Crítica
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Sinopse
Publicitário carioca, Paulo se muda a Brasília para cuidar da imagem de um senador em campanha de reeleição. Diante da ascensão de um político concorrente, ele se vê obrigado a tomar atitudes que afetam não apenas sua carreira, mas também a já tão conturbada vida conjugal com a jornalista Cris.
Crítica
O cinema brasileiro tem pouca afinidade com a política como assunto a ser desenvolvido ficcionalmente. Enquanto que nos Estados Unidos com frequência somos convidados a exercer um olhar sobre os bastidores dessa atividade, desde clássicos como Todos os Homens do Presidente (1976) ou obras mais passageiras, como Meu Querido Presidente (1995) – sem falar em sucessos recentes da televisão, como House of Cards (2013-) e Veep (2012-) – aqui no Brasil o máximo que encontramos são comédias escrachadas como O Candidato Honesto (2014), que tudo o que consegue é partir do contexto para exercer um deboche inconsistente. Por isso é necessário reconhecer a importância de um filme como O Fim e os Meios, que tem em Brasília e nos bastidores do poder nacional o cerne de sua ação, ainda que esta não se desenvolva de modo a envolver o espectador e trazê-lo ao debate proposto – há muito a ser denunciado e discutido, porém dedica-se pouco tempo a cada um destes itens, resultando em algo mais expositivo e menos reflexivo.
Os protagonistas de O Fim e os Meios são Paulo (Pedro Brício), um publicitário que acredita ter encontrado uma mina de ouro ao ser chamado para trabalhar na campanha eleitoral de um veterano senador (Emiliano Queiros), e Cris (Cíntia Rosa), uma jornalista investigativa ávida por se destacar dos demais colegas de profissão. Os dois se envolvem e, ainda no começo da trama, ela engravida. Tenta deixá-lo, mas o que sentem parece ser forte o suficiente para encararem juntos a nova situação. E assim se mudam, do Rio de Janeiro para Brasília, prontos para assumir seus novos trabalhos: ele ao lado do político, ela na sucursal de um grande jornal na capital federal. Mas há um outro elemento em cena, Hugo, personagem de Marco Ricca – chefe de Paulo, é o responsável pelas negociatas e armações com as quais se envolvem. Ele, ao mesmo tempo em que acompanha o calvário da esposa, Laura (Hermila Guedes), uma deputada que sofre de câncer e filha do poderoso senador – ambos são oposição um do outro – vai se aproximando do jovem casal, até o ponto de revelar seus verdadeiros interesses.
O maior problema de Murilo Salles é querer discutir muita coisa em tão pouco tempo. Como o próprio realizador afirma, todos os seus filmes anteriores eram políticos – característica bastante visível em títulos como Nunca Fomos Tão Felizes (1984), mas mais subjetivos em Nome Próprio (2007). Este, no entanto, foi seu último trabalho de ficção antes de O Fim e os Meios – quase uma década antes, e entre os dois o cineasta realizou apenas o documentário Aprendi a Jogar com Você (2013) – e ao voltar ao gênero, mesmo que sem as condições ideais – a produção foi feita com um orçamento abaixo do programado, em sistema de guerrilha – o diretor trouxe muito consigo, equivocando-se em alguns momentos em como ordenar esse tanto a ser dito. Em cena, há corrupção em larga escala, violência psicológica, a influência dos meios de comunicação, o coronelismo social no nordeste, o despreparo dos grandes centros urbanos para lidar com suas párias, o idílio de Brasília – uma cidade distante de tudo e todos – e o inevitável jogo da corda, que sempre acaba estourando no lado mais fraco. Elementos que, como bem sabemos, estão presentes cotidianamente na vida real, mas que para ganhar às telas precisam ser trabalhados harmonicamente, sem atropelos ou inseguranças.
Pedro Brício tem aqui a oportunidade de construir um personagem de verdade, ao contrário das participações estereotipadas que apresentou em títulos recentes como Muitos Homens num Só (2014) ou O Vendedor de Passados (2015). Ele, no entanto, há muito se mostrou melhor autor e diretor – em peças teatrais, principalmente – do que como intérprete, e aqui percebemos os motivos disso. Nada que beire o histrionismo da novata Cíntia Rosa, em seu primeiro papel como protagonista. A moça chegou a participar de títulos consagrados, como Tropa de Elite (2007) e Bróder (2011), mas nunca com a dimensão e importância que assume aqui. Essa demanda parece tê-la assustado, e o que vemos é uma atriz que parece nunca encontrar o tom exato que lhe é exigido. Diferente do que percebemos em atores mais veteranos, como Ricca, Guedes ou Queiros, que ainda que tenham participações menores, são eficientes para atrair o olhar do espectador, que se mantém atento aos rumos que empreendem.
O Fim e os Meios não é um filme ruim, mas também lhe falta aquela coragem ou determinação para se tornar, de fato, diferenciado. Um roteiro melhor trabalhado, que evitasse idas e vindas geográficas excessivas ou a descaracterização de alguns personagens, seria um ganho e tanto, assim como um maior preparo com o elenco, que denota a ausência de uma orientação mais específica. No entanto, talvez o maior problema esteja mesmo nas mãos de Salles, um realizador do qual muito se espera, menos frustração quando entrega algo que pouco consegue ir além da linha da mediocridade. Melhor fez Lúcia Murat com o pouco visto Doces Poderes (1997), longa cuja história se desenvolvia em ambientação similar, porém com um tom irônico mais acentuado e, por isso mesmo, de melhor efeito. Aqui, por outro lado, reina a indefinição entre o drama romântico, o thriller, a denúncia e a comédia de costumes, com muitos meios apontando para final algum.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 4 |
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