Crítica
Leitores
Sinopse
O Professor James Murray está no comando de um dos maiores projetos do mundo: a criação do Dicionário Oxford. Uma tarefa hercúlea, que requer um esforço de muitos homens. No entanto, a ajuda decisiva virá de onde ele menos espera: o Doutor W.C. Minor, que contribuiu com mais de 10.000 verbetes, mesmo estando internado em um hospício para criminosos.
Crítica
Curioso o título que esse filme recebeu no Brasil. Afinal, existem, de fato, dois protagonistas. Porém, se o Dr. James Murray assumiu o desafio, na metade do século XIX, de reunir todas as palavras da língua inglesa, dando a elas não apenas o seu significado, mas também um estudo sobre suas origens, foi o Dr. William Minor que não apenas conseguiu dar o empurrão necessário para que tal tarefa fosse adiante, como também o fez do mais improvável dos lugares: de uma instituição para criminosos insanos. Ou seja, o primeiro era um estudioso, mas o segundo é que, de fato, pode ser chamado tanto de genial, quanto de maluco. Portanto, melhor do que O Gênio e o Louco, mais apropriado teria sido O Gênio é Louco – ou, como é no batismo original, O Professor e o Louco.
Enfim, por mais que o trailer tente aparentar outra coisa, e o nome de dois astros vencedores do Oscar à frente do elenco deem a impressão de se tratar de algo mais emocionante do que de fato é, há uma verdade da qual não se pode escapar: este é um filme que se ocupa de narrar a ordenação de um vocabulário – e nem é o nosso, e, sim, o inglês. E se o ditado já diz que ‘nada é mais chato do que ler um dicionário’, imagina a história de como um foi feito. Projeto dos sonhos de Mel Gibson – um artista cuja carreira é repleta de altos e baixos – o australiano (apesar de ter nascido em Nova York, EUA) surge como Murray, o autoditada que assumiu essa responsabilidade junto aos catedráticos que há muito lutavam para dar início, ainda que não tivessem tido êxito até aquele momento. Porém, mesmo com a ajuda de auxiliares, antes mesmo de dar conta de todos os léxicos da letra A (estava na palavra “Arte”, para se ter ideia), ele acaba por se dar por vencido, sem saber como continuar. Ou seja, nada muito ‘brilhante’ em sua contribuição, ou ao menos não mais do aqueles que o antecederam.
É neste ponto em que esta trajetória se cruza com a de Minor (Sean Penn, exagerado, denotado uma evidente falta de direção), alguém que o espectador é convidado a acompanhar desde o começo da trama, ainda que ambos pareçam estar em posições bem distantes. Ex-militar, voltou traumatizado da guerra, crente que havia sido jurado de morte por um dos seus condenados – um homem já morto, portanto. Para fugir do fantasma que o perseguia, decide se mudar para Londres, onde acaba matando um inocente por engano – por acreditar que se tratava do mesmo que, supostamente, seguiria lhe assombrando. Ao invés de ser condenado à prisão, é enviado para um sanatório, dada a sua evidente insanidade. E é lá, com muito tempo de sobra e com diversos livros à sua disposição, é que acaba por estabelecer a colaboração necessária para que o projeto de Murray não naufragasse.
É curioso como esse roteiro, escrito a seis mãos – entre elas, as do consagrado John Boorman, indicado ao Oscar por Amargo Pesadelo (1972) e por Esperança e Glória (1987) – e sob o comando do novato Farhad Safinia (parceiro de Gibson desde que serviu de roteirista para o épico Apocalypto, 2006) pode se revelar tão desajeitado. Cada vez que Minor ganha o centro da ação, o que se verifica de forma constante é a necessidade de oferecer mais informações do que o necessário, muitas delas incompletas. Afinal, bastava salvar um dos seguranças do asilo durante um acidente para se tornar o queridinho de todos? Por que o diretor da instituição (Stephen Dillane) lhe dava tanta atenção? Qual o sentido de forçar uma relação – ainda que platônica – entre ele e a viúva do falecido (Natalie Dormer)? E o mais importante: em que sentido a colaboração dele com Murray foi tão decisiva? Fora apenas uma questão de quantidade – ele era mais rápido do que a equipe do professor? – ou também de qualidade – era, de fato, mais genial do que os outros?
Sobre Murray, sabemos apenas ser de personalidade obstinada e patriarca de uma família que abraça suas decisões sem muito questionar. O que ele teria de diferente e o que o motivou a assumir tal desafio, bom, disso pouco se investiga. Assim, Mel Gibson passa pelo filme como uma figura de presença determinante, mas nunca incisivo quanto às suas motivações. Porém, é importante o aviso: ele e Safinia romperam com os produtores próximo ao fim das filmagens, pois esses, já com o orçamento estourado, se recusaram a filmar na própria Universidade de Oxford. Com isso, os dois se retirarem do projeto e se recusaram a promovê-lo. O resultado dessa decisão se percebe em cena: apesar dos dois terços iniciais serem de progressão claudicante, atento aos detalhes (muitos desnecessários) e revelando um cuidado até exagerado com os personagens, o final é apressado, numa sequência de eventos atropelados que pouco colaboram com tudo que vinha sendo exposto até então. Para completar, uma ironia da vida real – e isso não chega a ser nenhum spoiler: nenhum dos dois homens chegou a viver para entregar o dicionário pronto. Ou seja, ficaram pela metade do caminho, assim como este filme, que até promete mais do que contém, mas não atinge nem mesmo aquilo que parecia estar ao alcance.
Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)
- Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia - 29 de outubro de 2024
- Maria Callas - 28 de outubro de 2024
- Piano de Família - 28 de outubro de 2024
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Roberto Cunha | 6 |
MÉDIA | 5 |
Achei maravilhoso