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Sinopse

Estados Unidos, 1922. Nick chega a Nova Iorque e se torna vizinho do excêntrico Jay Gatsby. O novato é atraído por um mundo repleto de riquezas, ilusões, desamores, fraudes e traições.

Crítica

Os Estados Unidos do início dos anos 1920 era uma terra de abundância e prosperidade. Este é também o cenário do romance O Grande Gatsby, escrito por F. Scott Fitzgerald em 1924, bem no auge deste período orgástico. Nada melhor, portanto, do que um diretor dado a excessos como Baz Luhrmann para promover sua volta às telas – afinal, trata-se da quarta versão cinematográfica deste texto. A anterior, de 1974, segue como a mais emblemática, mas esta possui alguns méritos inegáveis, ainda que os mesmos se percam diante tantas repetições pálidas e desprovidas de maiores inspirações em relação ao texto original. Nem mesmo o 3D, tão badalado, se justifica. Refazer um clássico não é uma tarefa das mais simples, e é preciso um motivo para tanto. O maior pecado deste novo longa é justamente esse: a ausência de um porquê.

Luhrmann é um cineasta que conquistou o público justamente ao se defrontar com uma trama universalmente conhecida: Romeu + Julieta (1996), que deu um novo vigor e modernidade à trama shakespeariana e marcou sua primeira parceria com Leonardo DiCaprio – na época, ainda um pré-astro. Seus filmes anteriores encantavam pelo mundo único e deslumbrante que apresentavam, em especial seu trabalho mais bem-sucedido: o musical Moulin Rouge (2001), que chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme. Em O Grande Gatsby, no entanto, ele apenas refaz o que já fora executado antes – e, para piorar, na maioria das vezes por ele mesmo. Não se trata de uma releitura, e sim de uma refilmagem, quase idêntica às anteriores, repetindo diálogos emblemáticos palavra por palavra (“estou deitada neste sofá há séculos”; “garotas ricas não casam com rapazes pobres”). O máximo que aqui acontece é a mudança apenas de alguns detalhes, aqui e ali, sem repercussões mais profundas. Uma boa comparação é a desastrada versão de Psicose (1998) feita por Gus Van Sant. A sensação de engodo e desperdício é praticamente igual.

Gatsby talvez seja um dos personagens mais interessantes criados pela literatura americana no último século. Ele surge enigmático, dono de uma mansão exuberante e oferecendo festas que são verdadeiras orgias, às quais todos comparecem, com exceção dele próprio. Nos aproximamos deste tipo misterioso ao mesmo tempo em que ele se faz conhecer ao vizinho, Nick Carraway, um jovem corretor da bolsa de valores cujo único valor é ser primo da bela Daisy Buchanan, o verdadeiro amor perdido de Gatsby, e aquela que ele está determinado a reconquistar. Mas a garota já é casada, com o milionário Tom Buchanan, que apesar de suas amantes aqui e ali sempre volta à casa, como ele mesmo faz questão de afirmar. Mas será um marido traído e condoído pela dor da perda que colocará um ponto final trágico a esta história.

É no primeiro terço do enredo do novo O Grande Gatsby que Luhrmann mostra o seu melhor. Adentramos neste mundo inebriante tal qual os personagens, e por ele nos encantamos e deixamos levar. Mas isso passa logo, e o que vem no seu lugar é um drama romântico sem muito fundamento. Nunca fica claramente perceptível o motivo da obsessão de Gatsby por Daisy – uma mulher frívola e apagada, sem grandes luzes – assim como somos mantidos afastados da sua verdadeira faceta, a origem da sua fortuna e os verdadeiros interesses por trás de cada gesto ou palavra. A vontade de crítica social, se é que existe, se perde nos adereços e se esvai pela falta de um foco maior no material original.

Os atores escolhidos também não colaboram. Tobey Maguire, como o ingênuo narrador Carraway, mais uma vez aparece como um mero observador, como tantas outras vezes já interpretou em sua carreira. Carey Mulligan segue sendo uma Daisy tão apagada quanto Mia Farrow foi na versão anterior. Joel Edgerton, uma revelação australiana vista em trabalhos como Guerreiro (2011) e A Hora Mais Escura (2012), é o ponto forte em cena como Tom Buchanan, estabelecendo um contraponto à altura do magnetismo que Leonardo DiCaprio, o Gatsby da vez, tenta imprimir, porém falha em sua plenitude. Tudo o que era natural à Robert Redford na versão de 1974 lhe soa forçado agora – um bom exemplo é a cena do chá, quando os protagonistas se reencontram pela primeira vez, que mais parece um pastelão cômico do que o embate romântico desejado.

Mas o verdadeiro culpado da frustração gerada por este O Grande Gatsby é mesmo Baz Luhrmann, que não amadureceu enquanto cineasta. Até inovações que ele tenta aplicar, como o fato da história ser narrada por um escritor durante a feitura de um livro, soa como déjà vu (afinal, já vimos isso no citado Moulin Rouge, não?). Chega a ser curioso perceber a ausência de Francis Ford Coppola (autor do roteiro da versão de 1974) nos créditos de agora, já que tanto é copiado sem nenhum acréscimo verdadeiramente interessante. Se a trilha sonora soa contagiante – sai o jazz, entra o hip hop – a fotografia segue com os mesmos maneirismos característicos do diretor, e estes são apenas alguns dos exemplos que revelam um trabalho exagerado, que fala muito mas diz tão pouco.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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