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Sinopse

Personagem cômico e famoso no YouTube, o português Bruno Aleixo ganha seu próprio filme. Na trama, Bruno decide escrever uma autobiografia. Ele se reúne com amigos, para que lhe deem ideias para o texto.

Crítica

Eis que as esquetes curtas e divertidas do YouTube ganham seu próprio filme, em formato longa-metragem. Bruno Aleixo, o cachorro-ewok português, obteve tamanho sucesso que ganhou direito a uma obra inteiramente dedicada a este humor absurdo, produzida pela respeitável O Som e a Fúria (a mesma de Tabu, 2012, e O Gebo e a Sombra, 2012). Apesar de já ter sido tema de uma série, com episódios mais desenvolvidos, a ideia de uma trama única a respeito do personagem representava um desafio considerável aos criadores: como sustentar o humor de punchlines rápidas em mais de noventa minutos? De que maneira desenvolver este personagem que nunca possuiu uma psicologia definida, apenas interações rápidas com os amigos monstros?

A solução encontrada pelos diretores João Moreira e Pedro Santo, criadores do personagem, foi tão engenhosa quanto cômoda, e um tanto fácil: criar um longa-metragem sobre os amigos criando um longa-metragem. Quando Bruno Aleixo recebe o convite de fazer um filme sobre sua vida, reúne os Busto, Bussaco e Renato para discutir uma proposta de roteiro. Através de ideias distintas lançadas ao redor de uma mesa – conhecido pela imobilidade, Bruno jamais deixa a cadeira onde está sentado -, os cineastas criam um longa-metragem episódio, oportunidade para brincar com o cinema e seus gêneros: o terror, o policial, a comédia popular etc. A cada nova sugestão, as narrativas se concretizam em tela, com os amigos sendo interpretados por figuras populares no país europeu, como Adriano Luz, Rogério Samora e João Lagarto.

Como o roteiro depende bastante da diversão de ver atores consagrados em papéis autoparódicos, talvez a conexão se perca um pouco com o público nacional, menos acostumados aos atores citados acima e a outros que fazem aparições especiais nas reconstituições. Mesmo assim, restam referências a clássicos de cinema que podem ser compreendidos em qualquer lugar, como O Poderoso Chefão (1972) e Busca Implacável (2008), além de citações à cultura das telenovelas por meio do único personagem brasileiro do grupo, o Seu Jaca. Sem qualquer conhecimento de produção ou roteiro cinematográficos, os personagens buscam divertir exatamente pelas propostas improváveis, incluindo o filme de terror estrelado por um esfregão assassino e o filme de sequestro sobre homens que ignoram as regras de um sequestro básico.

Deste modo, o caráter amador se justifica pela proposta de jamais se levar a sério. Visto que Bruno Aleixo constitui um personagem assumidamente absurdo, o longa-metragem busca representar esta mistura de estupidez e vaidade que contamina os amigos da gangue. O projeto se nutre não apenas da metalinguagem e dos acenos à cinefilia, mas também desta aura ingênua das criaturas, que soam como misturas de adultos e adolescentes. O prazer oferecido pela trama é o mesmo das brincadeiras entre amigos, ou do faz de conta fundamental ao imaginário infantil. O Filme do Bruno Aleixo se situa numa construção sem obrigações com o realismo ou a verossimilhança: os personagens podem disparar a ideia que quiserem, sem freios. Nada parece tão impossível que não possa ser representado em imagens – e talvez sua única ousadia seja o fato de retratar mesmo as propostas mais patéticas dos colegas.

Por mais que esteja repleto de boas sacadas com o cinema – a sátira aos filmes dublados, à artificialidade dos diálogos no gênero policial, ao posicionamento de marcas nos roteiros comerciais – o resultado jamais oferece algo a mais do que um brainstorming de 92 minutos, um pequeno devaneio inconsequente. Esta poderia ser a oportunidade de levar o ewok para um novo caminho, revelando informações do passado ou introduzindo personagens, mas os diretores preferem se ater aos elementos consagrados, com o embate de diálogos nonsense entre figuras de intelectualidade limitada. Para o bem ou para o mal, o projeto oferece uma coleção de esquetes do Bruno Aleixo coladas umas após as outras, com uma fina argamassa unindo-as numa narrativa maior.

Filme visto na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2019.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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