Crítica
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Sinopse
Uma das figuras mais cultuadas do bairro nova-iorquino do Harlem nos anos 1970, Frank Lucas era motorista de um dos maiores figurões do crime local. Com a morte do gângster, ele vê o caminho aberto para a sua ascensão.
Crítica
Ridley Scott é um diretor cuja carreira é cheia de altos e baixos. Aliás, olhando sua filmografia, é triste constatar que ele vem mais decepcionando do que criando obras realmente interessantes, e filmes como os recentes Prometheus (2012) e O Conselheiro do Crime (2013) comprovam isso, sendo produções que vão de razoável para menos. No entanto, Scott ainda é capaz de realizar trabalhos que façam jus ao início de sua carreira, quando dirigiu títulos como Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982). O Gângster é uma prova disso, sendo indubitavelmente o melhor filme que o cineasta fez nos últimos anos.
Com roteiro escrito por Steven Zaillian, baseado em um artigo de Mark Jacobson, O Gângster traz um arco dramático clássico de ascensão, apogeu e queda, contando a história real de Frank Lucas (Denzel Washington), que após a morte de seu chefe e mentor Bumpy Johnson (Clarence Williams III) se tornou um nome forte do crime na Nova York dos anos 1970. Lucas montou um império trazendo a “Magia Azul”, uma nova e poderosa heroína, para os Estados Unidos, usando aviões que vinham do Vietnã. Ao mesmo tempo, acompanhamos o policial Richie Roberts (Russell Crowe), que lidera uma equipe de colegas honestos como ele em uma tentativa de terminar com a circulação da droga.
Intercalando as trajetórias de seus dois personagens principais, Ridley Scott é hábil ao criar um belo contraponto entre eles. Se Frank ganha cada vez mais respeito de outras figuras poderosas e cresce nos negócios, além de valorizar sua família, Richie tem uma vida complicada, sendo um policial incorruptível (em determinado momento, recusa uma bela quantia em dinheiro que achou durante uma de suas investigações, o que vira uma espécie de piada no filme) e, por isso, nada confiável perante boa parte de seus colegas. Além disso, ainda luta com a ex-esposa Laurie (Carla Gugino) pela guarda do filho. O design de produção também contribui muito para este contraste, tornando a casa de Frank um lugar bastante harmonioso, enquanto Richie fica em um lugar precário e bagunçado, refletindo o fato dele ligar mais para o próprio trabalho do que para o modo como leva sua vida.
No entanto, é mesmo com Frank que O Gângster acaba prendendo a atenção, já que o sujeito se revela absolutamente fascinante, sendo o tipo de personagem com o qual simpatizamos mesmo com todos os crimes que comete. Isso que estamos falando de um cara que mata um desafeto a sangue frio no meio da rua, diante de várias pessoas. De certa forma, acabamos virando cúmplices dos seus atos, e até por isso lamentamos quando ele faz algo que vai contra seus princípios e dá início a sua queda. Mas em momento algum o roteiro tenta redimir os atos do protagonista, chegando ao ponto de trazer uma sequência que mostra o estrago que a “Magia Azul” vem causando em seus usuários, enquanto ele está com a família aproveitando tranquilamente o Dia de Ação de Graças.
É claro que boa parte do envolvimento do público com Frank se deve a estupenda atuação de Denzel Washington. Fazendo do personagem uma figura elegante e carismática, mas fria sempre que isso se mostra necessário, Washington tem uma composição que torna Frank um tipo bastante complexo (como ele ficou de fora do Oscar daquele ano é difícil de compreender). Enquanto isso, Russell Crowe encarna a integridade de Richie Roberts com propriedade, mas há de se ressaltar que enquanto que a investigação que faz com sua equipe é muito interessante, o mesmo não pode ser dito sobre a subtrama familiar dele, pois se afasta demais do enredo principal e é resolvida de um jeito simplista. Já o resto do elenco se revela bastante competente, com destaques a Josh Brolin (que na época estava começando a se tornar um ator requisitado) como o corrupto detetive Trupo, Chiwetel Ejiofor como o irmão de Frank, e Ruby Dee como Mama Lucas, que protagoniza ao lado de Denzel Washington uma das melhores cenas do filme, quando ela faz com que o filho mude de ideia quanto a matar alguém.
Envolvente ao longo de suas quase três horas de duração (isso se formos assistir a versão do diretor, já que a do cinema tem quase 30 minutos a menos), O Gângster é o tipo de filme que qualquer admirador de Ridley Scott gosta de ver o diretor fazendo. E esperemos que ele volte logo a lançar obras desse nível.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Thomas Boeira | 8 |
Ailton Monteiro | 6 |
Suzana Uchôa Itiberê | 7 |
Miguel Barbieri | 6 |
MÉDIA | 6.8 |
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