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Sinopse

O ex-apenado Johnny Clay pretende montar um plano perfeito para se dar bem. Com seus comparsas, ele trama a ideia de assaltar um hipódromo. Tudo tem de funcionar milimetricamente para isso acontecer.

Crítica

Filmes sobre assaltos são quase um gênero à parte. E se hoje se tornaram algo relativamente comum (basta lembrar do recente Truque de Mestre, 2013), foi na metade do século passado que suas principais bases foram estabelecidas, dando origem aos elementos que se tornariam clichês devido às repetições excessivas nos anos seguintes. Stanley Kubrick fez sua parte neste processo com O Grande Golpe, seu terceiro longa-metragem e o último da primeira fase de sua carreira, composta por títulos mais convencionais – em conteúdo, porém não em forma – que serviram basicamente para explorar seu potencial enquanto cineasta. Exatamente, portanto, o que é feito aqui: parte-se de um ambiente reconhecido pelos espectadores, para, então, reinventá-lo a partir do olhar inquieto de um diretor comprometido com sua criatividade.

As primeiras cenas revelam o cenário onde se desenvolverá a artimanha a ser executada por um time de trapaceiros: o hipódromo, ambiente de corridas de cavalos, jogos milionários, viciados desesperados e a mais variada corja de tipos suspeitos. Johnny Clay (Sterling Hayden, que trabalharia novamente com Kubrick em Dr. Fantástico, 1964) acabou de sair da prisão após passar cinco anos atrás das grades, período suficiente para elaborar o golpe perfeito: roubar a féria de um dia de apostas. Para tanto, contará com uma galeria diversa de comparsas: o lutador profissional que deverá criar uma confusão para distrair a polícia; o atirador que, à distância, irá acertar o cavalo favorito dos apostadores, eliminando-o da competição; o policial corrupto e cheio de dívidas que dará um jeito de retirar o dinheiro roubado do local; o atendente do bar envolvido apenas para conseguir ajudar a mulher doente com o lucro da sua parte; o senhor que investirá o necessário para que o plano funcione; e, por fim, mas não menos importante, o caixa que controla os valores dos apostadores e que permitirá o acesso do líder ao cofre central.

Esse último, interpretado pelo veterano Elisha Cook (o tio de Marilyn Monroe em Almas Desesperadas, 1952), é o ponto frágil do grupo – e também o de maior interesse para o espectador. Será ele que irá apresentar à audiência um dos personagens mais característicos do gênero noir: a dama fatal. Esta é representada por sua esposa (Marie Windsor), que o despreza até o momento em que fica sabendo de sua participação do golpe e, visualizando o quanto poderá ganhar com isso, corre para dividir a novidade com o amante mais jovem e galante. Assim como cada um dos diretamente envolvidos possui seu próprio motivo para participar dessa arriscada ação, estes dois também passam a sonhar com o que poderão receber. Kubrick, no entanto, não está interessado particularmente em nenhuma das figuras dramáticas que criou. Sua visão está no todo, e isso é perceptível pelo modo impiedoso como os tira de cena à revelia, ao mesmo tempo em que não os perdoa por qualquer passo em falso que possam dar. O importante é observar quem conseguirá chegar até o final do planejado – se é que algum deles terá tamanha sorte!

Indicado ao BAFTA – o Oscar inglês – como Melhor Filme, este foi o longa que definiu Stanley Kubrick como autor, ao invés de um mero realizador cinematográfico. Se a trama em si não é inovadora, muito da curiosidade que o projeto desperta é justificada pelo formato com o qual o cineasta optou por apresentá-la. A montagem, repleta de idas e vindas no tempo, até hoje se destaca, inclusive tendo sido apontada por Quentin Tarantino como principal influência para seus primeiros trabalhos, como Cães de Aluguel (1992) e Pulp Fiction - Tempo de Violência (1994). O resultado impressionou também na época, conquistando, entre outros, a atenção do astro Kirk Douglas – que viria a ser o protagonista dos dois próximos projetos de Kubrick, Glória Feita de Sangue (1957) e Spartacus (1960). E se o resto é história, essa deu seu primeiro passo de verdade com O Grande Golpe!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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