Crítica
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Sinopse
A fim de conhecer sua nova sogra, uma noiva viaja na companhia de sua filha ao sul da Itália. No entanto, a vida da menina é ameaçada por forças misteriosas.
Crítica
A história de O Fascínio, uma produção italiana original da Netflix, poderia se encaixar perfeitamente dentro de outro produto da gigante do streaming: a antologia em formato de minisséries A Maldição (Residência Hill, 2018, e Mansão Bly, 2020). Isso, é claro, caso fosse encontrado elementos suficientes para serem explorados durante nove ou dez episódios. Um esforço que não encontra ressonância durante os pouco mais de 90 minutos do longa de Domenico de Feudis. Afinal, apesar de se propor a explorar uma ambientação já muito conhecida dos admiradores do gênero – a família recém chegada que precisa lidar com acontecimentos sobrenaturais em um casarão histórico – suas explicações são bastante diretas, para não dizer banais. E quando não há mistério que sustente todo susto proposto, o que se encontra é um esforço genérico, tão esquecível quanto seus similares menos marcantes.
Apesar de ter sido assistente de direção de Paolo Sorrentino no oscarizado A Grande Beleza (2013) e no ambicioso Silvio e os Outros (2018), De Feudis não dá sinal de ter aprendido muito com o mestre. Assim, não demora para colocar todas as cartas que tem a sua disposição na mesa. Francesco (Riccardo Scamarcio, em participação discreta, quase apática) está levando a noiva, Emma (a argentina Mía Maestro, de Diários de Motocicleta, 2004), junto com a filha dessa, para passarem um final de semana na casa da família dele, no interior. Lá, apesar da imensa propriedade que encontram, há apenas duas mulheres no comando: Teresa (Mariella Lo Sardo, de A Música do Silêncio, 2017), a mãe dele – e futura sogra dela – e Sabrina (Raffaella D’Avella, de O Traidor, 2019), a única empregada. Bom, se isso já não era suspeito o suficiente, portas que se batem, aranhas surgidas no meio da noite e manchas pelas paredes se encarregarão do resto para criar o ambiente mais assustador possível.
Se de imediato fica claro que há algo de errado neste cenário, chega a ser risível o fato de Francesco ser o único a não perceber tudo de estranho que está acontecendo. Como se vai descobrir mais adiante, este é somente mais um filme que finge colocar mulheres como protagonistas, porém todas se veem reunidas para lidar com – e resolver – problemas gerados por eles, os homens. Não há nada que façam que seja por elas, ou entre elas, apenas, sem repercussão nos atos masculinos. É o típico caso da mulher que chega em casa e, ao descobrir que o marido está lhe traindo com outra, resolve descontar na amante, e não no infiel ao seu lado. Pois bem, acontece que aqui esse mesmo quadro se repete, com o adicional de uma fantasma ciumenta e uma criança que acaba pagando o pato por causa do egoísmo de um homem mimado e excessivamente protegido por aquelas que deveriam, enfim, colocá-lo no seu devido lugar.
A sensação, na maior parte do tempo, é de se estar diante, literalmente, de uma ‘festa estranha com gente esquisita’. Ou seja, como se todos ao redor soubessem de algo que apenas é desconhecido pela protagonista. Emma é a versão feminina de Chris, o rapaz negro vivido por Daniel Kaluuya em Corra! (2017), com a diferença que no filme de Jordan Peele ao menos se tem a coragem de ir até o fim na proposta de investir no bizarro e inesperado. De Feudis, por sua vez, até chega a desenhar o necessário para que tal configuração se repita, mas lhe falta determinação para ir adiante. Com isso, todos os eventuais suspeitos terminam inocentados, deixando que as culpas possíveis recaiam sobre aqueles que, ao invés de vítimas, são vendidos como culpados.
Dono de uma bela direção de arte e de uma fotografia que se esforça para tirar o conjunto do lugar comum, O Fascínio até surge revestido de um verniz diferenciado, como se as assombrações que propõe não fossem tão levianas quanto se revelam no final. Porém, não consegue ir além disso, de um revestimento atraente que não resiste à primeira investida mais detalhada. Assim, diante um desfecho tão tolo quanto constrangedor, as próprias lógicas da trama são contraditas, e o que deveria funcionar a favor termina por aprofundar seus pontos falhos, em um conjunto desprovido de maiores interesses. Uma bobagem óbvia, que aspira na maior parte da sua narrativa muito mais do que consegue entregar.
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