Crítica
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Sinopse
O rabino Sfar vive com sua filha, Zlabya. O gato deles devora um papagaio e se transforma num felino tagarela.
Crítica
Chega a ser engraçado o rumo que as animações tomaram do início da década de 1990 para cá: se na época a Disney, principalmente, transportava seus espectadores para um mundo de fantasia com histórias de moral e ética estabelecidos de uma forma conservadora (e não menos inteligentes e divertidas, vale ressaltar), os contos de fada foram sendo desmitificados aos poucos com obras irônicas como Shrek (2001), Os Incríveis (2004), Wall-E (2008) – os dois últimos da própria parceira do estúdio do Mickey, a Pixar – entre tantas outras de origem fora do eixo norte-americano, como Persépolis (2007), para citar somente um. Mesmo assim, poucas vezes o sarcasmo foi realçado de forma tão divertida para retratar um dos temas mais complexos da humanidade, a religião, quanto neste O Gato do Rabino.
A produção franco-austríaca e vencedora do César 2012 (o Oscar francês) de melhor animação é baseada numa série de cinco histórias em quadrinhos premiadas pelo mundo. A autoria é de Joann Sfar, mesmo cineasta do ótimo Gainsbourg: O Homem que Amava as Mulheres (2010), agora co-dirigindo o novo trabalho ao lado de Antoine Delesvaux. Essa animação se passa na Argélia dos anos 1920, onde o gato sem nome, conhecido apenas como sendo do rabino Sfar, é apaixonado pela filha de seu dono, Zlabya. O detalhe é que o bichano começa a falar depois que engole um papagaio e tenta aprender mais sobre o judaísmo. E eis que o deboche, mesmo que de forma leve em boa parte da história, começa a dar suas cutucadas, deixando a paixão um pouco para trás para fazer um paralelo entre algumas das doutrinas mais conhecidas do mundo. Afinal, a região em que se passa o longa é uma cidade de origem judaica, com predominância muçulmana e influência católica.
Se já não bastasse a interessante premissa, a produção ainda conta com uma das mais belas animações vistas no cinema recentemente, diferente da maioria dos filmes do gênero. Uma forma clássica e oriental, que ora remete a hieroglifos do Egito Antigo, passando pelo tom das HQs europeias (o que já é a origem dos contos do gato) como também lembra desenhos feitos por uma talentosa criança do jardim de infância. Sem contar as paisagens, que parecem saídas de um museu de arte tamanha a perfeição e, ao mesmo tempo, simplicidade com que são retratadas.
O Gato do Rabino consegue ir além das fronteiras impostas pelos conflitos ideológicos e vai até à África, mas é neste ponto que o longa parece se perder um pouco, agregando personagens demais e reduzindo a história aos diálogos. O que por um lado é ótimo, pois as conversas com citações de diferentes religiões são tratadas de forma respeitosa e irônica ao mesmo tempo. E eis que que a narrativa consegue atingir seu objetivo principal: discutir as diferentes formas de fé e o que queremos com ela de forma única e sem questões polêmicas como guerra e disputa de território, mas sim cutucando na raiz de cada uma. Algo universal, que só uma animação consegue transmitir. No fim das contas, é uma história de amor. Seja através da devoção a um deus ou a uma bela dona.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 9 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 7.5 |
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