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Crítica


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Sinopse

Depois de 12 anos, Raposo descumpre a promessa feita à esposa e invade a fazenda dos vizinhos. Os granjeiros montam armadilhas e ele vai precisar de toda sua astúcia para continuar privilegiando o seu instinto.

Crítica

Com o diretor Wes Anderson o espectador pode sempre ter algumas certezas: a participação, por menor que seja, dos atores Jason Schwartzman, Owen Wilson e Bill Murray; alguma música dos Rolling Stones na trilha; foco em uma família disfuncional; trama nada ortodoxa. Todas estas regras se aplicam à maioria dos filmes do cineasta, que chamou a atenção da crítica – e parte do público – com Três é Demais, em 1998, e seguiu com pequenas gemas em Os Excêntricos Tenenbaums (2001) e Viagem a Darjeeling (2007). Quando anunciaram a estreia do diretor em filmes de animação, com a adaptação do livro de Roald Dahl O Fantástico Sr. Raposo, parecia que Anderson estava pensando em uma mudança de ares. Não é o que acontece. Mesmo contando com raposas, texugos, coelhos e gambás como elenco, o cineasta continua falando dos mesmos temas que lhe são caros. E muito bem, diga-se.


Na trama, com roteiro do diretor ao lado de Noah Baumbach, Mr. Fox (George Clooney) é um hábil ladrão de galinhas que promete à sua grávida esposa, Mrs. Fox (Meryl Streep), que nunca mais utilizará seu talento para o roubo. Dois anos humanos se passam (o que significa pouco mais de uma década para as raposas). Fox agora é um colunista de jornal e pai de um garoto problemático, Ash (Schwartzman), que sonha ser um grande atleta, assim como seu pai o foi. A presença do seu primo talentoso, Kristofferson (Eric Chase), morando de favor na casa dos Fox, lhe deixa ainda mais agressivo em relação ao seu lugar na família. As coisas começam a mudar para os raposos quando Mr. Fox resolve sair do buraco (literalmente) e mudar a família para uma bela árvore – mesmo que seu advogado, Badger (Murray), o advirta dos perigos que podem acontecer com uma raposa se expondo dessa forma. Como sempre, Fox segue apenas seu intelecto e se muda para a tal árvore – residência que tem uma privilegiada visão das fazendas Boggis, Bunce e Bean. A proximidade com estas propriedades cheias de frangos, gansos e cidra reascende a vontade de Fox em roubar novamente. Uma grande guerra então se inicia entre os humanos e os bichos, cada um tentando levar a melhor no seu terreno.

Se existe alguma animação que não deve ser assistida com outra dublagem que não a original, esta é o Fantástico Sr. Raposo. A participação de cada ator dá toda a personalidade dos personagens recriados por Wes Anderson em cima da história de Roald Dahl (autor também de outra trama mágica, A Fantástica Fábrica de Chocolate). As performances de George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwartzman, Bill Murray, Willem Dafoe, Owen Wilson, Michael Gambon e Eric Anderson fecham com exatidão o estilo desta animação e foram muito bem dirigidas pelo cineasta – que levou todo o elenco para uma fazenda, gravando os diálogos como num teatro, em vez de cada fala separada como o usual. Portanto, Mr. Fox não é outro senão George Clooney. Ash só pode ser Jason Schwartzman. E por aí vai.

Quanto ao estilo da animação, é um deleite assistir a um trabalho tão artesanal quanto este Fantástico Sr. Raposo. Diferente dos filmes feitos no computador, que cada vez mais apagam a linha entre realidade e artificialidade, o stop motion tem o evidente jeitão de faz de conta. Este feeling de feito em casa se amplia pela escolha do diretor em trabalhar a animação com 12 quadros por segundo em vez dos 24 de sempre. Desta forma, o espectador consegue perceber que os movimentos não são tão fluídos, deixando óbvio que se trata de um efeito ótico.

Claro que todas estas boas escolhas não seriam nada caso o roteiro não fosse um capricho. Usando animais como espelho para a condição humana, a fábula de Roald Dahl traz assuntos sérios à baila que, provavelmente, divertirão mais os adultos que as crianças. Alguns temas tratados no filme como a inveja, o revanchismo, a teimosia e a inabilidade de encontrar o seu lugar no mundo são assuntos que dão pano para a manga e são trabalhados com bom humor pelo roteiro de Wes Anderson. A escolha musical do filme é outro primor, com músicas de Mozart, Beach Boys, Rolling Stones e a belíssima Le Grand Choral, do compositor francês Georges Delerue. Já a ótima trilha sonora original ficou por conta de Alexandre Desplat, indicado ao Oscar pelo trabalho.

O Fantástico Sr. Raposo é uma animação diferenciada, que com humor apurado e ótimas performances vocais, diverte e faz pensar igualmente. São raras as produções que conseguem balancear tão bem estes dois quesitos. Ainda mais, protagonizadas por uma família de raposas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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