humana aprimorada, junto de Sarah Connor, que preserva sua missão de destruir todos os exterminadores ainda existentes.

Crítica

Após muita pressão, os blockbusters de Hollywood estão finalmente compreendendo a importância da diversidade e representatividade em suas histórias. Seja por real consciência política ou por senso apuro de negócios (as críticas geram propaganda negativa ao filme, e reduzem o potencial de bilheteria), começaram a elevar mulheres à condição de protagonismo, em papeis fortes e independentes, ao invés de se limitarem à posição de par romântico dos heróis brancos. Ainda há um longo caminho a percorrer, é claro, mas cabe destacar, em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, a presença de uma produção gigantesca estrelada por três mulheres. Nenhuma delas se encontra em posição de vítima, nem precisa ser salva pelo mocinho no final – elas ajudam a si mesmas se necessário.

Como se esta configuração não fosse o bastante, o roteiro aborda o conflito migratório na fronteira México-Estados Unidos, a precariedade social dos norte-americanos de origem latina, a invasão ao Afeganistão, a coleta abusiva de dados pessoais por grandes empresas, e mesmo a paixão desenfreada por armas nas regiões mais conservadoras. “Isto é o Texas!”, grita um personagem ao exibir a potente coleção de armas. Curiosamente, nem os mais potentes tiros freiam o exterminador do futuro de traços latinos (Gabriel Luna) cuja missão é eliminar uma jovem mulher latina (Natalia Reyes). Será preciso encontrar outros meios , digamos, menos bélicos. Mesmo na hora de se infiltrar em grupos perigosos para cumprir sua tarefa, a “humana aprimorada” (Mackenzie Davis) precisa por duas vezes se vestir de homem para passar despercebida. Esta é uma produção dos nossos tempos, voltada aos conflitos típicos de 2019, por mais que tenha um pé preso no passado (o assassinato de John, ainda no século anterior) e o futuro ameaçador de 2042.

O que a produção dirigida por Tim Miller ainda não atualizou é o formato de apresentação de informações por meio de diálogos. Quanto mais fantástico é o filme, e quanto mais ele depende de fontes externas (conhecimentos científicos e/ou dados prévios da franquia), mais ele se vê preso à necessidade de explicar tudo ao espectador, passo a passo, para que não fique perdido. Quando não estão lutando – e muito bem, por sinal – as três mulheres passam os dias se explicando: de onde vêm, para onde vão, o que desejam, qual arma pode frear qual exterminador, em qual circunstância, o que precisam fazer em seguida. Este ainda é um típico filme de ação no qual a reflexão e os sentimentos importam pouco: quando um personagem morre, engole-se o choro e prepara-se para a briga na cena seguinte. Mesmo o doloroso luto não resolvido de Sarah Connor (Linda Hamilton) se traduz, décadas mais tarde, num desejo sangrento de vingança. Nem é preciso dizer que as três mulheres são marcadas pela perda de figuras importantes em suas vidas: o projeto ainda concebe a orfandade e o trauma pessoal como únicos motores de revolta, ao invés de qualquer consciência social.

Para manter a classificação indicativa reduzida (no Brasil, o filme é proibido aos menos de 14 anos), O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio cria curiosas armadilhas para si mesmo: retratar a nudez total de ciborgues sem mostrar um único mamilo, travar grandes cenas de luta sem sangue, oferecer belos heróis e heroínas sem desejo sexual. Se Hollywood descobriu a força das mulheres, ainda falta descobrir suas pulsões. Mesmo assim, os tiros e perseguições são competentes, com destaque para os embates à luz do dia, a exemplo da cena na ponte. Nos instantes noturnos, uma fotografia bastante artificial escurece demais as imagens, enquanto a montagem fragmenta tanto a narrativa – vide a cena do avião – que parte considerável da fluidez dos movimentos se perde. Não há nada propriamente inovador no trabalho com lutas e efeitos especiais (Miller ainda está longe das coreografias rebuscadas de Atômica, 2017, ou John Wick, 2014, por exemplo), mas procura uma forma de gigantismo dos cenários que se assemelha ao conceito de elegância das sagas James Bond e Missão: Impossível.

Aos atores, cabe trazer alguma forma de humanismo aos tipos predefinidos: Natalia Reyes se esforça ao máximo para mostrar a determinação e petulância de uma mulher sem inclinação à violência, porém acostumada a enfrentar percalços diários. Mackenzie Davis, atriz versátil e talentosa, carrega uma fragilidade na voz capaz de equilibrar a postura corporal mecanizada. Linda Hamilton, acostumada a reinterpretar sua própria persona de ação, fica muito perto da caricatura graças à brutalidade desmedida, porém deve agradar o público por retomar bordões célebres da franquia. Aliás, os atores possuem a tarefa ingrata de disparar uma verdadeira metralhadora de frases de efeito: “Eu sou a pessoa que veio te salvar!”, “Sem um propósito, não somos nada!”, “O que importa são as decisões que tomamos agora!”. Ao menos, o tom cômico (especialmente nas cenas com Arnold Schwarzenegger) atenuam o aspecto sepulcral das falas. Pelo simples fato de entoarem clichês banais com seriedade, merecem o reconhecimento pelo esforço.

Ao final, resta em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio uma noção de heroísmo coletivo, no qual o grande desafio só pode ser vencido através da superação das diferenças e da união entre personagens igualmente traumatizados. As animações infantis têm resgatado muito a bandeira dos esforços conjuntos como elemento indispensável à superação de conflitos, mas Destino Sombrio é um dos filmes de ação que melhor emprega o conceito – especialmente num cenário em que ainda se vangloria a ideia do força e inteligência do herói único, "o escolhido". Mais do que nas produções de super-heróis (Os Vingadores, 2012, por exemplo), em que a soma de poderes é necessária para superar o vilão, aqui é a soma de humanidades que faz a diferença, ou seja, a capacidade de improviso durante uma luta, o senso de estratégia, a ajuda ao outro em perigo. Como indica a narrativa, este grupo de androides, humanos e humanoides possibilitará, no futuro, uma revolução dos mais fracos – seria exagero chamá-los de proletariado? – contra as máquinas opressoras que obedecem ordens “de cima”. Não, o projeto ainda está longe de possuir uma consciência política explícita, devido à saturação de códigos obrigatórios do cinema industrial. No entanto, aponta caminhos potencialmente benéficos dentro de narrativas voltadas ao público médio.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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