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Onde Assistir

Sinopse

Na Pérsia do século XI, Rob, um jovem cristão inglês que sonha ser médico, finge ser judeu para estudar em uma escola de Medicina que não aceita seguidores do cristianismo.

Crítica

Os problemas envolvendo a exibição da versão cinematográfica do romance de Noah Gordon no Brasil são tantos que é até complicado decidir por onde começar. Talvez pelo próprio batismo: afinal, a tradução literal do título original The Physician seria O Médico – uma escolha apropriada, afinal a história trata da jornada de um jovem inglês que, na época das Cruzadas, decide se aventurar até o Oriente Médio para aperfeiçoar o seu dom de cura. Ou seja, é um rapaz que quer aprender como ser... médico! Não há nada relacionado com a física envolvendo suas atividades. Porém, a causa dessa confusão é ainda anterior: cabe à Editora Rocco, responsável pelo lançamento do livro por aqui e que decidiu chamá-lo de O Físico, num exemplo clássico de falso cognato. Mas se fosse só isso, a reclamação seria mais uma curiosidade, ao invés da cereja de um bolo indigesto.

Quem for atrás das informações técnicas a respeito desse longa descobrirá que internacionalmente sua duração era de 150 minutos. A cópia lançada por aqui, no entanto, tem apenas 119 minutos, ou seja, cerca de 30 minutos de cortes foram feitos para se encaixar dentro de um formato mais comercial. Ainda que estes tenham sido feitos por um profissional da área – o mínimo de cuidado exibido num processo como esse – ainda assim sacrificou-se a integridade da obra, que chega mutilada até nós. E não é preciso ser nenhum gênio da lâmpada para se dar conta destas alterações: a narrativa é tão apressado, com pulos no tempo e passagens mal resolvidas e outras simplesmente superficiais que seria demais creditar todos estes percalços à inabilidade do diretor Philipp Stölzl ou ao roteiro esquemático de Jan Berger. Se por um lado é perceptível que estes profissionais não estavam à altura do desafio encarado, por outro fica evidente que o que já era ruim ficou ainda pior.

Lançado em 1986, o livro The Physician naufragou nas livrarias norte-americanas, mas encontrou um mercado bem mais favorável na Europa – na Espanha, por exemplo, chegou a ser apontado como “um dos dez melhores livros de todos os tempos”. Entende-se, portanto, porque foi preciso a formação de um pool de produtores europeus para que a adaptação cinematográfica ganhasse forma. Somos convidados a acompanhar os passos do jovem Rob Cole (o praticamente desconhecido Tom Payne) desde criança, quando perde a mãe vítima da “doença do lado” (nada mais do que um caso de apendicite), e o crescente interesse do menino pela área da saúde, principalmente após ser acolhido pelo Barbeiro (Stellan Skarsgard, mostrando-se disposto a participar de qualquer tipo de filme), um curandeiro de araque que vez que outra até dava uma dentro. Numa dessas andanças o rapaz acaba ouvindo falar da primeira escola de Medicina, e será atrás dela que partirá em busca desse sonho.

Sua jornada da Inglaterra até a Pérsia não se dará sem percalços, ainda que estes sejam diminuídos na versão nacional. Mas ele lá consegue chegar, e uma vez estudante, será acolhido pelo reitor Ibn Sina (Ben Kingsley, digno) e acaba até se tornando melhor amigo do sultão Shah Ala ad-Daula (Olivier Martinez). Um romance proibido e um surto de peste bubônica serão outros elementos que farão com que nosso protagonista mostre seu valor. Porém tudo se desenvolve tão dentro do esperado, sem envolvimento ou tensão, que a única coisa que resta à audiência é bocejar entediada. O Físico tem a seu dispor todos os elementos necessários para uma história épica. Surpreende, no entanto, perceber como eles vão sendo desperdiçados um a um, seja por um visual óbvio e artificial, por um ator principal inexperiente ou por um enredo que simplesmente parece nunca dizer a que veio. Aqui, mais do que nunca – e pelos mais diversos motivos – o velho clichê de que o livro é sempre melhor do que o filme parece cair como uma luva.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
4
Gabriel Pazini
6
MÉDIA
5

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