O Filho de Deus
Crítica
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Sinopse
Este filme conta a história de Jesus como uma grande aventura épica, seguindo de maneira fiel as passagens da Bíblia.
Crítica
É sempre interessante a expectativa por trás de uma produção hollywoodiana que tenha a Bíblia como fonte de inspiração. Afinal, estamos falando de algo que é a base da fé e da esperança de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Existe, então, dois paralelos que atiçam esse interesse, mas que dificilmente andam juntos: a fidelidade à teologia e a qualidade artística. Quase sempre um acaba predominando sobre o outro. É o caso de O Filho de Deus, filme derivado da série de televisão A Bíblia (2013) exibida no History Channel com gigantesco sucesso. O longa é impecável biblicamente falando, mas deixa e muito a desejar no sentido artístico.
Dirigido pelo estreante Christopher Spencer, O Filho de Deus contenta-se em simplesmente pegar cenas mostradas na série e uni-las com um pouco de material inédito. O enredo conta a trajetória tão conhecida de Jesus de Nazaré (Diogo Morgado) sobre a terra. Do nascimento até a morte e ressureição; ou melhor, vemos Jesus desde a eternidade se fazendo presente em cada momento relevante do Antigo Testamento através da ótica de João (Sebastian Knapp), o que dá ao tom da narrativa uma semelhança grande com o evangelho escrito pelo mesmo apóstolo. Não apenas por isso, mas as escolhas do roteiro levam o expectador, principalmente o cristão, a ter essa percepção: os saltos temporais vão acontecendo com certa pressa para nos levar a entrada de Jesus em Jerusalém, onde boa parte do filme e do livro acontecem.
Por sinal, esse é um dos principais pontos negativos da obra. Essa pressa em levar a trama para o arrastado clímax do calvário acaba diminuindo a importância de outros momentos significativos e, principalmente, tornando mal sucedida a intenção de construir um arco de amadurecimento e compreensão da missão de Jesus. O que começa bem – Jesus como o sujeito cativante que vai arrastando multidões consigo, mesmo sem elas entenderem exatamente o porquê de estarem o seguindo – acaba, no fim, deixando a desejar – a superficialidade emocional e psicológica com que os apóstolos e seguidores reagem ao plano de salvação da humanidade.
Outro detalhe que suscita uma avaliação pessimista é o forte ar didático que O Filho de Deus possui do começo ao fim. Apesar das adaptações e pequenas alterações temporais, todo o material é fidedigno. Isso é bom? Em certo ponto é. Mas acaba se assumindo como a principal característica da obra, deixando de lado qualquer maior rebuscamento textual ou reflexivo. O único elemento do subtexto – como citado acima – é mal aplicado, e os relances um pouco mais ousados são banais – como a clássica e repetitiva reprodução da Pietà de Michelangelo. O que sobra? Um filme para se exibir na escola dominical.
Visualmente, o resultado é limitadíssimo. Com orçamento de televisão, o produto final acaba sendo digno de... televisão. Ao invés de substituir as transições de ambiente para algo mais delicado, Spencer insiste nas demonstrações de grandeza. Funciona em um programa do History Channel, mas se torna deprimente na tela de cinema. O ator português Diogo Morgado, como Jesus, é um verdadeiro paradoxo. Divide momentos brilhantes e outros razoavelmente constrangedores. No primeiro e segundo ato, por exemplo, ele traduz perfeitamente quem foi aquela emblemática figura que um número assombroso de pessoas amaram através da história, o conhecendo ou não. É um protagonista contagiante, carismático e divertido que segura o filme. Algo próximo do que qualquer cristão imagina. Entretanto, Morgado peca quando é necessário revelar o lado divino desta personalidade. O que faz com que o conjunto fique desinteressante no final.
É importante, apesar de todas essas constatações, ressaltar que o todo não é tão desastroso assim. Ele revela de uma maneira bela quem foi esse inspirador homem e ainda emocionará a qualquer um que creia ou simpatize com o cristianismo. Mas a intenção de frisar suas falhas é apenas mostrar o quanto a fidelidade bíblica não segura uma história – por mais linda que seja – que todos já conhecem, se não houver competência e, principalmente, ousadia artística para reler e recontar algo tão presente na memória coletiva. A definição chave de O Filho de Deus é: mais do mesmo. Uma pena.
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