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Sinopse

A vida e a obra de Evangelista Ignácio de Oliveira, cientista e inventor nascido em Serra Talhada, no Pernambuco.

Crítica

Se já foi dito mais de uma vez que o maior problema do Brasil são os brasileiros, felizmente volta e meia surgem filmes como O Gigantesco Imã para indicar o contrário. O documentário dirigido por Petrônio Lorena e Tiago Scorza tem como foco uma pessoa em particular: Evangelista Ignácio de Oliveira, um pernambucano octogenário de espírito tão inquieto que pautou sua vida em ir além daquilo que lhe era dado como certo e investigar as possibilidades além daquelas mais evidentes. Essa curiosidade incansável se reflete no comportamento criativo de inventar novas utilidades para os objetos mais simples, como engrenagens, lâmpadas e rádios antigos, como também em formatar algo inédito a partir da junção de peças aparentemente sem utilidade. Um homem, portanto, que não se acomoda com o cenário que lhe é oferecido, uma lição que serve tanto para o cinema quanto para o nosso dia a dia.

Petrônio Lorena faz parte do coletivo musical Petrônio e as Criaturas, enquanto que Tiago Scorza tem uma formação mais voltada ao cinema. Os dois se uniram pela primeira vez para realizarem o curta-metragem O Som da Luz do Trovão (2005), que já se ocupava em resgatar a trajetória deste mesmo personagem. Deste então, uma década se passou, e este período foi ocupado ao lado de Evangelista, registrando suas mais diversas criações, seu cotidiano, ouvindo seus depoimentos e declarações de amigos, familiares e colegas. Não no formato mais tradicional do cinema documental, com declarações formais em frente à câmera: pelo contrário, mantém-se o tempo todo em movimento, acompanhando-o em suas andanças diárias, mostrando-o mesmo com a idade avançada, como um personagem que não está nem um pouco disposto a abandonar a prática que sempre lhe deu prazer: reinventar o ordinário.

Evangelista é ele próprio o gigantesco imã do título, sempre agrupamento ideias e companheiros em seus projetos, por mais malucos que aparentem ser à primeira vista. No começo o vemos investigando fenômenos químicos até bastante simples, mas que em feiras pelo interior do país são mais do que suficientes para garantir interesse geral. Aos poucos percebemos que sua curiosidade vai além, desde elaborar rádios amadores, dar novas funções à aparelhos celulares, se aventurar pelo mundo do cinema e das armas de fogo, até se arriscar em asas delta pioneiras e investir tempo e trabalho em um protótipo de carro elétrico que só não vai longe por um motivo óbvio: o fio não pode se desligar da tomada. Ideias bacanas, mas amadoras, e que de um modo ou de outro acabam empacando por falta de apoio ou incentivos.

Um dos amigos de Evangelista explica bem a situação: “a legislação brasileira é elaborada para favorecer os estrangeiros e dificultar qualquer iniciativa local”. E é o que vemos durante todo o filme: propostas que poderiam render caso fossem industrializadas, mas que não vão adiante simplesmente pela falta de interesse de quem investisse nelas. Percebido mais como uma figura exótica do que como um empreendedor, é de se perguntar quantos Evangelistas estão espalhados pelo país e, tal qual esse, passam desapercebidos da grande mídia. Petrônio e Tiago fazem um favor ao virarem suas atenções a uma história tão singular quanto múltipla. Parece ser um caso isolado, mas há um país inteiro em discussão neste exemplo. Uma reflexão tão justa quanto necessária.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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