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Crítica


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Sinopse

Marcus Luttrell, um oficial da marinha norte-americana, é enviado ao Afeganistão em busca de um homem de confiança de Osama Bin Laden. Quando se depara com um homem idoso e três crianças, recebe ordens para matar os quatro, mas não tem coragem de fazê-lo. O paradeiro dos americanos é descoberto e logo a equipe é atacada por 250 homens armados enviados pela Al Qaeda.

Crítica

Se o público ficou chocado com a forma brutal do treinamento dos policias do BOPE em Tropa de Elite (2007), tem tudo para repetir o susto no início de O Grande Herói. A forma como os Navy SEALS dos Estados Unidos são preparados para as batalhas não perde em nada para o que testemunhamos com Capitão Nascimento e companhia. Parece ser ainda pior. Os primeiros minutos do novo longa-metragem de Peter Berg tem a pretensão de deixar o espectador preparado para o que verá em seguida e para entender pelo o que aqueles soldados passam antes de estarem frente a frente com o inimigo.

O roteiro é assinado por Peter Berg, baseado no livro de Patrick Robinson e Marcus Luttrell – este, o único sobrevivente da missão retratada no filme, como bem fala o título original, Lone Survivor. Luttrell (Mark Wahlberg) e seus companheiros têm a missão de capturar (ou matar) um dos chefes do Talibã Ahmad Shah e partem para o local onde a Inteligência diz que o sujeito poderia estar. Chegando lá, os SEALS comandados por Michael Murphy (Taylor Kitsch) encontram seu alvo, mas a presença de civis acaba atrapalhando os planos do pelotão, que se vê obrigado a neutralizá-los. Começa então uma discussão entre os soldados. Se os civis forem libertados, poderão avisar os talibãs da presença de americanos e ameaçar a vida dos soldados. Mas mata-los iria contra as leis de guerra, que proíbe a execução de prisioneiros civis. Luttrell é absolutamente contra esta segunda opção, mas seus companheiros Danny Dietz (Emile Hirsch) e Axe (Ben Foster) não têm dúvidas de que morrerão caso aquelas pessoas sejam libertadas. Murphy, como comandante que é, resolve a questão, deixando os civis irem embora. Aquele, no entanto, selaria o destino daqueles jovens soldados.

Único Sobrevivente seria um título em português mais apropriado do que O Grande Herói. Ainda que acompanhemos muitos momentos de bravura daquele pelotão, a tarja de herói soa ufanista demais em um filme que consegue fugir das armadilhas fáceis de longas-metragens de guerra. E para comentar melhor isto, os SPOILERS são necessários. Portanto, se você ainda não assistiu ao filme e não quer saber o desenrolar da história, pule para o próximo parágrafo. Surpreende o fato de que o protagonista da trama – o “grande herói” do nosso título no Brasil – seja salvo por figuras que seriam, em primeira análise, o inimigo. Por este fato sozinho, o longa de Peter Berg se sobressai dos demais. O personagem de Mark Wahlberg não cansa em perguntar aos seus salvadores, o povo de um pequeno vilarejo, o porquê das atitudes amistosas para com ele. Isso é lógico. Para o soldado americano, ou talvez para muitos dos espectadores, todo mundo que mora no Afeganistão é um inimigo em potencial. E isso está longe de ser correto. Existem muitos que são contra o Talibã e se não lutam contra, não o fazem por medo de represálias. Aquelas figuras que salvam Luttrell cansaram daquela violência e, como o filme explica, são movidos por um juramento que protege seus visitantes. Uma prova de que uma mão amiga aparece nos locais onde menos se espera.

E tudo isso aconteceu realmente? O filme é baseado em fatos reais e muitos artigos apontam diversas incoerências e inverdades sobre o que de fato ocorreu com Luttrell e seus companheiros. Aos propósitos desta crítica, isso importa pouco. O que vemos ali é um filme de ficção e dentro do universo em que ele apresenta sua trama, tudo se encaixa. Adaptações são feitas, afinal de contas. Pode não ser uma transposição fidedigna dos fatos, mas serve como um ótimo thriller de ação. Quem lembra dos minutos iniciais de O Resgate do Soldado Ryan (1998) e toda a agonia e aflição da chegada dos soldados no dia D terá uma boa surpresa ao conferir O Grande Herói, guardadas as devidas proporções. O que sofrem aqueles quatro soldados com o ataque dos talibãs é impressionante. Peter Berg consegue manter o ritmo e deixar o espectador grudado na cadeira com ótimas sequencias. O filme foi lembrado em duas categorias técnicas no Oscar (Mixagem e Edição de Som) e é notável o esmero da produção nestes quesitos. Em um bom cinema ou com um home theater potente, o espectador se sentirá no meio do combate. Balas zunindo em seus ouvidos.

O elenco tem bons nomes, com destaque para Mark Wahlberg e Ben Foster, com uma eficiente participação de Eric Bana como o comandante das operações. O filme falha, no entanto, em conseguir desenvolver aqueles personagens de forma mais orgânica. Berg parece acreditar que apenas colocar algumas frases soltas do passado dos soldados, ou anedotas sobre cavalos e namoradas, faça com que entendamos melhor quem são aqueles sujeitos. Não funciona assim. De qualquer forma, o resultado final é positivo e deve agradar aos fãs de um bom filme de guerra.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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