Crítica
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Sinopse
Crítica
O grande desafio de todo filme debruçado sobre a chamada Paixão de Cristo é, justamente, oferecer algo que o diferencie das incontáveis versões anteriores dessa narrativa oriunda do Novo Testamento da bíblia cristã. O Filho do Homem começa no instante em que o Sumo Sacerdote judaico, apontado pelos romanos a esse importante cargo, escuta as reclamações sobre quem expulsou os vendilhões do templo e causou balbúrdia entre o povo que ali estava. Parece, então, que o recorte, ao menos, será distinto, excetuando de seu percurso a história de origem amplamente disseminada. Mas não, pois o cineasta Alexandre Machafer faz questão de promover um retorno temporal ao instante em que os pais terrenos do Salvador se conheceram e firmaram o compromisso de casamento. Soa, então, que a trama vai se focar mais nos dilemas pessoais, nas dificuldades de aceitação das providências divinas ou em algo que os valha. Todavia, tudo acaba descambando ao óbvio.
O Filho do Homem ensaia tomar caminhos destoantes das abordagens frequentes da vida de Jesus, mas acaba perfazendo exatamente o caminho exaustivamente martelado no imaginário geral. Os esforços do trabalho diretivo dizem mais respeito à forma com a qual se camuflam algumas restrições de produção do que necessariamente a qualquer impacto dramático/emocional. Alexandre consegue superar o considerável obstáculo da inverossimilhança no mais das vezes, especialmente na primeira metade do longa-metragem, uma vez que na fração final a artificialidade dos componentes à disposição ganha evidência. Desde o começo, porém, sobressai a ausência de densidade no tratamento das figuras, sejam as humanas ou as supostamente tocadas por um poder superior que as torna excepcionais. O protagonista, vivido por Allan Ralph, é apenas mais um Cristo caucasiano de olhos claros, ou seja, destoante do fenótipo da região em que a trama acontece.
O roteiro de O Filho do Homem é repleto de elipses que, como convém à sua aplicação, suprimem episódios a fim de tornar a história dinâmica. Pegando emprestado um procedimento caro aos folhetins televisivos, ocorrências são meramente verbalizadas. O acúmulo delas deflagra fragilidade, algo que cresce gradativamente até embotar o todo, principalmente pela prevalência asfixiante da natureza postiça. Protagonista do filme, Jesus não é mais que um emblema mal constituído em cena, carente de contornos messiânicos e, em semelhante medida, desprovido de características suficientemente convincentes que porventura pudessem ressaltar a sua humanidade. Allan Ralph não dá conta de desenhar a divindade e tampouco o homem incumbido da missão de suportar os pecados do mundo como o cordeiro consagrado a Deus em oferenda. Os demais integrantes do elenco, sequer, dão conta de ir além das representações sem tônus e/ou pathos.
Circunstâncias vitais, tais como a última ceia, são encenadas com displicência – após uma elipse desajeitada que nos joga da manjedoura à mesa final. Os julgamentos, os jogos de empurra, as maquinações intestinas da política da época, tudo isso é observado com desleixo por Alexandre Machafer. Maria (Fernanda Martinez), diferentemente de sua versão jovem, que ainda apresenta alguns dilemas importantes, é restrita a ser a mãe que chora pelos infortúnios do filho. A peregrinação de Cristo, suas demonstrações de excepcionalidade, as provações e as dúvidas do sujeito, nada é mostrado nesse filme cuja vocação é a de somente requentar velhas fórmulas e torcer para que o espectador conheça suficientemente o enredo e, assim, complete voluntariamente as lacunas de suas tantas negligências. Afora a qualidade da maquiagem, bastante convincente no flagelo do nazareno, as sequências da via crucis e da crucificação não atingem os picos emocionais a elas inerentes, o que acentua os obstáculos da produção para compensar as suas muitas limitações, tão técnicas como artísticas.
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